domingo, 9 de março de 2008
A acção colectiva e as suas lógicas
À falta de melhor, e revelando a extensão da guinada à direita do «socialismo moderno», Vital Moreira faz uso da «lógica da acção colectiva» de Mancur Olson para diminuir o alcance do justo protesto dos professores. Segundo Mancur Olson, inspirador de uma das mais eficazes linhas de ataque neoliberal aos pilares fundamentais do Estado Social, o comportamento dos indivíduos é redutível ao egoísmo racional. Nada mais conta. Assim, só grupos pequenos e com incentivos bem circunscritos conseguiriam mobilizar-se e impor as suas reivindicações. Isto geraria uma assimetria entre minorias egoístas e uma imensa «maioria silenciosa», igualmente egoísta, mas com interesses difusos e desprotegidos. As hipóteses da «lógica da acção colectiva» caem felizmente por terra quando temos cem mil professores nas ruas de Lisboa em defesa da escola pública. Um professor egoísta teria preferido ficar em casa, esperando colher os «benefícios» que podem resultar dos protestos dos outros, sem ter que suportar os «custos» de participação em manifestações. As referências ideológicas dos intelectuais orgânicos do «socialismo moderno» são assim reveladoras e muito redutoras. Desaparecem da sua análise elementos cruciais como a dignidade e a ética profissionais, violentadas por uma prática governamental que apenas confia nas virtudes do comando, do controlo e dos incentivos pecuniários, e as motivações intrínsecas de tantos que dão o seu melhor na escola pública perante uma ministra que tudo fez para que o seu esforço crucial se tornasse cada vez mais invisível. A esmagadora maioria dos professores revelou ontem uma consciência aguda dos perigos de uma política ancorada em concepções tão estreitas da acção humana.
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19 comentários:
E agora só precisam de não se deixar enganar pelos artistas de maquilhagem que são a Sra. Ministra e o PM.
Às televisões mostram-se inexpugnáveis mas já devem estar a seguir os "sábios conselhos" de Ricardo Costa que se prestou ao ridículo papel de "leal conselheiro". E mesmo o Prof. Marcelo (conhecedor da trica política como é) "desmascarou" o caminho a seguir pelo Governo.
Por mim tudo bem! se quiserem continuar a sua “implementação-à-traulitada-do-modelo-de-avaliação”, nós, professores, também estamos dispostos a continuar o nosso luto e a nossa luta! E nem um nem outra terminaram ontem.
“Não percam os próximos episódios porque nós também não!”
Vital Moreira é independente, o que este escreveria e diria se não fosse...
Vamos por pontos:
(1)Existe uma ponta de verdade na mentira de Vital Moreira, efectivamente os grupos profissionais, em geral, possuem estratégias melhores e mais fortes mecanismos de organização quando comparadas com sectores heterogéneos da sociedade, neste caso, das palavras de Vital depreende-se que se fala da sociedade civil em geral.
(2)Só que Vital parte do pressuposto errado que as reivindicações de sectores profissionais são sempre contraproducentes com o interesse da comunidade em geral. O que a ser correcto assenta numa total descredibilização das instituições democráticas, como poderia ser legitimado o poder político, a justiça, a educação, etc mantendo-se esse pressuposto. Esquece-se também, que a comunidade em geral também estará inserida noutros sectores profissionais e que poderá também ter as suas reivindicações.
(3)É mais que legítimo e pilar da democracia o direito de organização sindical, é uma forma legitimada pelas democracias para reivindicar direitos e contestar ordens superiores que pareçam injustas. Obviamente, isto é incómodo para um regime totalitário ou autoritário, mas não o devia ser para um governo PS.
(4)Não são as organizações sindicais e profissionais que minam a democracia, pelo contrário, são as organizações não democráticas que influenciam as decisões políticas por mecanismos não democráticos. Maravilhoso era para a democracia, se a classe patronal e os interesses privados se sindicalizassem, se se organizassem de forma democrática para reivindicar os seus direitos. Mas não é isso que acontece, o poder patronal e os grupos de interesses privados contornam a democracia e usam relações fortes e promiscuas com o poder político para ver a sua vontade feita política, isso sim é anti-democrático, isso sim encaixa na realidade de que "...só grupos pequenos e com incentivos bem circunscritos conseguiriam mobilizar-se e impor as suas reivindicações."
(5)O sindicalismo não é uma afronta à democracia, é antes uma conquista da mesma e é mais forte nos países democraticamente mais evoluídos (países nórdicos).
(6)Por outro lado, Vital Moreira trai-se, dando a entender que existe uma vontade generalizada na sociedade civil de apoiar as reformas mesmo sabendo que estas são claramente indesejadas pela classe docente. Está aqui reeditada a luta contra a classe docente, que o governo e Ministério de Educação começaram e agora querem fingir que nunca existiu.
(7) Este governo até fez apologia da concertação social feitas com sindicatos noutros campos, aí até fez questão de salientar a presença dos mesmos. Só quando estes sindicatos contrariam a sua vontade, é que o sindicalismo ganha as proporções desajustadas e anti-democráticas.
Quero só dar aqui uma resposta ao Sr. Rui Maio, que para além de "professor", é um bocado arrogante, como bom corporativista, de costas quentes.
Este senhor fala assim porque é empregado do Estado, não tem responsabilidades, não tem a quem responder nem a quem prestar contas, só tem direitos e regalias.
Depois, está muito convencido da teoria do prof. Marcelo.
Mas eu quero-lhe dizer uma coisa. Se por acaso, os professores boicotarem decisões dos superiores hierárquicos (isso cá fora dava despedimento, como deve saber, mas o Estado para os inuteis é uma grande coisa ) e se se recusarem a fazerem as avaliações há um caminho fácil de seguir : corrê-los todos a mediocre e não haveria aumentos para ninguém, nem progressões.
Este professorzeco (não é a ministra que o apelida assim, sou eu, contribuinte liquido do estado) para haver aumentos e progressões na carreira, nós, os portugueses contribuintes, temos de ter a certeza de quem tem mérito para isso.
No seu caso, por exemplo, duvido muito que o tenha.
E o Vital nao sabe que o interesse privado na "logica da accao colectiva" tambem se aplica aos politicos e 'a sua corte de analistas? Alias, que se aplica sobretudo a eles...
Pedro Henriques:
São pessoas como você que enobrecem a causa dos professores, são pessoas como você que demonstram que o ensino "falhou" na formação de seres humanos.
"Por azar", o meu colega Rui Maio, nem sequer trabalha para o Estado, mas vá lá, não desperdice esse ódio todo...podia ser canalizado para coisas úteis.
Mas já agora até me vou dar ao trabalho de desmontar os seus argumentozecos, apesar de eles em toda a linha passarem completamente ao lado da verdadeira essência das reformas.
"Este senhor fala assim porque é empregado do Estado, não tem responsabilidades, não tem a quem responder nem a quem prestar contas, só tem direitos e regalias.
Não, não é. Trabalha para o sector privado. E se trabalhasse no público, tinha sim a quem responder, teria de elaborar relatórios e teria justificar a avaliação dos alunos. No sector privado por sua vez, existem avaliações tão boas e rigorosas que muitas vezes os altos cargos são ocupados por familiares do patrão, este sistema rigoroso permite que não exista nas empresas democracia mas sim uma monarquia onde a empresa está reservada para os filhos do patrão. É no sector privado que de facto a avaliação não funciona mesmo, ainda recentemente soubemos que os gestores ganham em média 32 vezes mais que os seus dependentes mais mal pagos, ora não existe avaliação que justifique isso, não existe gestor 32 vezes mais produtivo que o seu dependente...pelo contrário. Ainda nos quer convencer que é no público que não existe rigor?
"Se por acaso, os professores boicotarem decisões dos superiores hierárquicos (isso cá fora dava despedimento, como deve saber, mas o Estado para os inuteis é uma grande coisa ) e se se recusarem a fazerem as avaliações há um caminho fácil de seguir : corrê-los todos a mediocre e não haveria aumentos para ninguém, nem progressões."
Antes de mais, deixe que lhe diga, o seu problema não é com os professores, é com a democracia. Você faz o contraponto com o sistema privado, dizendo "cá fora" (coitados devem andar à chuva), mas desrespeitar ordens de superiores hierárquicos, se bem fundamentado, é salutar para a democracia, o 25 de Abril foi o desrespeito geral pelos superiores hierárquicos.
Ao querer correr todos com medíocre, revela de facto o objectivo desta reforma, baixar os salários dos professores, que, ao contrário do que possa inventar, representam a classe média portuguesa.
"Este professorzeco (não é a ministra que o apelida assim, sou eu, contribuinte liquido do estado) para haver aumentos e progressões na carreira, nós, os portugueses contribuintes, temos de ter a certeza de quem tem mérito para isso."
O Estado também financia o sector privado, ainda mais o português que é altamente dependente do Estado. E com os impostos pagamos os serviços de saúde públicos, e vão lá também funcionários do privado. Ao comprar produtos e serviços no mercado, estamos a financiar trabalhadores do sector privado. Financiamos-nos uns aos outros, se o caro pensa que só você financia e não é financiado, está muito enganado e não percebe mesmo nada sobre o sistema económico.
P.S. Não, não sou mesmo professor, sou democrata...
Quando certas realidades que pretendem ocultar ultrapassam a ficção, é costume que certos comentadores dêem corpo ao velho conceito de "maioria silenciosa",
(geometricamente variável consoante os humores) para simetricamente o oporem ao de "minoria vociferante",
sem se preocuparem minimamente do que poderá ter posto em movimento cem mil pessoas.
Expliquem-nos apenas uma coisa. Porque é que os que protestam são pagos com os nossos impostos? No passado, a berraria compensava, dava mais regalias e melhores ordenados. Quem pagava? O contribuinte! Quem trabalha na privada sabe que os funcionários públicos são privilegiados, retirar algumas regalias exageradas, justifica-se em nome da igualdade entre os portugueses. Não há portugueses de primeira e de segunda! Os professores que passam o ano a avaliar não querem agora ser avaliados!?? Essa é boa!
Aplaudo a Ministra e passarei a dar o voto ao Sócrates! Já não estamos no PREC comunista, com o homem de Gaia a aliar-se aos comunistas. Ao que chegámos!! Valha-nos o Sócrates e o Cavaco que sempre teve o meu voto.
Zé do Centro
Desculpe lá, zé do centro, mas a patranha dos impostos não cola mesmo. Até porque a função pública paga efectivamente os seus impostos, são descontados à partida, é principalmente no sector privado que se dá a fraude e evasão. Um sistema contributivo toca a todos os que o respeitam, aliás se o sistema contributivo fosse mais justo era precisamente por aí que se poderia atingir uma maior igualdade social.
Quer igualdade social e vai combater a classe média (professores), e ainda vota à direita...não há coerência nenhuma na sua análise.
os funcionários públicos pagam impostos mas recebem-nos de volta pelos ordenados e quanto mais reclamam mais têm tido, como sabe. Valha-nos Sócrates que pôs mão nisto!
Já chega dos trabalhadores da privada andarem a pagar os desvarios dos políticos que cedem aos berros de pessoas bem enquadradas pelos comunistas.
Haja moralidade!
Zé do Centro
Pedro Henriques: gostaria de ter visto nas palavras que escreveu UM argumento que tivesse validade.
"trabalhadores da privada andarem a pagar os desvarios dos políticos que cedem aos berros de pessoas bem enquadradas pelos comunistas."
eu que trabalho para o privado e comecei a trabalhar, recentemente, para o público (uma vez que sou patrão de mim próprio) tenho apenas a registar o seguinte: o que ganho no privado não chega para sustentar ninguém que trabalhe no público visto que desconto apenas para a minha reforma que, de resto, não vou ter nem pelo privado, nem pelo público.
Opá, andamos a precisar de estudar o sistema distributivo.
"os funcionários públicos pagam impostos mas recebem-nos de volta pelos ordenados e quanto mais reclamam mais têm tido, como sabe."
Os funcionários públicos tem perdido há anos poder de compra e a função pública em geral perdeu 3,7 mil milhões de euros, o que vai em sentido completamente oposto ao que disse.
E não sabe que os impostos também financiam investimentos do sector privado? Não sabe que os impostos pagam o SNS que serve toda a gente (incluindo trabalhadores do privado)? Não sabe que os impostos pagam os estabelecimentos físicos de ensino onde também andam filhos de funcionários privados? Não sabe que as grandes obras públicas que rendem milhões são pagas ao privado com dinheiro público dos impostos?
Mas afinal não sabe ou finge não saber?
Eu também não quero! Eu também não quero trabalhar para sustentar os vícios do Zé e do Pedro. Acho muito bem que eles não paguem impostos. Com esse dinheirinho no bolso poderão então arranjar muito mais em conta quem lhes cuide da saúde, quem lhes proteja os bens, família e amigos, quem assegure que têm ruas e estradas por onde passar com os seus carrinhos, quem os proteja de fogos, inundações e invasões, e quem lhes faça justiça se alguém se meter com eles. Uff... estava a ver que não chegava ao fim, Até talvez lhes sobre algum para apoiar um pessoa que necessite. Humm... talvez não. Não me parece que sejam do tipo que se comovam com crianças com fome. É que eu não quero mesmo trabalhar para o Zé e o Pedro. Não gosto de trabalhar para sanguessugas que acham que nada devem aos outros enquanto acham que têm direito ao conforto que decorre de viver sob protecção dum Estado,
esta marcha foi grande...
Diz quem lá esteve que já não se via uma assim hà muito tempo...
Vital Moreira tem a teoria da geometria variável. As maiorias são sempre absolutas.
O ESTIGMA que estes socialistas modernos pretendem lançar sobre um grupo profissional – que não são 10, nem são 1000!- e que se defendem dum sistema discricionário, tem um objectivo mais amplo: combater o Estado Social, neste particular, a escola pública.
O esvaziamento das funções do Estado, tornando-o cada vez mais frouxo (que já regula pouco, fiscaliza pouco, que é forte com os fracos) em favor de pseudo empresas públicas, parcerias público-privadas e afins, complementa o painel. Em nome do socialismo, a “nomenklatura moderna” faz o seu caminho…Até quando?
Sou um leitor assíduo do Causa Nossa, mais precisamente A Causa Dele (Vital Moreira). Leio-o com o mesmo interesse e motivação com que lia o Novidades, O Diário da Manhã ou a Época antes do 25 de Abril - conhecer a postura dos corifeus do poder.Para caracterizar a reconversão política de Vital, cito aqui Mário Soares dirigindo-se a Pacheco Pereira que num debate televisivo se aproximava das teses dos neoconservadores americanos: "Onde é que você já vai!" Ao Vital já o incomoda o marxismo "tout court", mesmo o de Gramsci. Vade Retro.Será que uma declaração de interesses, próprios ou por afinidade, não nos ajudaria a compreender o seu percurso?
Caro João rodrigues,
Considerando os interessados na educação, os professores, mesmo 200.000 continuam a ser uma minoria.
Têm razão em muitas coisas. Não têm razão nenhuma em outras. Enquanto continuarem a insistir nas que não têm razão, a maioria silenciosa irá votar a facor de quem combater as vontades egoístas dessa minoria barulhenta e egoísta.
O Vital Moreira tem carradas de razão... Pior do que a avaliação curricular e permanebnte dos profs está o governo a alterar o modelo nacional dos tribunais ,o qual conCebido porilustres engenheiros mas que nada percebem de Justiça, vai por as testemunhas e as partes a calcorrear meio pais para ir auma sessão de um julgamento...Mas porque os visados -o povo em geral, não é homogéneo..nem esclarecido epobre não tendo sindicatos a financiar viagens...nicles!!!
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