sexta-feira, 4 de maio de 2007

Urra! O capitalismo português está condenado!

Via Insurgente fomos informados que todos os partidos portugueses não passam hoje de variações anti-capitalistas. As classes possidentes nacionais devem estar a tremer neste momento. Os seus intelectuais orgânicos na blogosfera tiveram acesso a informações sobre uma urdidura anti-capitalista em preparação...

Agora um pouco mais a sério: não é sintomático que para um liberal intransigente a democracia não passe hoje de uma cabala anti-capitalista? Se todos os partidos são anti-capitalistas e se o capitalismo imaginário de quem escreve tais disparates é a única forma viável de organizar a sociedade, então o que temos que fazer imediatamente é acabar com tais fontes de perturbações reais e potenciais. Onde é que eu já ouvi isto?

10 comentários:

L. Rodrigues disse...

Acho que esta gente acredita numa espécie de "Rich Man's Burden".

Pedro Fontela disse...

Eu ainda não percebi o porquê da exigência da seriedade... é que lendo o que os pseudo liberais escrevem pelo "insurgente" a seriedade é um bem escasso.

André Carapinha disse...

Só muito generosamente se pode chamar a essa gente de "liberais".

Eu não sou liberal, sou socialista, mas reconheço que há imensas diferenças entre os liberais do MLS, p. ex., e os "liberais" acima citados. Não por acaso, tenho um tag no meu blog chamado "Liberais", assim com aspas.

No fundo, isto tem a ver com a herança fundamentalmente americana dos tipos. Nos States, o "liberal" situa-se no Partido Democrata, e os assemelhados aos insurgentes chamam-se a si próprios de "libertarian conservatives" (outra designação algo paradoxal). O que acaba por não ser mau para separar as águas, e permitiria pelo menos que na Europa os liberais se demarcassem dessa ideologia bafienta-supostamente-revoluicionária.

Isto tem a ver, parece-me, com a limpeza que os americanos fizeram dos movimentos socialistas. Assim, enquanto na Europa a oposição deu-se entre socialistas (ou sociais-democratas) e conservadores, nos EUA nunca passou da velha entre "whigs" e "tories".

Permitam-me destacar um post meu sobre o tema (entre vários):

http://doismaisdoisigualacinco.blogspot.com/2007/05/liberais.html

André Carapinha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
André Carapinha disse...

Não tá fácil pôr o link. Parece que não aceita um link tão comprido.

Por isso:

http://doismaisdoisigualacinco.blogspot.com/2007/05/ liberais.html

(retirar o espaço no meio antes do l de liberais)

A. Cabral disse...

O liberalismo do sec. XIX, do Imperio Britanico, e' reclamado como antecessesor da corrente libertaria Americana. Esta linha politica representa a vitoria dos think tanks - Mount Pelerin Society, Cato Institute, American Enterprise Institute. A historia do sec. XIX para aqui nao conta nada, eles sao no ADN cold warriors e e' o sec. XX que os gerou.

Na Europa onde liberalismo nao tem as conotacoes do pos-New Deal Democrata, eles usam a etiqueta com orgulho. Na Europa tambem o argumento de autoridade que evoca os antepassados Hume, Smith e que tais tem mais peso. Por isso e' conveniente.

A. Cabral disse...

Provocacao para os Polanyianos.

Serao os libertarios de direita (austro-americana) um exemplo de double-movement em resposta 'a ameaca bolchevique?

baldassare disse...

Não foi bem isso que ele disse...
Mas é isso que ele pensa.
Os "liberais" não-MLS são anarquistas que acreditam que o mercado vai estabelecer uma "ordem natural".
partidos para quê? estado para quê? pessoas para quê? Havendo capital... havendo mercado...

Filipe Brás Almeida disse...

Faço ecoar muito do que já foi aqui dito e reiterando o post do andré carapinha trocava apenas uma linha:
Eu não sou socialista, sou liberal.

Ao contrário dos Insurgentes, o MLS não abdicou de analisar o mundo real em que vivemos para além dos modelos teóricos limpinhos com base em lógica rígida e inquestionável e em «self-evident truths.»

O facto do MLS enquanto movimento, querer estabelecer-se e projectar-se como um partido político choca muitos desses «liberais» da escola austríaca. Imaginem só o atrevimento, de alguém (MLS) ter uma visão para a sociedade o estado e o país, e querer ao mesmo tempo que essa visão seja sufragada pelos eleitores. Que atrevimento de facto. A abordagem «liberal» que os insurgentes apresentam resume-se basicamente a isto.

João Rodrigues disse...

Acho que esta gente ainda acredita num "White Rich Man's Burden"...

Quanto às variedades de liberalismo concordo com A. Cabral. Há aqui diferenças nas tradições políticas dos dois lados do Atlântico.

Os insurgentes filiam-se numa tradição do «liberalismo clássico» tal como ela foi interpretada por Mises, Hayek e outros. Depois existem os enxertos anarco-capitalistas: Rothbard, Rand...A mistura é um pouco incoerente, mas acho que o Baldassare apanhou o traço essencial: a adesão a uma forma pura de capitalismo que só pode existir na imaginação dos seus propenentes e que é em última instância claramente anti-democrática. Esta variedade tem prosperado graças a um maciço investimento na criação de estruturas para-académicas como A. Cabral bem sublinha.

Só para baralhar um pouco mais A. Carapinha: acho que se pode adicionalmente pensar numa tradição liberal democrática dos dois lados do oceano que se aproxima do socialismo democrático e auto-gestionário: veja-se J. S. Mill (que Mises considerava ser um socialista mais perigoso que Marx) e que defendia a auto-gestão e a nacionalização da terra. Veja-se Rawls que considerou que a Teoria da Justiça requeria uma sociedade de pequenos proprietários ou uma sociedade em que os trabalhadores controlassem os activos das empresas...

Quanto ao contra-movimento, acho que a coisa se pode também ler assim. Como dizia Bukharine os austríacos "são os mais importantes adversários dos marxistas" e já agora de todas as formas de socialismo...