Antigo banqueiro da Goldman Sachs, presidente do Banco Central Europeu e primeiro-ministro italiano, abrindo caminho aos novos fascistas, o agora senador Mario Draghi foi encarregue de elaborar um relatório sobre competitividade para a União Europeia, que será apresentado no final de junho.
Um dos rostos das troikas e da desvalorização interna, culminando no golpe financeiro contra o governo grego em 2015, reconhece, tarde e a más horas, a perversidade dessa opção de classe, numa intervenção onde antecipa os principais pontos do tal relatório:
“Prosseguimos uma estratégia deliberada para tentar diminuir os custos salariais uns em relação aos outros, combinando isso com uma política orçamental pró-cíclica [de austeridade], o que teve como efeito líquido enfraquecer a nossa procura interna e minar o nosso modelo social.”
Centenas de milhares de postos de trabalho destruídos em Portugal e centenas de milhares de compatriotas compelidos a emigrar, devido a esta opção evitável, lembremos. Note-se que Draghi já tinha anunciado, em 2012, que “o modelo social acabou”. Na realidade, não há um modelo social europeu, existindo, isso sim, Estado sociais nacionais, desde há décadas expostos à máquina liberalizadora e austeritária da UE, em geral, e do euro, em particular.
Entretanto, Draghi reconhece que o mundo neoliberal, idealizado por si e pelo seus, onde, por exemplo, a fronteira política deixaria de ter impactos económicos, soçobrou perante a realidade da política industrial robusta, com protecionismo e tudo, de Estados nacionais realmente existentes, como a China e os EUA. A política orçamental expansionista encarregou-se neste último país de assegurar taxas de crescimento apreciáveis.
Solução? “Mudança radical”. Na realidade, trata-se de continuar a aprofundar o federalismo e o militarismo, sem romper com o neoliberalismo, como é evidente. Confirmando que a UE é a superestrutura política do capital financeiro, bancário-industrial, prevalecente no centro, trata-se assumidamente de incentivar o processo de concentração empresarial à escala europeia. Para isso pretende-se mobilizar cada vez mais recursos públicos para os grandes grupos económicos, a começar nas perigosas indústrias de guerra e a acabar na energia que já não controlamos publicamente por cá, com o contributo da UE.
Esta política, como vimos também na banca, só acentuará a nossa natureza periférica, com controlo estrangeiro crescente. Não tenhamos ilusões sobre esta opção, nem qualquer complacência em relação aos seus protagonistas. Já pagámos um preço demasiado elevado por isso.
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