segunda-feira, 2 de novembro de 2020

No mínimo keynesianos

 

Estamos numa armadilha de liquidez global [em que as taxas de juro são tão baixas quanto podem ser e a poupança é elevada, sendo a política monetária ineficaz a não ser como suporte à política orçamental] (...) A política orçamental deve desempenhar o papel principal na recuperação, contrariando o défice de procura agregada. As facilidades no crédito instituídas pelas autoridade monetárias só asseguram o poder de emprestar, mas não o poder de gastar (...) As autoridades públicas devem apoiar activamente a procura, através de transferências monetárias e de grandes investimentos nas áreas da saúde, da infraestrutura digital e da protecção ambiental. Estas despesas públicas criam emprego, estimulam o investimento privado e criam as bases de uma recuperação mais forte e ambientalmente sustentável (...) A importância dos estímulos orçamentais nunca foi tão grande, porque o multiplicador da despesa – o efeito em termos de crescimento do investimento público – é muito maior num quadro de armadilha de liquidez.
 
Gita Gopinath, economista-chefe do FMI, Financial Times [minha tradução] 

É claro, como já por várias vezes se sublinhou, que não é keynesiano quem quer, mas sim quem tem poder no FMI. É preciso sempre distinguir as prescrições gerais das prescrições concretas para os países periféricos e semiperiféricos em concreto. De qualquer forma, é preciso pegar nestas ideias e traduzi-las para português, acrescentando, por exemplo, o controlo público de sectores estratégicos ou os direitos de quem trabalha. Temos de ser todos pelo menos keynesianos, em versão teoria monetária mais ou menos moderna.

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