quarta-feira, 11 de novembro de 2020
Portugal não será excepção
O acordo que o PSD-Açores fez com o Chega inaugura uma etapa crítica na vida política nacional. O PSD percebeu que só chegaria ao poder em aliança com o segundo partido da direita, e esse partido é o Chega. Para isso, seria preciso que ele se tornasse respeitável, e a oportunidade surgiu com estas eleições nos Açores. Aberto o precedente, agora é só esperar pela oportunidade no Continente, e ela virá na sequência da pandemia.
A ascensão de um partido da extrema-direita era previsível porque o PS apenas faz a gestão, é certo que com alguma sensibilidade social, do capitalismo selvagem instituído na UE, o capitalismo da austeridade inscrita nos tratados. A verdade é que gerir um sistema podre não trava a extrema-direita. Hoje há muitíssima gente farta de esperar por melhores dias, há muitas vidas abandonadas, não reconhecidas, invisíveis, há muitos desiludidos com as promessas não cumpridas da democracia, muitos eleitores dispostos a votar em alguém que dê expressão à sua raiva.
A gestão desta pandemia durante o Verão mostrou que a prioridade do governo era gastar o menos possível. Foi evidente que não quis investir no rastreio sistemático porque isso exigia recrutar muita gente para intervir em todo o país. As obras nos hospitais que está a fazer agora, em contra-relógio, não as fez no Verão porque preferiu pensar que talvez não fossem necessárias. Para recrutar rapidamente médicos e enfermeiros teria de pagar melhor e oferecer uma carreira; era demasiada despesa. Eu registei a frase de António Costa, em Abril: "despesas do Estado hoje são impostos amanhã".
Este centrismo do bom-aluno de Bruxelas, mesmo que atrapalhadamente corrigido nos próximos meses, vai fazer crescer o eleitorado do Chega. Esta crise vai deixar um lastro de ressentimento que um dia terá expressão eleitoral, e não vai ser à esquerda porque esta não foi capaz de entender que o sistema está podre e o seu discurso tinha de ser outro. Tinha de apresentar um projecto de transformação do sistema e ir para o terreno mobilizar os de baixo. Talvez já não saiba como isso se faz, mas ainda pode aprender com Alexandria Ocasio-Cortez.
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11 comentários:
Muito assertivo este comentário, e há-de cada vez mais, estar na ordem do dia. Afinal todos os magarefes que se escondem na política, vão demonstrando, que tudo vale não para a governança séria deste povo, mas para chegarem à manjedoura custe o que custar, sorvendo a ração que é injetada por uma europa cuja união equitativa é duvidosa e cinzenta. Como podemos equilibrar finanças comprando aos "nossos" amigos europeus, importando produtos de valor acrescentado se só nos dão chance de exportar fileiras; como tomate, vinho e cortiças? Para onde vão os excedentes por exemplo de uma Alemanha que detêm 30% do PIB europeu? Isto é uma brincadeira de crianças, quantos camiões de cortiça vale um mercedes? Não se devem admirar que os povos passem a extremos na procura de melhores dias. UE já era, porque nunca o foi...
Uma Alemanha que era o inimigo de todas as democracias e de repente transforma-se num dócil parceiro ?...vamos rever a história para perceber como se fazem fortunas rapidamente sem trabalho, estudem a historia porque estão a apagá-la definitivamente para o "gado" mais novo não perceber o que é nem para onde vai..
“O objectivo da União Europeia é a colonização do Sul da Europa. Não é de admirar que a adesão da Espanha à União Europeia e Euro não tenha trazido prosperidade, mas sim miséria para muitos dos seus cidadãos.”
“Se em tempos de crise de saúde as regras da União Europeia têm que ser suspensas e os países isentos dos limites do défice público, porque de outra forma os países da União Europeia não seriam capazes de lidar com a pandemia, para que servem as regras do défice e gastos em tempos de normalidade? A resposta é óbvia: nenhuma.”
“A crise do Covid-19 demonstrou que as regras da União Europeia e Euro para as despesas e défices são absurdas e minam a capacidade dos Estados de responder a situações de emergência.”
“A retórica que foi vendida durante anos …, segundo a qual as regras de gastos e défices da União Europeia fortaleceram as economias europeias e lhes deram maior estabilidade, era uma grande e fedorenta mentira.”
“O que as regras da União Europeia fizeram é precisamente o oposto, enfraqueceram as economias europeias…”
“A única coisa que as regras da União Europeia procuram fazer é desmantelar os sectores públicos e transferir o máximo possível dos recursos para as elites que dominam o sector privado.”
“Alguns dirão que a União Europeia nos vai resgatar e nos dar ajuda para sair da crise, mas isto também é falso. Primeiro, chegou-se a dizer que a Espanha iria receber 140 biliões de Bruxelas para a reconstrução após a crise do Covid e que 72,7 biliões seriam ajudas directas. Outra mentira. A verdade é que, uma vez descontadas as contribuições da Espanha para a União Europeia, a ajuda da União Europeia será de apenas 5,7 biliões.”
“Assim, Merkel transformou a pandemia em uma oportunidade imperialista da qual as empresas alemãs sairão reforçadas contras as empresas enfraquecidas do Sul da Europa. Alguém no seu perfeito juízo acredita que a Alemanha foi obrigada a fazer reformas estruturais e cortes de gastos? Que piada! Essas imposições são feitas apenas no Sul da Europa. A Alemanha faz o que quer, quando quer, e é claro que ninguém lhe pede explicações, pois esse dinheiro vem de seus superávits comerciais.
“A dinâmica é simples. A União Europeia desmantelou os sectores industriais do Sul da Europa, depois limitou a sua capacidade de gastar e finalmente forçou o Sul a comprar os produtos do Norte. Os interesses do Sul são irrelevantes, apenas a hegemonia da Alemanha na União Europeia conta. Esta é a dinâmica que se estabelece entre as colónias e as potências coloniais.”
https://braveneweurope.com/carlos-garcia-hernandez-spain-year-0
«A ascensão de um partido da extrema-direita era previsível porque o PS apenas faz a gestão, é certo que com alguma sensibilidade social, do capitalismo selvagem instituído na UE, o capitalismo da austeridade inscrita nos tratados. A verdade é que gerir um sistema podre não trava a extrema-direita. Hoje há muitíssima gente farta de esperar por melhores dias, há muitas vidas abandonadas, não reconhecidas, invisíveis, há muitos desiludidos com as promessas não cumpridas da democracia, muitos eleitores dispostos a votar em alguém que dê expressão à sua raiva.»
Esta é a mensagem fundamental com que se (inicia) o combate à extrema direita! Na realidade, o programa do Chega (tal como as políticas de Trump) defendem um capitalismo ainda mais selvagem, só que em vez de apelar ao "sacrifício virtuoso" como faziam Passos e companhia, apelam aos mais básicos (e destrutivos) instintos tribais, como sejam a luta "contra o sistema" e "contra os preguiçosos", usualmente identificados com as minorias étnicas ou religiosas. E funciona, porque aqueles que mais são prejudicados e enfraquecidos pela selvajaria neoliberal são também aqueles que, por essa mesma razão, estão mais susceptíveis a votar em quem promete ser "contra o sistema". Mesmo que essa política "anti sistema" seja a continuação, se não mesmo o agravamento, das condições económicas daqueles que agora procura tornar em seus eleitores.
Nestas circunstâncias, é exasperante ver o PS ainda com preocupações relativamente ao défice. Aliás, isso bem pode acabar gravado na lápide da democracia lusa: «Nós vimos este momento chegar, e sabíamos que tínhamos de fazer alguma coisa. Mas os constrangimentos da economia...»
Às vezes dou comigo a pensar, que com o passar do tempo, posso muito bem ter-me tornado no mais optimista dos pessimistas. Na verdade, se é certo que antevejo um abandonar da máscara pífia com que o PSD e o CDS se têm coberto, abrindo assim o caminho à direita mais abjecta e reaccionária, de que o CHEGA é tão instrumental como os seus outros dois "compagnons de route", não é menos verdade que isso sucede num tempo em que as crises cíclicas do sistema capitalista são cada vez mais intensas, mais frequentes, mas sistémicas. Ora, é neste mesmo tempo que a definição clarificadora se tornará, de modo crescente, inevitável. "Esta coisa chamada PS" - desculpem-me a expressão, que de modo algum deve ser lida de modo literal, mas antes no contexto e segundo o propósito de uma apreciação sócio-política - perderá assim o espaço de manobrar e de navegação à vista que a tem caracterizado, tendendo, compreensivelmente, à fracturação interna e ao encaminhamento da sua clique dirigente para os seus lugares naturais (alguém me explicará um dia, em que difere um Santos Silva do Rui Rio ou mesmo, do ponto de vista, por exemplo, da subserviência colonial, de um André Ventura), abrindo-se aí o espaço necessário para as muitas e urgentes mudanças de que necessitamos, se verdadeiramente acreditamos em democracia e socialismo, que estejam para além do nome dos Partidos e de uma ou outra proclamação envergonhada. Por tudo isto, apoiar Marcelo como Costa o fez, foi uma decisão absolutamente imprudente e ao arrepio de quaisquer pretensões de um PS verdadeiramente empenhado em andar do lado esquerdo da via. O que, infelizmente não é contudo coisa nova, lá para os lados do Largo dos Ratos (creio que se diz assim, já que de toponímia lisboeta, percebo muito pouco...).
Assim como não se pode para o vento com a mão, e é necessário construir um alto e comprido arranha céus para o fazer, não é possível também fazer parar as causas principais da corrupção, cuja principal origem existe nas atividades em offsores e na incapacidade crónica que os governos democráticos têm em cobrar impostos às grandes empresas globais.
Nas democracias de inspiração anglo saxónica, saídas das guerras do século 20, estão completamente impossibilidades de tomar as medidas necessários para combater os malefícios da globalização. Medidas essas cinicamente propostas pelas diversas extremas direitas que têm aparecido no espaço europeu e nos EUA.
"As obras nos hospitais que está a fazer agora, em contra-relógio, não as fez no Verão porque preferiu pensar que talvez não fossem necessárias."
Esta foi a mais vergonhosa de todas as opções porque era também a mais simples de executar.
Atenção, AOC não é o que parece. Vestida de acordo com o último grito da moda, ditada pelo 1% da classe Alta, a mais jovem mulher do congresso americano foi levada em braços para lá se tornar uma voz mobilizadora do New Green Deal. E o que representa o Novo acordo “Verde”? “The Green New Deal is the Trojan Horse for the Financialization of Nature” – segue o link onde Cory Morningstar minuciosamente aprofunda o tema. (theartofannihilation.com/the-manufacturing-of-greta-thunberg-for-consent-the-new-green-deal-is-the-trojan-horse-for-the-financialization-of-nature)
Black Lives Matters é um movimento genuinamente de bases. The New Green Deal é um movimento orquestrado pelas Elites e para as Elites.
Mal que pergunte mas onde é que essa Esquerda de que fala o Jorge Bateira ganhou eleições? Talvez na Bolívia, pois. Se há alguém a ganhar à Direita populista, Jorge Bateira, são centrista como Biden e Macron. Goste o Jorge Bateira ou não.
Achar que Partidos do Centro, eleitos com um programa centrista têm agora que ir aprender com AOC é querer ir meter a foice em seara alheia.
Constitua um Partido, apresente propostas e vá a votos. Entrismos ele é mais de Trump e de Corbyn, com resultados bem distintos, bem entendido.
E quais desses centristas não se espalharam ao comprido, bem como ao partido? Só Costa, até a conjuntura devastar esta patetice de ser um país de turismo, e pouco falta até lá.
Mas podemos ir sempre continuando a vender o país e exportar licenciados, qualquer década chegamos ao pelotão da frente.
Que coisa mais triste este Jaime Santos
A esquerda ganhou eleições no Chile de Allende. E sabe-se o caixão preparado pelos norte-americano, com o apoio explícito do tal centro tão do agrado de Jaime Santos.
Ao contrário do que é voz de relativa unanimidade entre os visitantes e frequentadores deste blog - de que este Jaime Santos, é um perfeito embuste -, pela minha parte, tenho-o na conta de personagem sobremaneira interessante, senão tanto pelo que diz (que me seja perdoada esta franqueza), ao menos pelo que revela no interstício do seu pensamento. Afinal e na sua cabeça, tudo se resume a um jogo de tabuleiro, com a condição (supinamente democrática, acrescente-se), de que e como dizem os britânicos, "the winner takes it all"; a que se acrescenta a nuance (de que Jaime Santos nem se dá conta), de que um dos jogadores vê o seu jogo e do adversário, é o dono do tabuleiro onde se joga e é também ele quem arbitra. Dispondo sempre e no limite, dessa solução de último recurso: se mesmo assim não funcionar, mudam-se as regras a nosso favor.
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