terça-feira, 30 de agosto de 2016

O investimento em Portugal tem vindo a cair. Porquê?

A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), o indicador habitualmente utilizado para analisar o investimento, tem vindo a desacelerar todos os trimestres desde o início de 2015, tendo registado uma variação negativa no primeiro trimestre de 2016 (ver gráfico). Segundo a estimativa rápida do INE para as contas nacionais do 2º trimestre deste ano (cuja versão final será conhecida em breve), o investimento terá diminuído de forma "expressiva".



Como é habitual, não faltam leituras apressadas sobre as causas desta evolução e suas implicações ao nível das opções de política económica. No entanto, ainda é cedo para percebermos o que se passa exactamente com o investimento em Portugal.

O que sabemos é o seguinte:

1) a quebra homóloga da FBCF no 1º trimestre de 2016 está fortemente relacionada com a construção (o VAB do sector caiu 2,8% no trimestre; sem construção, a FBCF caiu apenas 0,1%); os indicadores de conjuntura sugerem que o sector da construção continuou anémico no 2º trimestre.

2) o bom desempenho da FBCF em 2015 está muito associado ao investimento público (de acordo com os dados da AMECO, o investimento público em Portugal cresceu 8,9% em termos reais em 2015, mais do dobro da média da UE - 4,0%); em 2015 o investimento privado em Portugal cresceu abaixo da média da UE (3,6% e 4,3%, respectivamente);

3) a análise combinada dos valores anuais do investimento privado e dos valores trimestrais da FBCF não-construção sugerem que houve uma recuperação temporária do investimento produtivo entre o 4º trimestre de 2013 e o 2º trimestre de 2015.


É possível encontrar explicações para as três tendências atrás referidas com base em dois factores fundamentalmente internos. Assim:

1) o bom desempenho do investimento privado entre finais de 2013 e inícios de 2015 pode estar associado ao efeito conjugado do encerramento do QREN (anterior pacote de fundos estruturais da UE), do regresso do crescimento económico após três anos de recessão (durante os quais houve adiamento de investimentos), da redução das taxas de juro e da maior disponibilidade de crédito por parte dos bancos domésticos;

2) o bom desempenho do investimento público em 2015 pode ter sido determinado pelo encerramento do QREN e pelo relaxamento da consolidação orçamental, típica de anos eleitorais.


A partir de final de 2015 há quatro factores que podem ter contribuído para a degradação do investimento:

1) o fim do efeito encerramento do QREN e o atraso na implementação do Portugal 2020 (quadro comunitário sucessor do QREN);

2) a desaceleração do investimento público motivado por razões eleitorais a partir do 3º trimestre de 2015 e por motivos de consolidação orçamental a partir do inícios de 2016);

3) o aumento da incerteza e a deterioração das perspectivas de crescimento económico internacional;

4) a incerteza interna associada à formação do novo governo (no final de 2015), às relações com as instituições europeias e à situação do sistema bancário nacional.


Finalmente, o desempenho do investimento até ao final de 2016 poderá beneficiar de dois factores principais:

1) a entrada em velocidade cruzeiro do Portugal 2020 (afectando positivamente o investimento privado e público);

2) a diminuição do factores de incerteza interna referidos acima.


Para aqueles que querem decidir desde já se a estratégia económica do governo está ou não a funcionar, deixo duas mensagens:

1º) não esperem milagres ao nível do investimento e do emprego de qualquer estratégia de política económica assente no cumprimento de metas orçamentais que são absurdas para países que continuam em crise;

2º) provavelmente, as contas nacionais no final de 2016 serão bastante distintas das que se conhecem para o 1º semestre.

15 comentários:

Anónimo disse...

É escoamento de inventário, que é positivo para as empresas.
A contabilidade do PIB é uma treta, sejam bons economistas e exponham-na como a treta neo-colonial/liberal que é.

Anónimo disse...

"provavelmente, as contas nacionais no final de 2016 serão bastante distintas das que se conhecem para o 1º semestre."

Bastante distintas quer dizer o quê, Ricardo Paes Mamede? O Diabo que aí vem, com reposições a fazerem-se sentir, ou o arranque económico à custa de sectores como o turismo e da entrada em cruzeiro do OE 2016?

É que um neo-liberal próximo do PS diz que http://causa-nossa.blogspot.pt/2016/08/um-pouco-mais-de-rigor-sff.html

Anónimo disse...

"2º) provavelmente, as contas nacionais no final de 2016 serão bastante distintas das que se conhecem para o 1º semestre."

Como corolário da sua análise, o que quer dizer concretamente com "bastante distintas"?

Jose disse...

Mais simplesmente:
Avizinham-se tempos ainda mais difíceis.
A Geringonça foi o pior que poderia ter-se inventado para uma débil economia endividada

Anónimo disse...

A geringonça foi o pior?

O que faz cá falta é a Troika e Passos Coelho e Paulo Portas e Maria Luís Albuquerque e Cristas e outras aberrações, não é mesmo Herr Jose^?
Com os donos disto tudo à mistura e o dinheiro a ser encaminhado para os offshores, não é mesmo Herr Jose?

Anónimo disse...

Tanto comentário e análise para justificar o injustificável. A economia está endêmica pois não há investimento, nem empresários dispostos a arriscar! Quem vai investir neste ambiente de geringonça? E o consumo privado, essa famosa bola de cristal, de uns quantos lunaticos e outros tantos insensatos e mal informados, vai decair cada vez mais há medida que a economia se degrada e o país afunda.

Anónimo disse...

Tanto comentário e análise a justificar o injustificável?

Mas porquê? Nao gosta de análises e de comentários? É pela via de sentido único? A da ditadura e a de Passos?

A economia está endémica? Endémica? É por essas por outras que.
A economia está mal. E amarrada a este directório europeu não vai a lado nenhum.
E a troika muito contribuiu para este estado de coisas. Pôs-nos ao serviço da Alemanha e dos tubarões e foi o que se viu.Passos e Portas fizeram o papel que lhes foi atribuído e por isso gemeram com a geringonça.
E ainda bem.

Vê como é bom comentar e

Anónimo disse...

Mas podemos analisar causas mais profundas da situação em que nos encontramos:

Por exemplo isto que se lê num editorial do AbrilAbril
"A imprensa revelou na passada semana o que alguns já previam (o PCP já tinha avançado a estimativa de mais de 7000 milhões) e muitos adivinhavam: o BPN pode custar ao Estado mais de 9000 milhões de euros. Esta notícia, que se saiba, não provocou nenhum sobressalto nem no PSD nem no CDS-PP, que, aparentemente, andam muito mais preocupados com a recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD).

9000 milhões!

9000 milhões é um Orçamento anual da saúde!

E, na verdade, ninguém ouviu a Passos Coelho ou a Assunção Cristas uma palavra sobre esta questão do BPN preferindo, para desviar as atenções, falar da CGD.
Ora, quando falam da CGD, ambos procuram fazer esquecer as responsabilidades do anterior governo na gestão do banco público. O governo de Passos Coelho, durante quatro anos, não tomou qualquer medida para conter as necessidades de capital da Caixa, nem para detectar eventuais problemas na concessão de crédito. O que já não aconteceu no que diz respeito à nomeação dos novos administradores para a CGD, um processo que decorreu na linha do «pataca a ti, pataca a mim» entre PSD e CDS-PP.

Mas PSD e CDS-PP também não querem ouvir falar nos casos Banif e Novo Banco, nem sobre quem foram os grandes beneficiários e responsáveis pelo afundamento do BPN!

A propósito, é sempre bom relembrar que o dinheiro com que o Governo vai recapitalizar a Caixa fica no Estado, ao contrário dos 9000 milhões do BPN, muitos dos quais foram parar aos bolsos de alguns «barões» que continuam a passear a sua impunidade...

Daí, não queremos nem podemos esquecer a factura dos 9000 milhões que vamos continuar a pagar, com graves reflexos nos orçamentos, por exemplo, do Serviço Nacional de Saúde e da Educação".

Anónimo disse...

Caro concidadão, as suas questões sobre o BPN são pertinentes, no entanto o questionar o resgate da Caixa também o é. No BPN, tivemos responsáveis presos e outros indiciados mas na caixa parece que se passou um pano branco sobre os desmandos e roubalheira que por lá andaram. Eu também quero a CGD nossa, mas também quero responsabilização. Já chega de ver chulos serem tratados como senhores.

Jose disse...

Os esquerdopatas quando colocados perante os efeitos negativos da geringonça nem ensaiam dizer porque tais efeitos não existem ou o que há de transitório em tais efeitos e de quanto o benefício que se obterá a prazo,
Parece dizerem que se outros estragaram e arruinaram o país também eles têm o direito de o fazer.

Um triste cenário de facciosismo e miséria intelectual.

Noughtone Binary disse...

mesmo investindo em computadores e servers os serviços da electrónica nunca irão produzir fbcf nem emprego. O Governo tem de dicidir que "fábricas" apoia para criar capital fixo e emprego.

Anónimo disse...

Como?

Quem fala em facciosismo e em miséria intelectual é aquele que confirma o seu facciosismo e a sua miséria intelectual?
Pelas suas próprias palavras e falando sobre o Brexit?

https://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2016/08/como-e-que-se-diz-continuem-em-ingles.html

Anónimo disse...

Esquerdopatas é uma nova designação que aparece pela segunda vez aqui

Esquerdopata é um dos termos preferidos por Bolsonaro, um deputado federal que homenageou, ao votar pelo impeachment, uma pessoa acusada de tortura durante a ditadura militar (1964-85).

Quando proferiu o seu voto no plenário da Câmara, Bolsonaro exaltou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-Codi e acusado de comandar torturas durante o regime militar.
""É terrível ver alguém votando em homenagem ao maior torturador que esse país já conheceu."

Bolsonaro tem uma obsessão pela palavra "esquerdopata". Há centenas de registos escritos e em video que atestam esta compulsão

Confirma-se a "qualidade" das fontes em uso pelo sujeito que as tenta transplantar para cá. Bolsonaro é apenas um outro seu colega que elogia os torturadores

Anónimo disse...


"Ora, o investimento público não arranca porque, para isso, era necessário uma folga no défice, tal como aconteceu em Espanha, que está com um crescimento de 3,2 mas com um défice de 5%, beneficiando da compreensão da Comissão Europeia, que agora até lhes deu mais tempo para o reduzir, ao contrário do que faz com Portugal, num claro apoio a Rajoy.

Não podemos aumentar o investimento público porque aumenta o défice e a Comissão Europeia não deixa. Sem investimento não há crescimento e sem crescimento a DBRS diz que aumenta a pressão sobre a nossa notação, pois não criamos riqueza para pagar a dívida. Como consequência, os mercados, leia–se os grandes bancos, companhias de seguros e fundos de aplicação de capitais aproveitam e exigem mais juros na rotação dos empréstimos.

É a «democracia» da União Europeia a funcionar, com entidades não eleitas (BCE e Comissão) a pressionar e a chantagear com a sua governança. Assinalam alguns, como refere Susan George em Os Usurpadores, que, «se governança se pode definir como a arte de governar sem governo», então é precisamente o que fazem a Comissão e o BCE, ao serviço das grandes potências e da alta finança".

Daqui:http://abrilabril.pt/governanca

Anónimo disse...

Atras de tempo tempo vem vai dizendo o poeta. já lançamos ferro em todos os quadrantes, fomos ver e fizemos com que o mundo visse. Hoje não passamos do “Páteo da Bicheza”.
Será mesmo necessário que o velho morra para dar lugar ao novo?
Governar bem para todo o povo não será melhor que governar só para alguns?
A teoria da “Luta de Classes” ainda vigente para alguns, não estará fora de contexto?
Este governo dito de esquerda e apoiado por outras esquerdas, (estranho, não e´?) não será ele o prolongamento, em forma e conteúdo do governo anterior?
Por acaso deixou de vigorar a teoria capitalista?
A U.E. evaporou-se?
Será que a OTAN implodiu?
Porque lembrar Adam Smith, Marx ou keynes que viveram o seu tempo? Não brinquemos com o fogo… Ah Ricardo Ricardo… de Adelino Silva