domingo, 6 de julho de 2014

Do Espírito Santo a São Bento


Cada grupo social, nascendo de uma função no mundo da produção económica, cria com ele, organicamente, uma ou várias camadas de intelectuais que lhe dão a sua homogeneidade e a consciência da sua própria função, não só no domínio económico, mas também no social e político. 
Antonio Gramsci

A expressão intelectual orgânico foi cunhada a pensar em figuras como Vítor Bento, que tem desempenhado um papel de articulação entre as esferas onde operam as fracções dominantes do capital e as das ideias com impacto político no nosso país. De facto, Vítor Bento foi um dos mais implacáveis defensores da austeridade sem limites, tentando no fundo dar dignidade e profundidade intelectuais ao “aguenta, aguenta” de Ulrich, a mais desgraçadamente realista avaliação política feita até agora. Nos últimos tempos, Bento tem dados sinais contraditórios sobre o ajustamento, o que de resto faz parte da arte gramsciana de manutenção da hegemonia de um grupo social dominante. Agora é apresentado como sendo do “bloco central” e tudo: o diagnóstico de que uma das sociedades mais desiguais sofre de um excesso de”colectivismo”, já feito por Bento, é central para uma série de estratégias de transferência de custos sociais para as classes populares por parte do bloco social ainda dominante.

No Negócios colocava-se uma questão: pode um banqueiro ser conselheiro? Nesse contexto, surgiu o problema da separação entre negócios e política. Essa separação é um mitos facilitadores do liberalismo, essa ideologia de legitimação do capitalismo sem fim, destinada a ocultar as inevitáveis imbricações entre as duas esferas no capitalismo realmente existente. A questão real não é a da separação, mas sim a das modalidades de imbricação: quem controla, quem está no posto de comando? Neste caso concreto, é só analisar o percurso de Moreira Rato, Mota Pinto, Bento e, já agora, Carlos Costa para tirar algumas conclusões. Entretanto, Bento decidiu renunciar ao cargo de conselheiro de Cavaco, mas as aparências não iludem em termos de quem aconselha quem, em termos da modalidade da tal imbricação em vigor.

Bom, Vítor Bento transita da SIBS para o BES. A primeira é um exemplo das possibilidades do planeamento central, dada a qualidade e modernidade da nossa rede multibanco, e dos seus abusos quando está em mãos privadas, dadas as taxas, comissões e outras extorsões no sistema de pagamentos. O segundo é um dos exemplos dos desmandos da finança liberalizada e da necessidade de ser amparada pelo poder que é o último reduto da confiança. A tarefa de São Bento é simples e uma imprensa toda catita já começou o trabalho, em articulação com os outros poderes, como o Banco que não é de Portugal. É uma espécie de lei da rolha aplicada ao BES: está tudo bem e não se fala mais nisso. A família Espírito Santo pode ir brincar para a Comporta descansada e tudo fica entregue a “tecnocratas”, expressão que é só mais uma fraude de Passos Coelho.

Para lá da espuma, o que falta é mesmo retomar o espírito de um decreto-lei dos idos de Março de 1975, agora num contexto em que as questões do capitalismo monopolista de Estado se articulam, no campo da economia politica, com as da financeirização. A necessidade de controlo democrático do crédito, de nacionalização da banca, é a mesma. Com outros protagonistas, claro. No fim, a questão é sempre: e o povo, pá?

15 comentários:

Aleixo disse...

Independentemente dos Bentos e dos Ratos

– caudilhos, bicharada e afins, já nem com as aparências se preocupam! –

o que mostra a realidade do presente, é toda esta

trapaça dos Espírito Santo e correligionários

que, têm a desfaçatez de não há muito tempo,
prescindirem de socorro público, tentando mostrar uma imagem de grande integridade (comparativamente aos concorrentes)
quando, na verdade,

já estavam todos de pantanas!!!

E ninguém os encosta á parede…

Jose disse...

Qunado uma acção credível prestigia o inimigo, manda a prudência não teorizar a derrota.
Soa sempre a estertor argumentativo.

Anónimo disse...

Muito bom!

De

Anónimo disse...

Quis separar e isolar de propósio a minha apreciação a este texto de João Rodrigues ( ver acima) deste meu presente comentário.Exige-se que a limpidez do texto do JR prevaleça sobre a espuma do acessório e da manobra de certa form proocatória de jose.

Diz este;
"Acção credível? Desde quando?Desde que as albuquerques e os coelhos sassim o determinaram?
Ou desde que foram replicados pelos media fidelizados?
Onde se torna repelente este casamento entre um dos expoentes máximos dos fundamentalistas troikistas a banca e o poder das elites dominantes?

"Prestigia o inimigo"?
A que inimigo se referirá Jose? Mas ele agora dá conselhos contra o inimigo , que se suspeita que é o próprio campo pelo qual jose pugna e luta?

Prestigia desde quando? Desde que os desejos do jose tentam mascarar que esta farsa está a ir longe demais e que só os que lhes bebem as águas ainda engolem toda esta macacada?

Teorizar a derrota? Será que jose não compreendeu que este excelente texto de JR não teoriza uma derrota mas que denuncia métodos, processos, elites, governos, capital, conluios,executantes, farsas e mitos?
E que vai mais longe e aponta caminhos para a saída deste sistema onde a lama vai cobrindo tudo e onde são sacrificados os que trabalham e os deserdados da vida ao lucro vampiresco dos grandes interesses económicos?

"Soa a estertor"?
Extertor? Ou o que se passa é uma tentativa de legitimação e de ocultação de manobras inqualificáveis, onde este modelo de sociedade se revela mais um pouco,onde o cheiro putrefacto do Capitalismo se torna mais patente,onde "as saídas " apresentadas não passam de pornográficos actos de óperas bufas, onde se confrima que os donos do Portugal de outrora continuam a ser os mesmos donos do Portugal de hoje?

Jose (em blogs dominados ideologicamente por gente de cariz de Bento)defendia abertamente através da putativa memória dos sexagenários e septagenários portugueses esses mesmos donos de Portugal que dominavam no fascismo.
Cito ipsis verbis:
"dos avós souberam que já houve em Portugal governos com gente proba e com sentido de Estado e de Nação; mas eram ‘fascistas`
e seguia-se a lástima por tão injusto crisma.

Agora assistimos a isto: Uma tentativa de tornar esta miséria a que assistimos numa "acção credível, prestigiante, que originou uma derrota para o inimigo e que o reduziu a um estertor argumentativo."

Quase tudo dito.Da vacuidade do esforço e do esforçado jose

De

De

Unknown disse...

Neste mundo politicas/negócios e bancos não consigo perceber,apenas sinto que dói porque as taxas crescem sacando o povo.
Até a confiança que depositávamos sistema bancário nos sacaram.

Jose disse...

A lei que metia na cadeia os gestores que delaptdassem capital das empresas está suspensa desde 1986 perante a tranquilidade geral da esquerda.
Depois há umas pseudo-virgens que se alimentam de tricas e má-língua...


http://www.oa.pt/Conteudos/Artigos/detalhe_artigo.aspx?idc=31559&idsc=45650&ida=45681

António Geraldo Dias disse...

"In sum, reversingfinancialisation and establishing a newrelationship between state and finance requires a broad programme of public intervention across a variety of fields which would do no less than transform the entire economy. It would form an inherently anti-capitalist programme that would strengthen labour at the expense of capital and spur social development in the direction of socialism. This is the greatest challenge facing organised labour, social movements and the political left today".Saudações gramscianas!

Anónimo disse...

Entramos no mundo do surreal.
Afinal a acção credível que prestigia o inimigo e que provoca o estertor argumentativo passa de moda( era demasiado,não?)e é rapidamente enterrada em nome duma lei que já não o é( o processo legislativo cabe á direita,entenda-se).

Que súbito e enternecedor cuidado com o tema da lei, quando há bem pouco tempo este mesmo personagem arremetia vigorosamente contra a Lei fundamental do país, crismando-a, qual verdadeiro Torquemada, de "aborto",perdão de "ABORTO"?

O cumprimento da Constituição e a banca.A necessidade imperiosa da sua nacionalização.Eis duas soluções que vão muito para lá duma patética evocação duma lei que como se sabe serviu para a condenação impiedosa dos colarinhos brancos.

Para o mesmo persnagem que dizia que a "culpa não é dos bancos " e que "A Goldman Sachs trabalha para quem lhes paga, não têm responsabilidades políticas" ( ora,ora,e as outras?) percebe-se que a denúncia serena deste modus faciendi do Capital sejam "tricas" e má-língua

De

Anónimo disse...

Eis algumas tricas e má-língua que caracterizam tão bem o real,mas que são acantonadas para uma nota de rodapé,cúmplice e conivente, pelo Jose:

"No final de 2007 em plena crise do BCP, a CGD viu-se de uma acentada sem o Presidente do Conselho de Administração, Carlos Santos Ferreira e mais 2 Administradores, Armando Vara e Victor Fernandes, todos do Partido Socialista, que se mudaram de armas e bagagens da CGD para o BCP. O PS no Governo tomou conta do BCP.
No início deste verão em plena crise do BES , o presidente da SIBS Vitor Bento, o presidente do IGCP João Moreira Rato e Mota Pinto todos do PSD, mudam-se de armas e bagagens para o BES. O PSD no Governo tomou conta do BES.
A única diferença é que o PS estava antes no Governo e agora está o PSD."
José Alberto Lourenço

(De)

Anónimo disse...

A tentativa de fuga das responsabilidades criminais,cívicas,políticas com base numa lei e num texto que tem o seu quê de bolorento, esbarra com a limpidez deste texto:

" Quando Salgado se esqueceu de declarar no IRS pela terceira vez pequeninas somas que tinha no estrangeiro , o Governador chamou-o para opinião pública ver , mas continuou a considerá-lo idóneo para continuar como banqueiro…e quando foi descoberto o também pequenino prejuízo , a tal "enfermidade" do contabilista , como lhe chamou Salgado , o governador continuou a considerar este senhor como idóneo para ser banqueiro. Fantástico . Como prémio merece ir para o BCE tal como o Vítor Constâncio!"

Daqui;
http://foicebook.blogspot.pt/2014/07/nao-se-demite.html#links

Acontece que este mesmo Salgado foi alvo duma comovedora homenagem e defesa da sua posição na vida, da sua posição económica, da sua condição de legítimo proprietário das imensas riquezas recebidas(" o direito ao retorno" escrevia assim JgMenos)por parte de quem acha que tudo isto são tricas,tudo isto é má-língua,tudo isto é fado

De

Jose disse...

Não fique por dizer que a suspensão da lei, que assim permite todas as bandalheiras, só não tem a oposição da esquerda porque sempre o sector émpresarial do Estado - que dela beneficia - foi o paradigma dessa bandalheira administrativa.
Acrescente-se-lhe a amnutenção de empregos à custa de dívida e temos os critérios da gestão esquerdina na sua plenitude.
Mas se alguém se defende de que lhe comam 80% do rendimento - aí as 'virgens' arrancam cabelos e dizem-se violadas!

e-ko disse...

ó pá, o povo, continua a pagar, sem bufar e a carregar todas as cangas... a oeste, nada de novo!...

Anónimo disse...

O exercício de distracção mundana ensaiado por jose a respeito duma lei suspensa a qual ao que parece "permite todas as bandalheiras" (por favor não se riam) é agora palco das atenções do sr jose.

O ridículo da questão é que quem suspendeu esta lei parece que foi o governo do actual presidente da república, um tal cavaco silva , alvo da devota admiração do sr jose.

A situação torna-se caricata quando o mesmo jose diz que quem beneficiou de tal suspensão foram os gestores do sector empresarial do estado.Ora acontece que quem nomeia tais gestores é o governo.Acontece também que a promiscuidade entre o governo e os grandes interesses económicos se traduz também numa dança pornográfica entre umas cadeiras e outras...entre os cargos de nomeação governamental e os cargos nas administrações de empresas privadas.

As conclusões são claras. Estamos diante dum exercício de ocultação de luzes,atirando para o lado,mesmo que esse lado seja o seu velho amigo Cavaco e os governos de direita tão amigos dos negócios e do "empreendedorismo". Vale tudo para tal objectivo.

Entretanto o que sobressai é o silêncio absoluto sobre (mais) este escândalo que envolve a banca, os interesses privados, o governo e a direita pura e dura.
Parece que as tricas e a má-língua usados como argumentário são o substracto ideal para esconder o cheiro putrefacto que emana de tais negócios.

Talvez seja excessivo lembrar as posições violentíssimas contra quem trabalhava, contra os pensionistas, contra quem via roubados direitos sociais, salários, pensões, férias e feriados.Alguns dos comentários mais chocantes sobre os trabalhadores da função pública, sobre os "piegas",sobre os obrigados a emigrar, sobre os aleluias à troika e à política troikista, sobre os aplausos ao "ir mais longe que a troika" foram protagonizados exactamente por JgMenos, agora com o nickname de jose.

Se repararmos bem há várias similitudes entre este e Bento , de quem deveríamos agora estar a falar

De

Jose disse...

O talento de guionista de DE é irrecusável.
Sobre um qualquer argumento constrói um folhetim que não só afasta qualquer dramatismo que moleste como garante tempo de emissão.
O talento deslocado na sua acção!

Anónimo disse...

(Tempo de emissão? Agora já não é a lei que Cavaco meteu na gaveta e que patati-patata?)

Passemos a questões mais substantivas:
(Reforma de Salgado superior a 900 000 euros):

"A questão central no BES não está na escolha deste ou daquele "gestor" ou de os mesmos que incensavam Ricardo Salgado terem passado agora a incensar Bento e seus acompanhantes !
Pode-se na verdade, contestar que um Secretário de Estado ligado às finanças e à dívida pública seja chamado para o BES sem reticências do B.P. e do governo ! Mas só poderiam esperar reticências os que pensam que o poder económico está subordinado ao político e não o contrário...
Pode se ter ciúmes de não se ter nenhum Vara na administração do BES, como o PS que tem apenas um representante nos Açores !
Mas a questão central não é desse teor.
A questão central é a de se saber se um banco comercial que cria moeda -bem público-, tal como os outros e ainda por cima metido em vários escândalos financeiros deve continuar na órbita privada com os lucros e não só a irem para os bolsos privados de meia dúzia e os prejuízos , a capitalização e o desendividamento a serem pagos directa e indirectamente pelos contribuintes .
Claro que os partidos da Banca - PSD,PS,CDS dirão que não. Que a questão central é salvar um banco sistémico ... e nós acrescentamos - salvar as fortunas , dividendos ,reformas e mordomias dos grandes accionistas com os dinheiros públicos..
A factura seguirá dentro de momentos...no IRS ...nas pensões e reformas...nos salários
Pena Preta
http://foicebook.blogspot.pt/2014/07/bes-questao-central.html#links

De