Com a turbulência política, começou uma intensa campanha nas televisões. Tudo com o mesmo sentido: a bolsa caiu, as taxa de juro no mercado secundário aumentaram; a “credibilidade externa” está ameaçada; o segundo resgate está ao virar da esquina; eleições são o pior que podia acontecer, etc.
Calma, respirem fundo. Primeiro o significado da queda da Bolsa: pouco ou nenhum. Há muito que as empresas portuguesas não se servem da bolsa como fonte de financiamento. A sua utilidade económica e social é nula. Para mais, qual foi o volume de negócios na bolsa ontem? Pois. As declarações de Seguro, "perdemos 2,5 mil milhões de euros", roçam a iliteracia. Entretanto, com a recuperação de hoje, esses milhões já voltaram?
Depois, as taxas de juro. Os paralelismos com a situação de há dois anos são idiotas. Nessa altura, Portugal tentava tudo para se financiar nos mercados. A taxa de juro praticada nos mercados tinha assim influência no custo da dívida. Neste momento, com o resgate financeiro, Portugal não tem necessidade de se financiar nos mercados. O financiamento da troika, as recentes emissões e as reestruturaçõezinhas da dívida portuguesa fazem com que Portugal tenha financiamento garantido durante quase um ano. A recente volatilidade nos mercados não influencia as taxas de juro pagas pelo Estado neste momento.
De qualquer forma, qual foi o volume de negócios do mercado da dívida portuguesa ontem? Com um terço da dívida nas mãos dos credores oficiais e outro terço nas mãos de credores privados nacionais, não me parece que as vendas tenham sido significativas num mercado provavelmente moribundo e, logo, facilmente manipulável.
Finalmente, o importante. A credibilidade externa e o segundo resgate. Sejamos claros, os mercados financeiros são aqui irrelevantes. O que interessa é o papel das instituições europeias, em particular, do BCE. Como envergonhadamente os propagandistas nacionais vão admitindo, não existe nem existia nenhum rumo financeiro pós-troika - basta ver os dados do post abaixo do Nuno Serra -, mas sim um "programa cautelar" que substituirá o actual resgate. Se o BCE/MEE indicarem o apoio financeiro previsto, condicional a um segundo memorando, a turbulência nos mercados financeiros desvanece-se.
A credibilidade externa diz assim respeito somente às instituições que nos tutelam. Elas é que decidem a forma do inevitável "segundo resgate". Arriscando um pouco, não me parece que a UE opte pelo modelo grego, com reestruturação da dívida e perdas significativas para privados neste momento, sobretudo se lhe forem dadas garantias de que, qualquer que seja o resultado eleitoral, o país continua no caminho da austeridade.
A escolha é, pois, clara: ou enfrentamos a troika, declaramos uma moratória sobre a dívida e preparamo-nos para todos os cenários (o que obviamente inclui a saída do euro), ou nos submetemos à sua condicionalidade, como parece ser a escolha de Seguro, e fica tudo na mesma (cada vez pior). Se há algo que estes últimos dias nos demonstraram é que esta não é meramente uma escolha sobre política económica. É uma escolha sobre a democracia.
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3 comentários:
e parece que fica claro que a ALTERNATIVA não inclui o PS. O que tb deveria tornar-se claro para um Congresso Democrático que se quer das Alternativas...
O sr Coelho obcecado em cumprir com a troika para voltar aos mercados é uma ideia falida e o sr Seguro aposta no BCE para melhor nos enjaular na jaula europeia.
Obrigada.
É urgente esclarecer o tema da saída do Euro, combater o medo dos mercados, levar os portugueses a ousar imaginar um futuro diferente do que os políticos nos porpõem.
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