Embora sem grande impacto mediático, estão em curso as negociações para a criação de uma zona de livre comércio entre os EUA e a UE. O acordo é apresentado como uma oportunidade para redinamizar o crescimento económico de ambos os blocos, que representam à volta de metade de todas a exportações mundiais. De forma explícita ou implícita, velhas e novas teorias são convocadas para apoiar o processo, da teoria das vantagens comparativas de David Ricardo - onde a cada país trocará os bens onde detém vantagens comparativa pelos bens produzidos onde estes são relativamente menos custosos de produzir - até à "nova economia política" - a concorrência acrescida entre as empresas conduziria a ganhos de eficiência face a ambientes proteccionistas onde as empresas se concentrariam na captura dos poderes públicos.
A História mostra, no entanto, que, na verdade, o livre-cambismo é o proteccionismo dos mais ricos e fortes. Com muito poucas excepções (Holanda, Suiça), todos os países desenvolvidos adoptaram fortes medidas proteccionistas para proteger os seus mercados nacionais da concorrência externa, por forma a permitir o desenvolvimento de indústrias que, no seu estado inicial, são necessariamente menos competitivas. Dos EUA ao Reino Unido, passando pelos mais recentes casos de sucesso asiático (China e Vietname), o livre - cambismo só foi adoptado numa fase mais tardia do seu desenvolvimento como
forma de penetrar nos mercados externos. Os elogios ao papel do comércio internacional no desenvolvimento, como este aqui de Martin Wolf, têm, por isso, que ser tomados com uma boa dose de cepticismo.
O acordo agora em negociações entre a UE e os EUA coloca, mais uma vez, não só problemas ao impacto global desta liberalização em determinados sectores, como devia ser tomada com especial atenção por países como Portugal, cujas estruturas económicas diferem radicalmente dos países que comandam as negociações europeias. A experiência das negociações com a OMC (Organização Mundial de Comércio) e a forma como conduziram à depressão de regiões inteiras do país são razão suficiente para ver estas negociações
com preocupação.
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2 comentários:
Não haverá verdadeiro comércio livre ou mercado liberal ou que lhe quiserem chamar,enquanto os monopólios mandarem no sistema,assim é nos mercados financeiros também como podemos comprovar em Portugal e na Europa merkantilista.
Basicamente as empresas americanas querem entrar à força toda na UE, e inundá-la com os seus produtos medíocres (ou mesmo péssimos), mas que custaräo menos devido a economias de escala e maior poder negocial, e a orçamentos de marketing superiores ao PIB de certos países. Talvez se gastassem menos em marketing e mais em aumentar a % de componentes naturais dos produtos ficássemos melhor...
Mas enfim, também parte do consumidor, a Sumol näo tem €$trutura para combater uma multinacional como a que produz a horrível Fanta, mas em Portugal vai-se aguentando... mas näo se vai conseguir expandir e vender a sério para lá da França, tampouco nos EUA. E com uma liberalizaçäo, adeus rico Sumol!
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