sábado, 13 de outubro de 2012

Manual de instruções para austeritários em fuga

Não sabemos ainda quando (nem como) sairemos da insanidade em que nos mergulharam. Mas pode dizer-se que entrámos, nas últimas semanas, numa nova fase de evolução da crise: a evidência do fracasso da opção austeritária é cada vez mais indisfarçável e avassaladora. Bem podem os seus arautos e responsáveis continuar a insistir nos «amanhãs que cantam» que já ninguém acredita. Tinham-nos anteontem prometido que cantariam ontem. Tinham ontem prometido que cantariam hoje. E nem um pio se ouviu.

É bem certo que fanáticos, como Gaspar, sempre os teremos entre nós. De pouco importa se o navio que embateu violentamente nas rochas é já só um amontoado de destroços. No seu delírio, continuam a imaginá-lo em impante movimento, a aproximar-se do sonhado horizonte, por mais que este sempre se afaste. Esta é a primeira forma de fuga, a negação, e combina (em doses variáveis) crença com oportunismo: quando confrontados com resultados que escapam às suas previsões, os «austeritários negacionistas» ora respondem com uma fé inabalável e delirante, ora invocam razões obscuras, a que são alheios (vejam por exemplo como - na sequência da mais recente avaliação da troika - tanto Vítor Gaspar, como Abebe Selassie e Passos Coelho falam de «ventos favoráveis e desfavoráveis»: ora para justificar o fracasso a partir de elementos que não controlam, ora para renovar ilusões sem fundamento).

Uma outra forma de fuga corresponde a uma espécie de esquizofrenia inconsequente. Christine Lagarde personifica-a: mostra dar sinais de ter percebido o logro que constitui a receita suicida, referindo-se à «fadiga da austeridade» e reconhecendo os clamorosos «erros de cálculo» sobre os seus impactos na economia, ou sugerindo que o veneno seja tomado em menores doses e por mais tempo. Nada que, contudo, provoque mudanças na «outra personalidade», a que continua a aplicar a receita austeritária de forma impiedosa e implacável.

O chico-espertismo é uma terceira forma de fuga, de que se socorrem seres politicamente medíocres e invertebrados como José Manuel Durão Barroso. É a estratégia de evasão mais cínica e miserável: trata de tentar alijar responsabilidades de uma forma repugnante. Depois de forçar os países sob «intervenção externa», na parte que toca à Comissão Europeia, a aceitar a sangria austeritária (que nunca deixou de enaltecer) vem dizer - assim que começa a farejar o avolumar do fracasso - que afinal tudo não passou de uma maldade que os governos nacionais decidiram infligir aos seus cidadãos.

Imaginem uma unidade de cuidados intensivos onde um paciente é submetido a uma terapia errada, que não só não lhe cura o mal de que sofre como o está a matar. Desafiados a explicar por que razão o paciente não melhora sob os seus cuidados, a Dra. Lagarde diz que as doses de medicação têm efeitos secundários preocupantes e que foram mal calculadas, mas continua a administrá-las da mesma forma. O Dr. Barroso, por seu turno, culpa o doente por ter aceite a medicação que lhe foi prescrita. E o Dr. Gaspar (coadjuvado pelo Dr. Abebe), diz que não há problema nenhum com a prescrição: se não está a funcionar é porque andam uns ventos a soprar lá fora e que o que há que fazer é, seguramente, reforçar a dose terapêutica.

6 comentários:

simon disse...

O tempo da discussão educada terminou. Agora precisa-se é de revolução. Ex-vice-da Moody's
http://expresso.sapo.pt/ex-vice-da-moodys-apela-a-revolucao-na-zona-euro=f758145?fb_action_ids=290284347742341&fb_action_types=og.likes&fb_source=aggregation&fb_aggregation_id=288381481237582

Carlos disse...

A Merkel vem a Portugal em Novembro!! Há que organizar uma "recepção" que ela não se esqueça tão cedo...

Dias disse...

Lagarde ao falar em erros de cálculo, mostra em certa medida um pequenino recuo; Barroso lava as mãos como Pilatos, mostrando toda a cepa de que é feito, da gente que não presta (lembremo-nos que abandonou o cargo de PM em Portugal, e que foi ele que disse que estava(m) convencido(s) da existência de armas de destruição maciça no Iraque).
Resta-nos este governo cuja legitimidade já não existe, e onde pontifica Gaspar, o “funcionário internacional do frete”…O que é que eles quererão mais, agora, além das privatizações a preço de saldo?

Este governo tem que ir abaixo e é já!

Anónimo disse...

Austeridade = tentar gastar menos do que o que há para gastar para algum dia se conseguir pagar algumas dívidas.

E se / quando a austeridade falhar pela recusa dos viciados no crédito da república em abdicar do vício de décadas... what?

O IVA volta para 17%? Contratamos mais 50 mil professores? Lançamos mais 10 Parques Escolares? Que tal mais umas auto-estradas? Geramos "crescimento" com subsídios e investimento público? "Vai vir charters" de malta disposta a financiar isto tudo? Saímos do Euro e tudo o que consumimos dobra de preço mantendo-se os salários iguais?

Cuidado com o que desejam...

Nuno Serra disse...

Caro Anónimo,
Com todo o respeito, ainda não percebeu o que aconteceu nem o que se está a passar, pois não?
Cumprimentos

Anónimo disse...

Mas alguma vez alguém podia acreditar que a chamada austeridade iria resolver fosse que problema fosse a não ser lançar os povos na miséria.?
Só os ingénuos, e os maldosos nestes se incluindo, os Passos Coelhos, Gaspares, Portas, e Cª e externamente, as Lagardes, Merkels, Barrosos e outros quejandos.
Todos estes fulanos, pivôs da direita e extrema direita, nacional e internacional, embora apregoem que se preocupam e defendem os mais desfavorecidos e a classe média( paz á sua alma) são isso sim abutres em figura de gente.
Como todos eles bem sabem o que andam a fazer e disso têm intenção, são de facto e de direito pessoas muito perigosas que têm causado e causam grandes e inqualificáveis prejuizos ao ser humano.
Nesse sentido, são autênticos genocidas que um dia, mais cedo do que tarde, pagarão pelo que fazem contra a humanidade.
Durão Barroso, Gaspar e Passos Coelho e toda a sua miserável camarilha, esses, têm a agravante de serem contra a pátria.
A história, de certeza, há-de julgá-los e recordá-los como tal.
O povo Português, estou certo, não irá permitir que os abutres prevaleçam.