terça-feira, 26 de junho de 2012

A não-solução e as alternativas

«Aquilo a que o governo chama pomposamente “reformas estruturais” não passa de um eufemismo de “empobrecimento generalizado da população”. Um ano depois de Passos Coelho ter tomado posse é claro que este rumo não consegue sequer aquilo que garante fazer: Portugal não vai cumprir as metas draconianas que acordou com a troika. (...) Hoje confirma-se aquilo que muitos diziam sobre esta política ideológica e cega: não só não serve, como nem sequer é capaz de atingir os números que se propõe. O austeritarismo conduziu-nos a uma armadilha: aquilo que cortamos em despesas e aumentamos em impostos foi engolido por tudo o que perdemos em produção e emprego. O resultado é um país mais pobre e menos capaz de criar a riqueza de que necessita para viver.»

Do artigo «Um país de coelhos», de Nuno Ramos de Almeida, que merece ser lido na íntegra. Perante as evidências crescentes do fracasso da solução austeritária – que não só não resolveu os problemas como agravou a situação do país, obrigando-o a entrar numa calamitosa espiral recessiva – continua a preparar-se o terreno (sem subtilezas possíveis), para decretar novas medidas de austeridade.

A frase «não há alternativa», proferida até aqui por crentes convictos e por crentes resignados ao austeritarismo, começa agora a assumir os matizes próprios da auto-justificação («não havia alternativa...»). Como se estivessem ainda, apesar de tudo, a falar de uma receita credível, para assim a distinguir de outras, que tomam como inviáveis logo à partida.

2 comentários:

Dias disse...

“Um país de coelhos” – que nos reduz ao comportamento similar de tal herbívoro – é um título muito bem esgalhado…
Sobre os termos que vieram preencher a novilíngua – “reformas estruturais”, “ajustamentos”, etc. – tem razão o autor: trata-se afinal do empobrecimento generalizado da população. O que é preciso é haver disponibilidade para encher os bolsos à Troika, capitalizar a banca e suportar os custos dos negócios ruinosos que o Estado – a quem vestiram a pele do urso – fez.
Só um “iluminado” como o António Borges, e que tem muito tempo de antena, é que acha que a austeridade é uma inevitabilidade…para que “Portugal possa voltar aos mercados em 2013”. (Acho-lhes uma piada quando os vejo a falar em nome de Portugal…)

Primeiro. As privatizações não vão servir jamais para pagar qualquer dívida, tornaram-se simplesmente uma medida emblemática deste governo e do Borges. Mais que uma medida ideológica, é a oportunidade dourada para o (seu) encaixe.
Segundo. Enquanto o país deriva e desespera, o saque sob todas as formas continua (impostos, taxas, e por aí fora). NO FUTURE para os coelhos!
O Económico - esse jornal que se tornou no porta-voz dos “mercados” – citava ontem que os “portugueses vão optar por fazer férias mais perto…”. Mas quais portugueses?

Não acham que está na hora de rasgar o “memorando de entendimento” da Troika, ou é preciso fazer um desenho sobre a austeridade?

Anónimo disse...

"Na mesma data também comemoramos um ano de impotência de uma esquerda incapaz de canalizar o desespero e organizar a esperança. ... Qualquer alternativa terá forçosamente de basear-se na construção de uma maioria social contra estas políticas, num processo que comece por ...Transformar o desespero em acção e esta em esperança."

Desde 2008 que adiamos sistematicamente a transformação do "desespero em acção e esta em esperança", pela urgência que parece haver nos debates e análises filosóficas e académicas sobre... o que FAZER!!!