terça-feira, 11 de outubro de 2011

A crise (adiada) do neoliberalismo - parte IV

(Continua daqui: I, II e III)

Outro aspecto característico da era neoliberal consiste no aumento das desigualdades sociais. Por um lado, como se viu atrás, a liberalização dos movimentos de capitais reduziram o poder negocial dos trabalhadores (nomeadamente dos menos qualificados), traduzindo-se na redução da parcela dos salários nos rendimentos nacionais. Por outro lado, reduziu-se também o poder negocial dos Estados face às empresas multinacionais (ou com capacidade de internacionalização), conduzindo à diminuição do contributo dos impostos sobre os lucros para a receita fiscal, parcialmente compensada pelo aumento dos impostos sobre o trabalho e sobre o consumo.

Esta recomposição dos sistemas fiscais resultou na redução dos serviços sociais fornecidos ou financiados pelos Estados, uma maior penalização fiscal dos assalariados, ou ambas. Em qualquer caso, assistiu-se a um agravamento da desigualdade de distribuição dos rendimentos, que beneficiou fundamentalmente um pequeno grupo de indivíduos. Tomando novamente os EUA como referência, o rendimento dos 1% de indivíduos mais ricos da população subiu de menos de 10% em meados da década de 1970 para mais de 20%.

Fonte: Emmanuel Saenz, http://elsa.berkeley.edu/~saez/

Num contexto em que as oportunidades de investimento no sector real da economia estão condicionadas pela pressão sobre os salários, grande parte da poupança das classes mais abastadas acaba por ser aplicada nos mercados de activos financeiros e não financeiros, reforçando as dinâmicas especulativas atrás descritas.

(Texto publicado no anuário JANUS 2011-2012. Continua.)

1 comentário:

AMCD disse...

São excelentes e esclarecedores estes artigos da crise do neoliberalismo, doutrina que muitos renegam ou não gostam de ouvir falar.

A solução para o problema das crises parece ser clara: regular os movimentos de capital financeiro e especulativo no mundo. Estabelecer regras claras e leis que deverão ser seguidas por todos, à escala mundial. O problema é que falta uma governação a nível mundial para impor tais regras e os líderes dos Estados não concertam passos para estabelecerem essas regras. Os seus partidos, geralmente são financiados pelas empresas e organizações que beneficiam com essa livre circulação de capitais. Por isso os governos atentam mais nos caprichos dos mercados do que nas necessidades dos cidadãos.

O corolário de tudo isto é a crise das democracias e dos Estados.