segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Da (não) Recuperação Económica

Se bem que a discussão económica tenha dado por assente o fim da crise e a sua atenção se tenha deslocado para o combate ao endividamento do Estado, as recentes noticias mostram que a recuperação ainda é uma miragem. Os números do desemprego nos EUA foram revistos am alta e as vendas a retalho caíram, depois de aparentemente terem recuperado nos meses de Outubro e Novembro. Na Europa, o mesmo movimento de ajustamento de inventários, erradamente interpretado como dinamismo, parece ter acontecido. Os últimos números de crescimento do PIB para a Alemanha mostram um retorno à estagnação no último trimestre. Na verdade, só não estamos num plano inclinado de contracção do PIB e deflação (como na Grande Depressão) graças ao peso do Estado na economia. O movimento do sector privado foi compensado pelo aumento da dívida pública - mais graças aos estabilizadores automáticos (aumento da despesa com prestações sociais ao mesmo tempo que a receita fiscal caía) do que aos tímidos programas de estímulo.

A única excepção neste panorama é o dinamismo exportador da China. Contudo, esta não é mais do que a mesma configuração da economia mundial que, com os seus profundos desequilíbrios externos, deu origem à crise - os excedentes externos, de países como a China, financiaram a especulação financeira americana. Novas fontes de crescimento económico, para além do consumo americano e do investimento chinês, são necessárias e a China tem sido pressionada no sentido de promover o seu consumo interno em detrimento das suas exportações através do aumento dos salários, redução das suas taxas de poupança e revalorização da sua moeda, o Yuan. O governo chinês percebeu que este modelo é insustentável e prepara-se para gastar enormes somas no reforço da segurança social e sistema de saúde. A necessidade das familias para poupar será assim reduzida e o seu consumo deverá aumentar.

No entanto, esta nova direcção está ser prosseguida a um ritmo longe do pretendido pelos EUA e pela Europa. Não existe qualquer indício de que o câmbio fixo do yuan ao dólar esteja para ser revisto. A orientação externa da economia chinesa é, pois, para manter. No que toca aos riscos de criação de bolhas especulativas graças ao crédito e moeda baratos que muitos têm apontado, os chineses respondem com a regulação financeira (há quem a pratique) no sentido de condicionar o volume de crédito na economia.

Face a este cenário, EUA e Europa só têm uma saída: continuar a gastar. Mas estes gastos devem ser dirigidos para uma reconfiguração da economia que permita apostar em novas indústrias, locomotivas do crescimento. As propostas para um New Deal verde vão nesse sentido. E, segundo este artigo da The economist, a ressurreição da política industrial parece ser uma realidade. Quando é que começamos a discuti-la a sério no nosso país?

3 comentários:

Anónimo disse...

Não sou economistas mas, como entre eles, especialistas, reina a divergência das análises, sinto-me no direito de perguntar: mas não tem sido o aumento do consumo chinês ( entre outros)nomeadamente de produtos alimentares que esteve na origem da brusca subida dos preços de há dois anos? Se os padrões de consumo de chineses e indianos, para não falar noutros ainda em estádios de consumo mais desfavoráveis, evoluir no sentido dos "ocidentais" que sucederá? Onde parará a desflorestação, que pressão sofrerão os africanos aliás as suas fontes de mat. primes etc. etc. etc.? Um número: A China comprou ao Brasil, em 2008, 30.000.000 de toneladas de soja! O aumento do consumo de carne a tal obriga e tal obriga ao desbravamento de novas terras numa espiral sem limite. Era necessário uma nova hierarquia de valores, um homem novo (onde é que eu já ouvi isto!)

lg

J Gusman Barbosa disse...

Também não sou economista, e nem sei se terá algo a ver com este post. Mas tem alguma coisa a ver com as politicas macro-economicas chinesas, o bum de grandes superfícies chinesas(que segundo ouvi têm apoio do governo chinês) que acontece em Portugal (aqui em Braga o numero de metros quadrados deste tipo de lojas, deve ter sido multiplicado por 20) e eventualmente noutros países? É que eu não consigo ver onde está o lucro daquilo

Bruno Silva disse...

Uma nova aposta no sector primário e secundário é o que eu tenho vindo aqui a falar há muito!!

Vocês é que teimam em manter o discurso do investimento em TGV's, betão, asfalto e distribuição de subsídios sem critério (basta ver o ataque do João Rodrigues à proposta do CDS de revisão do rendimento mínimo) e, como mostram os números do investimento, as empresas não estão dispostas a pagar isto tudo.. quer queira quer não o investimento privado é livre, e só existe se houver estímulo para tal (certamente pagar carradas de impostos num país com baixa produtividade não é estímulo nenhum)! Curiosamente, o que vocês cegamente propõem é a manutenção do despesismo público... agravando a recuperação do investimento... depois vêm com o discurso de treinador de bancada de que é preciso isto e aquilo.. enfim…