domingo, 23 de novembro de 2008

Sinais dos futuros próximos

Pois eu já receava que isso viesse a acontecer: o dia em que estou de acordo com Vasco Pulido Valente (ver no Público de hoje) e sinto necessidade de o dizer.

“Uma pessoa abre o jornal ou liga a televisão e revê, pasmado, a velha propaganda antidemocratica de 1930”. Pois é. Reformas, que só se podem fazer contra as ‘corporações’ e cujo acerto deve ser medido pela dimensão do protesto que suscitam… O protesto vem sobretudo dos que garantem com profissionalismo o funcionamento dos tribunais, dos serviços de saúde, das escolas, das forças armadas, das empresas? Isso não interessa nada, “o que eles querem sei eu”, as reformas têm de ser feitas contra eles. Daí à necessidade de suprimir os protestos para fazer as reformas vai um só passo. Uns quererão dá-lo, outros não. Veremos.

Já sabíamos: privatização, expansão da esfera mercantil e autoritarismo político combinam-se bem em certas circunstâncias. Sabemos também: perante cenários de ‘catástrofe’ surge sempre, vindo donde se espera e donde menos se espera, apoio para, ‘pequenos’ intervalos no exercício das liberdades.

Para os futuros próximos de que já há sinais, a(s) esquerda(s) terão de demonstrar a governabilidade da democracia. Disso depende a contenção do pânico que pode tornar atractivos os refúgios não democráticos. Para isso não precisam apenas, como escrevia há dias Mário Soares na Visão, de uma nova retórica, mas de novas ideias e novos actores: ideias e actores não comprometidos com os forrobodós da finança, nem com as terceiras vias neoliberalizantes.

Pela governabilidade democrática e em ruptura com o governo e o PS-Sócrates (e as suas reciclagens eleitorais) há uma ampla esquerda que precisa de comunicar e pensar em conjunto para formular políticas e (em conjunto) apresentá-las a quem terá de fazer as escolhas. Isto já foi dito, agora precisa de ser feito.

3 comentários:

Anónimo disse...

Sim, e' este tipo de praticas na politica que deteriora a democracia: a atitude de reformar contra uma classe, aliada 'a assumpcao de poder absoluto legitimado pelo escrutinio popular. A democracia nao se constroi no dia das eleicoes, mas sim no dia em que as pessoas (o povo, na anterior versao da constituicao) forem ouvidas. Tambem e' curioso que a lingua portuguesa nao tenha uma palavra que literalmente denomine "stakeholder", remetendo sempre para "a parte interessada". (o interesse nao e' necessariamente bom).
A accao directa e a democracia participativa esbarram sempre no medo que as organizacoes tem em deixar as pessoas ter ideias. Alguem tem uma ideia do racio de cidade do pais que utilizou o orcamento participativo?

O Puma disse...

Estou de acordo

não basta ter razão

contra esta maioria

esmagadora

Vitor Esteves disse...

Como diz o povo: "falar é fácil .... " haja quem se meta ao caminho que não faltarão companheiros para a viagem. Agora, não estejam á espera que sejam os estivadores a agarrar o leme do navio ....