quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

José Manuel Fernandes e a economia moral

«Alguns dos casos, empresariais mas não só, que têm chocado a opinião pública são resultado de um mesmo mal de embriaguez, de uma mesma falta de probidade que, mesmo quando não existem leis escritas, indicam que há limites que não devem ser ultrapassados ( . . .) E se as leis podem evoluir para controlar os excessos, o mais valioso capital social de uma comunidade está para além das leis, está nas regras de comportamento não escritas que tornam insuportável aos seus membros conviver com o excesso de injustiça. Ou ser parte dessa injustiça». Agora só falta que estas «regras de comportamento», durante muito tempo corrompidas pela hegemonia de ideologias mercantis, se transformem em movimento colectivo para alterar as «regras do jogo» que influenciam quem se apropria do quê e porquê. Porque não estamos só a falar de «excessos», mas também das consequências, mais ou menos inevitáveis, de certos arranjos institucionais que geram desigualdades injustificáveis que minam qualquer possibilidade de confiança e cooperação.

1 comentário:

Pedro Viana disse...

"Porque não estamos só a falar de «excessos», mas também das consequências, mais ou menos inevitáveis, de certos arranjos institucionais que geram desigualdades injustificáveis que minam qualquer possibilidade de confiança e cooperação."

Concordo totalmente. Não me deixa de espantar a capacidade de certas pessoas, como JMF, de acreditarem simultaneamente em dois postulados obviamente incompatíveis. JMF, como é típico na Direita, acha que a Esquerda é irrealista e utópica porque acredita na existência ou na possibilidade de emergência dum "homem novo": solidário, pacífico, igualitário. Para eles a Direita é que é realista, ao basear as suas políticas na real natureza humana: egoísta, brutal e opressora. Mas depois JMF aparece a clamar pela necessidade de **voluntariamente** os homens decidirem ser altruístas e justos. Sou só eu que vejo aqui uma contradição?!... Parece-me que JMF anda a oscilar inconsequentemente entre o neo-liberalismo, que deusifica a competição e o egoísmo, e a democracia-cristã, com a sua ênfase no "altruísmo da dádiva e do despojamento".

Eu não tenho grandes ilusões sobre a natureza humana. Acima de tudo ela é muita flexível, sendo possível quer o altruísmo quer o egoísmo mais brutal. Em grande parte tal depende das relações pessoais e sociais que são promovidas numa dada sociedade bem como das instituições de controlo social, i.e. de carácter "estatal".