segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

A crise de uma crença II

Hillary Clinton está equivocada, pelo menos no que se refere aos EUA: aqui a crença nas virtudes ilimitadas do «comércio livre» não só não serve para a «economia do século XXI», como não serviu para a do século XX e sobretudo não serviu para a economia do século XIX. De facto, a teorização da estratégia proteccionista de desenvolvimento industrial tem como um dos principais pioneiros teóricos uma figura cujos país lutava no século XIX contra a imposição do comércio livre por parte do Reino Unido: Alexander Hamilton (1755-1804), secretário do tesouro de Washington que redigiu, em 1791, o famoso «Report on the Manufactures of the United States» (é a figura da nota de dez dólares). Foi nos EUA que Fredrich List aprendeu tudo o que havia para aprender sobre proteccionismo comercial. E durante todo o século XIX, os EUA tiveram das mais altas taxas alfandegárias do mundo. No século XX, sempre que foi conveniente, não hesitaram em recorrer a tarifas e outras formas de protecção. A crença nas virtudes irrestritas do comércio internacional fica para os economistas ortodoxos e para os outros países (Bill Clinton era um especialista a vender a ideia). E até os economistas ortodoxos estão a perder a convicção. Ainda bem. Pode ser que os países em vias de desenvolvimento possam recomeçar a poder imitar os EUA.

Nota promocional antecipada: eu e o Nuno Teles temos um artigo, intitulado «Globalização e Utopia de Mercado - o ‘vício ricardiano’ à prova da história» a sair num livro sobre globalização que estes senhores estão a editar. Procuramos juntar e sistematizar argumentos heterodoxos que estão a ser reabilitados e que contestam a teoria das vantagens comparativas. Este livro lançado este ano é um excelente exemplo desta linha de investigação:

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