segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

A crise de uma crença I

«Eu concordo com Paul Samuelson, o famoso economista, que recentemente falou e escreveu sobre como a ideia das vantagens comparativas [que serve de suporte à abordagem liberal ao comércio internacional] pode não servir para descrever a economia do século XXI em que nos encontramos». Hillary Clinton em entrevista ao Financial Times. Duas notas: (1) Paul Samuelson é provavelmente o economista mais influente do pós-guerra e entre as suas muitas contribuições teóricas contam-se vários refinamentos da teoria das vantagens comparativas de Ricardo e um manual de introdução à economia («o Samuelson» que qualquer estudante de economia, em qualquer parte do mundo, terá aberto pelo menos uma vez na vida); (2) um dia Paul Samuelson foi desafiado a dar um exemplo de uma teoria económica que fosse incontroversa e desafiasse o senso comum e ele respondeu a teoria das vantagens comparativas. Agora parece ter algumas dúvidas. A China a Índia são os pretextos.

6 comentários:

A. Cabral disse...

E' impressionante que homem com 92 anos continua tao productivo. Sabias que o tipo tinha a paranoia que ia morrer cedo. Como os herois romanticos da matematica do seculo XIX?

João Rodrigues disse...

Tens razão. Os economistas académicos bem sucedidos parecem viver longas e preenchidas vidas (há algum estudo sobre isto?). Lembro-me de vários (Galbraith, Coase, Hirschman, Arrow). Agora o Samuelson ainda publica em revistas académicas...

Não sabia disso. Conta mais.

A. Cabral disse...

Nos seminarios no MIT, o Samuleson gostava de contar a historia do Frank Ramsey.

Ramsey foi um jovem matematico de Cambridge, que colaborou alegadamente com o Keynes, de facto mais com o Pigou. Conta as lenda que aprendeu alemao numa semana a ler o Kant, e traduziu o Tractatus do Wittgenstein para ingles. Na realidade sabia alemao desde o jardim escola e viu-se 'as aranhas para fazer a traducao.

E' um mito de homem, um equivalente para os economistas dos tragicos matematicos do seculo XIX que criaram uma aura de genialidade em torno da profissao matematica. Ainda hoje perdura essa construcao: o matematico prova o seu genio em jovem, e ganha a fields medal.

O Samuelson usou o Ramsey com frequencia em papers e aulas nos anos 50. Por motivos retoricos, e porque ele tambem, filho de pai falecido prematuramente, julgava-se destinado a uma vida brilhante mas curta.

João Rodrigues disse...

Obrigado. É verdade que o Samuelson se recusa a colocar o arquivo dele à disposição dos investigadores? Ouvi isto já não me lembro onde.

A. Cabral disse...

Acho que ouviste de mim... E' o que se diz aqui na terra dos arquivos.

João Rodrigues disse...

Foi de ti sim senhor. Já me lembro da conversa. As voltas que a memória dá...