domingo, 9 de dezembro de 2007

As lições de Chang VII - EUA, campeões da via intervencionista e proteccionista para o desenvolvimento

Em 1791, Alexander Hamilton, o primeiro Secretário do Tesouro dos EUA, apresentou ao Congresso o Report on the Subject of Manufactures, onde apresentava o seu programa para o desenvolvimento da indústria americana. Esta foi a primeira vez que a expressão ‘indústria nascente’ foi utilizada, para defender a necessidade de recorrer a medidas proteccionistas com vista à promoção da indústria nacional (opondo-se assim às posições do recentemente falecido Adam Smith, à época o mais famoso economista do mundo).

No seu relatório, Hamilton defendia medidas como: taxas aduaneiras proteccionistas, proibição de importações, subsídios, proibição de exportação de matérias-primas cruciais, liberalização da importação e redução de taxas alfandegárias sobre inputs, prémios e patentes para as invenções, regulação de standards, desenvolvimento de infraestruturas de transportes.

O relatório de Hamilton constituiu a principal referência da política económica americana até ao fim da 2ª Guerra Mundial. Só no pós-guerra, quando a sua supremacia industrial estava estabelecida, é que os EUA liberalizaram o comércio e se tornaram grandes defensores do comércio livre. Mesmo assim, os EUA nunca praticaram o comércio livre ao nível da Inglaterra de finais do século XIX (e.g., 50 a 70% das despesas com I&D realizadas nos EUA entre meados da década de 1950 e meados da década de 1990 foram subsidiadas pelo governo federal - o que se revelou crucial para a liderança americana em sectores como os computadores, os semi-condutores, as biotecnologias, a Internet e a indústria aeroespacial).

Como é que o neoliberalismo pode argumentar que o comércio livre está na origem do sucesso dos países ricos, quando a adesão destes aos princípios do livre-câmbio só aconteceu depois de eles serem ricos?

1 comentário:

Anónimo disse...

Já são muitas "lições de Chang" sem comentários, o que me parece imerecido.
A coisas destas é que eu chamo "Serviço Público".
Acaso foi esta (útil) divulgação de iniciativa estatal? Creio que não; há um indivíduo que compra, ou de alguma maneira obtém, um livro, o lê, e procede à sua divulgação "mastigada" (trabalho voluntário!).
Ao Estado o que é do Estado (que, até ver, é um mal necessário)...
Quanto à "vulgata" liberal/neoliberal, estamos conversados.
O liberalismo "civilizou-se" devido, em grande parte, às lutas operárias. Eis senão quando... cai o Muro e, sem oposição organizada, retoma a sua "vis" predadora original.
Portanto, o que há a fazer é simples (tem-se visto que não é fácil)- construir uma OPOSIÇÃO ORGANIZADA - enquanto é tempo...

Vitor Correia