quarta-feira, 7 de abril de 2021

Todo um programa, em forma de notícia


No âmbito de um ciclo de debates sobre o Programa Nacional de Reformas, organizado pelo Expresso e a Deloitte, a jornalista Joana Nunes Mateus dava nota, a 30 de março, de que o próximo seria «dedicado à emergente fileira da saúde», acrescentando que «o mote para a discussão é se o PRR não terá público e passado a mais. E privado e futuro a menos». Ou seja, balizando à partida os termos do debate: o público é passado e o futuro da saúde está no privado. Assim, sem pestanejar, num vício de pensamento que não é novo, muito colado à ideia de «reformas estruturais» (que são sempre de direita, lembrem-se) e de «modernização = privado», mesmo depois de se ter tornado evidente o papel decisivo do SNS e o comportamento deplorável da saúde privada na gestão da pandemia.

Com um embrulho tão sugestivo, a prenda não fica atrás. Em peça do dia anterior, o Expresso referia-se aos oradores. Para além das presenças institucionais do Secretário de Estado da Saúde e do Bastonário da Ordem dos Médicos, participariam Joaquim Cunha (diretor executivo do Health Cluster Portugal, que lamenta que «o PRR tem por de mais a parte pública e por de menos a parte das empresas e da economia real»), Carlos Cruz (partner e Life Sciences & Health Care leader da Deloitte, que lamenta que as verbas do PRR «para a resiliência do Serviço Nacional de Saúde vão financiar iniciativas que estavam pensadas e adiadas há anos e anos», em vez de apontar para «reformas transformacionais») e Nelson Fontainhas (partner da Deloitte). Ou seja, sem um debatente que pudesse ser associado à defesa do SNS e do papel direto do Estado na saúde, entre os muitos nomes possíveis. Mas há quem não veja nisto todo um programa e prefira pensar que se trata apenas de uma debate...

4 comentários:

Jose disse...

Se houvesse a coragem de fixar um critério que pudesse fixar limites aos serviços de saúde pública, talvez estes tivessem um futuro mais risonho.
Mas com o tudo a todos não vai lá.

jose duarte disse...

Recentemente foi apresentado, por uma equipa constituída por investigadores do Instituto Superior de Economia e Gestão pela EY Parthenon coordenada pelo investigador Augusto Mateus, um estudo sobre a necessidade de reformar o SNS e desenvolver a ideia: "é absolutamente crucial passar da ideia de SNS para sistema nacional de saúde moldado em torno do SNS". Cujo objetivo é moldar e construir um modelo, com base em parcerias entre o público e o privado.....

Refer&ncia disse...

basta ver o que os eua pagam pela (falta de) saúde que não têm para perceber que a saúde privada é só negócio com a doença do cliente.

Lowlander disse...

https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/valor-do-r-esta-acima-de-1-em-todas-as-regioes-com-excecao-de-lisboa-e-vale-do-tejo-725799

Quem defende equilibrio entre saude publica e economia/sociedade e depois nao acautela a manutencao do R sustentadamente abaixo de 1 nao esta a equilibrar rigorosamente nada.
Valor R sustentadamente acima de 1 significa eventual confinamento, tanto mais prolongado e severo, quanto mais tempo se deixar correr a situacao.

Tambem e giro notar como agora, que temos uma real experiencia no terreno de re-abertura das escolas bastante tempo antes do resto da economia, ninguem esta interessado em analisar com graficos giros as tendencias de evolucao da epidemia em Portugal. Nomeadamente a evolucao dos numeros de casos positivos em criancas em idade escolar.

Tambem acho giro como ninguem faz comparacoes com aquilo que o resto da Europa Continental esta a experimentar com a epidemia.

Tudo isto e giro e deprimentemente previsivel. Pode ser que tenham sorte com o tempo mais quente.
Certo certo e que o mes de Maio afigura-se de momento, uma perspectiva interessante.