De acordo com os mais recentes dados do INSA, no primeiro trimestre de 2021 nasceram cerca de 18.200 bebés, valor inferior ao registado no trimestre homólogo de 2015 (cerca de 20 mil nascimentos), que era já o mais baixo desde 1995. Trata-se, portanto, de um novo passo na tendência de queda deste indicador, depois da ligeira recuperação ocorrida entre 2015 e 2020, no ciclo de descendente iniciado em 2000.
Tal como a taxa de mortalidade infantil nos diz muito mais sobre as condições de vida em geral do que o simples resultado da ponderação dos óbitos infantis pelo número de nados-vivos - refletindo desde logo o grau de acesso e cobertura de cuidados de saúde - também o número de nascimentos revela mais que a simples variação do seu valor. À semelhança de indicadores mais usuais sobre os «estados de alma da economia», que avaliam a perceção dos cidadãos e das empresas sobre níveis de «confiança e clima económico», regularmente publicados pelo INE, de natureza mais conjuntural, também a natalidade é em grande medida reveladora da confiança com que as famílias encaram o futuro.
Não por acaso, aliás, as duas quebras recentes mais significativas, em termos de número de nascimentos, se associam a contextos de crise (para lá da questão das opções de vida). No primeiro caso, a que resulta da crise financeira, com a adoção das políticas de austeridade no quadro do projeto de «empobrecimento competitivo» em que a maioria de direita se empenhou entre 2011 e 2015. Mais recentemente, refletindo as dificuldades e o ambiente de incerteza gerado com a crise pandémica. A juntar, evidentemente, a fatores mais estruturais, relacionados com a precariedade laboral, baixos rendimentos, dificuldades de conciliação entre o trabalho e a vida familiar, entre outros. Não por acaso também, à escala europeia é sobretudo na sua periferia a sul (Portugal, Grécia, Espanha e Itália, a par da Finlândia) que se têm registado as mais baixas taxas de natalidade. O que também diz muito sobre a própria UE e os efeitos das suas políticas de «convergência».
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2 comentários:
Subscrevo.
Eis uma matéria em que parece não haver expectativa de uma produção estatal antes de um qualquer 'admirável mundo novo'.
A pandemia pode vir a trazer um efeito positivo se a dinâmica do 'ter que divertir-se e viajar antes' perder o impulso que atira a maternidade bem para lá dos trinta anos.
Quanto à economia, as expectativas continuam baixas e advinham-se pouco promissoras neste ambiente que alia à acção predadora do Estado a lenga-lenga que desmerece e coloca sobre suspeita toda a iniciativa que ultrapasse a dimensão liliputiana.
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