terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Cacafonias


Primeiro, ouça-se esta curta conversa com João Cravinho tida em 1985 (a partir do segundo 28), ao tempo do primeiro governo Cavaco Silva. Foi há mais de 30 anos e, ao que parece e a julgar pelas afirmações do ministro Augusto Santos Silva - e do senso comum - não se melhorou muito desde então.  

Por isso, tornou-se ridícula a atitude das confederações patronais que reagiram ao modo do século queirosiano, oferecendo a sua disponibilidade para dar umas bengaladas verbais ao ministro. E mais ridícula a atitude do ministro que acabou por ajoelhar diante dos envelhecidos empresários, pedindo desculpa e tornando-se - ele também - um ministro queirosiano e - ainda por cima! - medricas.

É irrelevante discutir quem razão. Toda a gente sabe quem a tem. O que é essencial discutir é as razões dessa realidade, passados que foram mais de 30 anos sobre as declarações de Cravinho, que por sua vez já era uma realidade com várias décadas antes disso. Creio que a atitude dos empresários e do ministro explicam muita coisa.

Claro fica, também, o fracasso estratégico da orientação neoliberal - levada a cabo pelos governos de Cavaco Silva e seguida pelos governos PS e seguintes - de confrontar à força os empresários nacionais com um enquadramento europeu mais exigente, como medida para obrigá-los a crescer mais competitivos. Quase 30 anos de sistema monetário europeu e moeda única não mudaram e, se calhar, fragilizaram mesmo o tecido empresarial.

Mas nem isso empresários e ministro são capazes de dizer.

8 comentários:

Geringonço disse...

E não podemos deixar de parte a comunicação social!

A comunicação social, na sua maioria, é uma lambe-botas da Confederação Empresarial de Portugal!

Smiley Lion disse...

Ao ajoelhar o ministro Silva não só se humilhou como passou o ónus dos "principais problemas das empresas" para o desempenho dos "preguiçosos", "langões", "absentistas" e "desqualificados" trabalhadores nacionais....
Curiosamente são os mesmos trabalhadores nacionais que nas empresas multinacionais instaladas em Portugal e em países estrangeiros atingem índices altíssimos de excelência e de produtividade. Vá-se lá saber porquê......!!!!

Jose disse...

A principal razão da ineficiência do patronato é a de não se assumirem como patrões.
Põem-se a efabular relações com 'colaboradores', cooperações com a cretinagem da governação, moderações nas reacções às armadilhas da burocracia parasitária, e obviamente acabam por não fazer o que lhes compete: agilizar processos, rentabilizar investimentos!

Jaime Santos disse...

Trata-se de um péssimo exemplo de diplomacia económica e Santos Silva tinha que se retratar, noblesse oblige.

Mas é verdade? Claro que é, aliás o nosso capitalismo adora as rendas e a proteção do Estado também porque os gestores são fracos e não se aguentam sozinhos. Lembram-se do prémio do Bava? Foi o que se viu...

Convém claro dizer que quando os anti-capitalistas governaram o País, o resultado foi ainda pior... Até fizeram provavelmente um favor a muitos empresários, cujas linhas de produção ou métodos de gestão, aquando da nacionalização, estavam obsoletas, e que foram depois receber as indemnizações...

O tuga, público ou privado, é mau gestor. Ponto... Convinha que aprendesse com os odiados alemães...

João Ramos de Almeida disse...

Caro Jaime,

Convinha lembrar que os "anti-capitalistas" na verdade nunca governaram o país. Mesmo sendo ligeiro na consideração do seu conceito, poder-se-ia dizer que foi um ano e meio, e com a participação militante até do PSD que nessa altura queria rumar ao socialismo.

Mesmo os grandes patrões tinham desertado. E poucas condições foram dadas para que essa nova experiência vingasse. Se a adesão à CEE em 1976 não fez tudo logo desde esse ano, o FMI encarregou-se do resto. E quando deram condições aos grandes empresários para regressar fizeram-no a expensas do Estado ou de outros grupos estrangeiros. As privatizações foram o maior desestre face ao milagre que - teoricamente - iriam operar. Não baixaram os preços, não criaram grupos nacionais, não tornaram mais eficientes os recursos nacionais.

Portanto, calma nas apreciações quanto ao "anti-capitalismo".

Geringonço disse...

O "anti-capitalista" Mário Soares pediu ao amigo François Mitterrand para que emprestasse dinheiro ao amigo Ricardo Salgado...

https://youtu.be/cVZ1pma2w9k

Tudo entre amigos, os outros que paguem o regabofe!

Paulo Marques disse...

Jaime, esses grandes gestores alemães incluem os gestores da VW, do Deutsche Bank ou da Ferrostaal? Só para saber.

Anónimo disse...

"Jaime, esses grandes gestores alemães incluem os gestores da VW, do Deutsche Bank ou da Ferrostaal? Só para saber."
Nem mais!

Ou ainda aqueles grandes gestores alemães que em 2008 "perderam" (sniff! lágrima ao canto do olho) as "poupanças" dos "bravos aforradores alemães" no casino dos sub-primes?

ROTFL

Tudo gente com muito esperto no cabeço. Ou talvez não...

Da mesma qualidade dos grandes gestores alemães que à lambuz do lucro fácil investiram na deslocalização para a China sem cuidar da sua PI (propriedade intelectual), e que acabaram por criar concorrentes que agora lhes mordem nas canelas.

Gente esperta é outra coisa. LOL

A "sabedoria" dos gestores alemães é a dos marinheiros que só sabem navegar com ventos favoráveis ou dos valentes lutadores que só combatem com adversários amarrados por tratados traiçoeiros.

https://www.zerohedge.com/economics/european-manufacturing-downturn-deepens-december

Tic-Tac,Tic-Tac,Tic-Tac,Tic-Tac,Tic-Tac...