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Por falta de informação, é difícil ser-se perentório na recusa ou aceitação plena de qualquer destas hipóteses. A eventual recomposição, entre 2015 e 2018, do perfil socioeconómico dos alunos (no sentido do «empobrecimento») é impossível de precisar: há muito, muito tempo, que não há maneira de dispormos de dados relativos a estes alunos, como os que já existem para os do ensino público (e sabemos muito bem por quê). Terão escolas privadas sido forçadas, com a redução da procura (gerada pela própria crise e pelo rigor na celebração de contratos de associação), a reduzir o valor das propinas, relaxando os mecanismos de seleção dos alunos? Se sim, em que escala? Não sabemos. Terão muitos pais, com a degradação funcional da escola pública empreendida por Nuno Crato, feito um esforço financeiro adicional para inscrever os seus filhos em escolas privadas? Se sim, em que escala? Também não sabemos.
Quanto à intensificação da preparação para os exames, sobretudo pelos privados, faltam estudos que nos pudessem esclarecer. Mas sabe-se, e não é de hoje, da sua propensão para fazer dos exames o foco das aprendizagens (levando até à criação - muito mais improvável nas escolas públicas, pela sua natureza e resiliência institucional - de tempos e espaços próprios dedicados a essa «missão»). Tal como se sabe que há privadas no topo dos rankings, mas cujos alunos têm dos piores resultados no ensino superior (como assinalou o Luís Aguiar-Conraria). E é neste quadro que surge Crato, a hipervalorizar a avaliação externa, afunilar o currículo e a apostar na memorização como tarefa central do aprender. Ou seja, opções incentivadas politicamente e que tendem a colar melhor com a natureza e objetivos das escolas privadas, mas que não potenciam aquilo que o PISA mede: competências. Isto é, a capacidade de resolver problemas novos e relacionar conteúdos, apostando sobretudo na compreensão (e junte-se já agora, a isto que o PISA mede, a menor diversidade de perfis e origens socioeconómicas dos alunos do privado, com óbvias implicações no processo de formação pessoal e na aquisição de competências relacionais, para lá da aquisição de conhecimentos).
Todas estas coisas não são evidentemente novas e apenas há razões para pensar que se possam ter reforçado entre 2015 e 2018. E reconheça-se, portanto (como já se defendia aqui), que se trata de dinâmicas que não parecem ser, por si só ou em conjunto, capazes de explicar por inteiro a dimensão da queda dos privados no PISA de 2018. A menos que, claro está, os necessários dados - de que não dispomos - nos viessem mostrar que sim. Há de facto algo mais que parece estar em falta para compreender a amplitude do estoiro, mesmo que as questões referidas dele façam parte. O que só reforça, por sua vez - como propõe e bem Alexandre Homem Cristo - a necessidade de tirar a limpo se houve ou não um erro metodológico (designadamente na constituição da amostra dos privados) no PISA de 2018.
1 comentário:
Há também uma outra possibilidade, só que mais difícil de comprovar.
E se "houve ou não um erro metodológico (designadamente na constituição da amostra dos privados) no PISA" não em 2018 mas nos anos anteriores em que os resultados dos privados eram mais brilhantes?
Note-se que esta hipótese estaria mais de acordo com os fracos resultados dos privados durante a frequência do ensino superior.
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