Um recente estudo do MediaLAB (ISCTE), publicado no European Journalism Observatory, dá conta do enviesamento do comentário político face ao espectro partidário português. Tomando como referência os espaços televisivos de diferentes estações, constata-se a prevalência de comentadores de direita, filiados ou não em partidos. De facto, a direita assegura em média cerca de 60% dos intervenientes em programas de comentário e debate político nos principais canais (generalistas ou de informação), somando os intervenientes à esquerda apenas cerca de 30% e os comentadores não alinhados 11%. Como referem os autores do estudo, que analisa 53 espaços semanais fixos de opinião, a maior presença da direita nas televisões portuguesas contrasta tanto «com a composição partidária da Assembleia da República» como com a «delegação portuguesa recém-eleita para o Parlamento Europeu».
De facto, uma distribuição de intervenientes congruente com a representação parlamentar da Assembleia da República, e que mantivesse uma «quota» de 11% para os comentadores não alinhados, obrigaria a que 47% dos intervenientes em programas de comentário e debate político se situassem à esquerda, devendo a representação da direita descer de 60 para 41%, perdendo portanto a posição dominante que atualmente ocupa.
Como bem sabemos, o problema não é novo. O défice de pluralismo foi particularmente expressivo no início da crise financeira e essencial para que a mesma fosse convertida, em termos de narrativa político-económica (e dada a ausência de contraditório), em crise das dívidas soberanas, facilitando o abrir de portas à aceitação sem verdadeiro debate, nas televisões, do processo de «ajustamento» e da agenda da austeridade.
É certo que desde então - e sobretudo depois de a própria realidade demonstrar a fraude intelectual associada à estratégia da «austeridade expansionista» e do «empobrecimento competitivo» - a direita opinativa (frequentemente apresentada como portadora de um discurso meramente «técnico») deixou de ter chão para poder continuar a insistir no linguajar da culpa e dos sacrifícios redentores. Mas a verdade também é que a sua presença hegemónica no debate televisivo não se alterou substancialmente, apesar do surgimento nas televisões de novos rostos à esquerda e de programas com maior equilíbrio e pluralismo em termos de representação de sensibilidades políticas e partidárias.
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11 comentários:
A leitura do Estado da Nação e rescaldo batido em todos os quadrantes deu-me outra coisa.
Desgraçada comunicação social inundada de comentadeiros mais preocupados em explicar e justificar Costa, lamber-lhe as botas e preparar-lhe a caldosa.
Mais 13 mil Milhões de dívida, investimento miserável e saldo negativo das contas externas, mais despesa estrutural do Estado, serviços públicos degradados, eis o glorioso abandono da austeridade.
Os comentadores da direita e os seus sermões para convertidos,que sempre nos faziam rir ou chorar,parecem mais melancólicos,muito mais repetitivos...então quando começam a desvariar são mesmo pornográficos,veja-se a Bonifácio quando começa a abrir reposteiros...
Quem dizia que não há maneira politicamente correta de pegar num pedaço de trampa?
O método de Hondt e a opinião publicada, temperado pelos acordos geringonços e acrescido da classificação dual esquerda/direita a cargo de quem sabe dessas coisas, naturalmente de esquerda.
E nem sequer estamos a falar dos jornalistas(e como vestem a camisola neoliberal assanhadamente) ou da edição, da forma como se manipulam notícias, da desinformação, ocultação de factos, etc
A propósito:
E o Cavaco?
Desenvolvem_se notícias sobre o financiamento e os interesses involvidos?
A treta do MP com o ministro não terá sido lançada para desviar atenções?
Se ainda acreditarem na isenção dos jornalistas e no Pai Natal, basta ler acerca do Edward Bernays.
Face ao relatar de factos que o artigo contem é significativo o tentar fugir à evidência de alguns comentários.
O comentário do Vieira corresponde totalmente à verdade e mais se poderia acrescentar.
Para notícias no estrangeiro ainda há alguns canais no Youtube, que nos dão informação totalmente diferente da informação em Portugal, para se poder comparar e criar a sua própria opinião (Venezuela, Síria, Brasil, EUA, etc...).
Para notícias sobre Portugal é bem mais difícil.
Surreal. No país dos generais prussianos, em que grupos de media se colocaram ao serviço do PS, em que se perseguiu, pressionou, boicotou, abalroou e se tentou comprar grupos de media desalinhados, em que se saneou e processou comentadores e jornalistas incómodos ao regime, em que primeiros ministro nomeiam diretores de meios de comunicação com o mesmo à vontade com que ameaçam jornalistas, vir dizer que há falta de pluralismo e que a esquerda tem deficit de representatividade nos media é de facto uma versão alternativa da verdade, uma pós verdade. Quem sabe contabilizaram à direita o Pacheco Pereira, a Ferreira Leite, o Capucho, o Sarmento, o Marcelo, o Mendes, o Marques Lopes etc. durante o consulado do governo anterior. Podíamos até falar da inclinação política da maioria dos jornalistas com mais palco, Constança, Baldaia, Ferreira Fernandes, Teresa de Sousa, Nicolau Santos, Fernanda Câncio, Daniel Oliveira, Clara Ferreira Alves, Sérgio Figueiredo, António José Teixeira etc. mas nem sequer é preciso, a realidade é evidente demais.
Miguel:
O início da tua conversa é apenas a versão sem substância do sector político que defendes e foi propalada ad nauseam pelos tais comentadores. Ridículo e nada honesto da tua parte.
Quanto aos personagens que admites serem de direita, nada a acrescentar.
Agora, misturares Ferreira Fernandes com Teresa de Sousa, ou Nicolau Santos com Paulo Baldaia, só evidencia uma coisa: estás a falar de cor ou pensas que somos atrasados mentais.
Até gostava de elaborar mais um bocadinho sobre alguma desta malta que afirmas ser de esquerda mas ia ser um desperdício de tempo.
Caro Vieira, disse alguma coisa que não é factual? Eu não misturei a Ferreira Leite com a Teresa de Sousa ou o Baldaia, distingui-os, uns são comentadores e outros jornalistas, mas estiveram todos do mesmo lado da barricada quando lhes conveio. Se não percebe que as agendas de todos os que elenquei e certamente contabilizados na direita se sobrepõe a questões ideológicas ou ao interesse público e que estes jornalistas servem despudoradamente uma outra agenda, alguns tendo sido mesmo recompensados pelos serviços à causa, caso do Nicolau, do Baldaia, do Ferreira Fernandes ou do Camões que nem tinha colocado aqui, não há nada que eu possa escrever que o esclareça, é certamente para si um assunto de fé.
Ora bem, segundo este “estudo” o comentário na SIC está 100% alinhado à direita. Será a mesma SIC onde Louçã tem posto residente? Nem vou dissertar muito mais, mas a credibilidade deste post é literalmente zero. É que nem para enganar as pessoas serve, de tão grosseiro que está.
Caro Anónimo, Francisco Louçã é comentador residente na "SIC Notícias" (canal de informação, de acesso por cabo) e não na "SIC" (de sinal aberto). A diferença entre ambas, em termos de pluralismo, está expressa no próprio gráfico.
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