terça-feira, 9 de julho de 2019

Passos Coelho e a dívida externa

"A resposta que o governo de Passos Coelho abraçou para enfrentar os desequilíbrios externos é conhecida. Indo além da troika, fomentou uma crise generalizada, levando à redução dos rendimentos, do consumo e do investimento - e, por conseguinte, das importações. Desesperados pelo colapso da procura interna, as empresas procuraram aumentar como puderam as vendas no exterior. O forte aumento do desemprego fez reduzir a imigração e aumentar a emigração, com reflexo nas remessas líquidas. Tudo somado, passou a sair muito menos dinheiro do país e a entrar um pouco mais. Tal como no passado, o empobrecimento revelou-se um modo eficaz de evitar os desequilíbrios externos.

Passos Coelho e a direita em geral não são originais em apontar os desequilíbrios externos como um problema - o que lhes é característico é a forma que escolhem para os corrigir. O Grupo de Trabalho para a Sustentabilidade da Dívida Externa, que em 2016 e 2017 reuniu deputados da actual maioria parlamentar e economistas académicos (eu fui um deles), fizeram desse um tema central da sua análise. Reconhecendo a natureza estrutural dos défices externos, fruto da dependência tecnológica e energética do país, o relatório final do Grupo de Trabalho procurou apontar vários caminhos para lidar com este problema sem recorrer às receitas da troika.

 A solução de Passos Coelho para o problema estrutural do endividamento externo português é a desvalorização interna. Ou seja, a austeridade permanente, a perda de direitos e a emigração em massa. Não é uma estratégia de desenvolvimento auspiciosa. Empobrecer para não ter dívidas não é propriamente uma solução."

Excerto do meu texto de hoje no DN.

9 comentários:

Paulo Guerra disse...

Mas o Passos Coelho tem algum pensamento económico? E onde é que o adquiriu? Com a Maria Arrow?

Paulo Guerra disse...

Um PM que manda os seus melhores jovens emigrar devia ser imediatamente internado. E quem não compreende algo tão simples só pode sofrer da mesma patologia.

Jose disse...

Sistematicamente, o 'viver acima das nossas possibilidades', sendo uma evidência aceite como possível de verificar-se na vida de indivíduos e famílias, é recusado poder aplicar-se a países.
E a tão pressurosa recusa da evidência a esse nível, começa por nunca pronunciar a frase, ainda que para recusá-la.

E quando o seu sintoma mais óbvio, o défice externo em contas e bens, se torna incontornável, vale tudo menos a frase que não deve pronunciar-se

alexandre paiva disse...

De forma categorica Ricardo Pais Mamede, desmonta toda a demagogica teoria neo-liberal que ao transformar oconceito de "divida" em pecado original (o diabo-o inferno e outros assim), o perpetua e o torna factor determinante na correlacao de classes.Seria oportuno desmestificar a Dividocracia na area juridica (muito tem feito a esquerda nos conflitos dos deverores que ficavam sem as casas e continuavam em divida com a banca -surge agora um novo tipo de devedores ,os que teem de adiantar tres meses de renda aos senhorios e aguardar um mes de salario). Obrigado Pais Mamede por nos tirar das "Trevas"

João Pimentel Ferreira disse...

Este autor (Ricardo Mamede) é dos "intelectuais" de esquerda mais desonestos que leio. Ora escreve que "tal como no passado, o empobrecimento revelou-se um modo eficaz de evitar os desequilíbrios externos", como diz que "A solução de Passos Coelho para o problema estrutural do endividamento externo português é a desvalorização interna". Mas afinal o que seria a saída do Euro como tanto defendem, senão apenas a correção dos desequilibrios externos pela via da desvalorização cambial, vulgo empobrecimento em relação ao exterior?

Lendo o seu relatório
http://www.ipp-jcs.org/wp-content/uploads/2017/10/IPP-Report-4.pdf
as suas alternativas passam apenas por expedientes financeiros, ou seja, mais do mesmo, a lembrar os últimos meses da era Sócrates.

Miguel disse...

Este exercício de contorcionismo intelectual é totalmente inaceitável, sobretudo quando vindo de um académico pago pelos nossos impostos e a quem se pede um mínimo de isenção e de seriedade.
A procura interna já tinha colapsado, a recessão ia em 2% em 2011 quando a troika chegou também por aquele governo ter levado a cabo o assalto que cada dia conhecemos melhor colocando o Estado em pré falência pós terem andado a colocar dívida a juros usurários como se não fosse para pagar a duras penas. O crescimento pífio de 2010, após a recessão de 2,9% em 2009, foi "conseguido" com um crescimento da dívida público de 27 mil milhões nesse ano. O desemprego tinha quase duplicado no consulado de Sócrates, 359 mil em 2004 para 688 mil em 2009, consulado no qual, lembro-lhe, antes de a isso estarmos obrigados pela troika e de do cumprimento do memorando e de cada avaliação depender a chegada do próximo cheque, membros deste governo de Costa levaram a cabo cortes brutais de ordenados e pensões, aumentaram brutalmente os impostos, só o IVA de 19 para 23%.

O mais extraordinário, para lá de o stock da dívida já ter aumentado brutalmente com este governo e de o fluxo de emigração se ter mantido estável, tendo mesmo aumentado no ano passado, o pífio crescimento que vamos tendo tem que ver com as políticas do governo anterior que não foram revertidas, a aposta no turismo e no alojamento local, os vistos gold, os benefícios fiscais a residentes não habituais, a Web Summit e as start ups etc. Ontem assisti atónito ao seu exercício de demagogia na RTP3 sobre a carga fiscal, ignorando olimpicamente o rendimento disponível após impostos, o esforço fiscal ou os custos de contexto das empresas onde ficamos na cauda de todos os rankings. Como é que alguém que liderou a Auditoria Cidadã e o famoso doc “Pobreza não paga a dívida – Renegociação já!” se mantém em silêncio sobre isso hoje e escolhe este tipo de panfletos? Compreendo o alinhamento ideológico com o governo, a desinformação pura não.


Paulo Guerra disse...

"...vindo de um académico pago pelos nossos impostos..."

Este tipo de ignorantes deve pensar que intimida alguém com este tipo de demagogia. É que nem vale a pena perder mais tempo com isto. Até porque o ensino superior privado é uma maravilha em Portugal. Os Relvas que o digam.

Miguel disse...

Comprendo o seu incómodo caro Paulo Guerra e não é por falta de tempo, é mesmo falta de argumentos.

Anónimo disse...

Vindo de um académico pago pelos nossos impostos?

Mas o que é isto?

Miguel, ou melhor joão pimentel ferreira, a mostrar o nível de uma direita boçal e trauliteira