sexta-feira, 26 de julho de 2019

Apelo a pensar para lá do capitalismo


Imaginar utopias reais é uma componente central de uma agenda intelectual ampla que pode ser designada por ciência social emancipatória. A ciência social emancipatória procura gerar conhecimento científico relevante para um projecto colectivo que desafie várias formas de opressão humana. Ao designá-la por ciência social, ao invés de lhe chamar simplesmente crítica social ou filosofia social, reconhece-se a importância para esta tarefa do conhecimento científico sistemático acerca do modo como o mundo funciona. A palavra emancipatória identifica um propósito moral na produção de conhecimento - a eliminação da opressão e a criação de condições para o florescimento humano. E a palavra social implica acreditar que a emancipação humana depende da transformação do mundo social e não apenas da vida interior das pessoas.

Erik Olin Wright, Envisioning Real Utopias, Verso, 2010, p. 10. Minha tradução.

O Centro de Estudos Sociais (CES) decidiu em boa hora homenagear o sociólogo Erik Olin Wright (1947-2019) com uma conferência internacional em torno do seu importante legado intelectual. Apela-se à submissão de comunicações.

Olin Wright foi um dos mais importantes sociólogos norte-americanos das últimas décadas, tendo sido presidente da American Sociological Association e influenciado uma parte da agenda científica do CES, com o qual de resto colaborou. Os seus trabalhos inspiraram pelo menos dois grandes projetos colectivos internacionais por si liderados: um sobre as classes sociais no capitalismo e o outro precisamente sobre utopias reais.

Sobre o primeiro, José Manuel Mendes e Elísio Estanque, por exemplo, escreveram um livro importante sobre classes e desigualdades sociais em Portugal que nele se inscreveu. Sobre o segundo, diria apenas que o livro acima citado foi a síntese de uma série de trabalhos sobre várias dimensões do que poderia ser uma utopia institucionalmente viável, baseada no melhor conhecimento disponível.

Embora não goste particularmente da palavra utopia e discorde de algumas das suas conclusões institucionais, demasiado influenciadas por um socialismo de mercado marcado pela teoria da escolha racional, o que é diferente de um socialismo com mercados mais atento à diversidade de motivações humanas, não conheço melhor esforço neste campo depois de 1989.

10 comentários:

Jose disse...

«um socialismo de mercado marcado pela teoria da escolha racional, o que é diferente de um socialismo com mercados mais atento à diversidade de motivações humanas»

'Mercados mais atentos'.
Palpita-me que o termo correcto será 'planeadores mais atentos', mas está em uso este tipo de língua de pau que tenta levar o 'novo' socialismo ao nível mítico do mistério!

Cláudia Alves disse...

Wright tentou retratar-se em obras mais recentes. Vale-lhe isso. O trabalho de 1985, Classes, é exemplo maior do processo de colonização da sociologia das classes sociais norte-americana pelos pressupostos teóricos do pensamento económico neoclássico. E, enquanto membro do Grupo de Setembro - juntamente com Roemer, Elster, Przeworski e Cohen - Wright afirmou-se como um proeminente intelectual da corrente que permitiu esse processo. Não fosse o Marxismo Analítico também designado de Marxismo Neoclássico. É importante não esquecê-lo. Wright deu um importante contributo para a desacreditação do marxismo (especialmente para a corrente althusseriana, em que tinha encontrado os seus alicerces teóricos antes de se cruzar com Cohen, Roemer e Elster). Enfim, era um prolífico autor, não tanto um prolífico autor de esquerda. Muito menos um prolífico autor marxista. Encontrem-se as diferenças entre Classe, Crisis and the State, de 978, e Classes, de 1985.

Anónimo disse...

Jose mais o uso da sua língua de pau.

Vamos esclarecer o jose, para que possa ter acesso ao nível mítico do mistério?

Bora lá

"um socialismo de mercado marcado pela teoria da escolha racional, o que é diferente de um socialismo com mercados mais atento à diversidade de motivações humanas"

Quem está mais atento é o socialismo com mercados. Mais atento à diversidade de motivações humanas

Não são os 'Mercados mais atentos', com que se tenta deturpar o que se escreve. Isto e os "planeadores mais atentos" são o testemunho de uma língua de pau com que se tenta forçar e aldrabar as palavras ditas

Uma espécie de sonho húmido de donos de palavras ou apenas o registo cruel que a coisa afinal está intelectualmente preta lá para os lados do jose?

Atento disse...

É "socialismo mais atento" e com mercados; não socialismo de 'mercados mais atentos"

Jose disse...

«É "socialismo mais atento" e com mercados; não socialismo de 'mercados mais atentos".»
Língua de pau não quer dizer que o que esconde não possa esconder-se de várias maneiras.
Mercados em regime socialista é um oximoro.

Socialismo com mercados é socialismo com postos de distribuição ou venda da produção em modo socialista. E modo socialista pressupõe a apropriação colectiva dos meios de produção.
Levar o que quer que seja ao mercado requer capital, e quem não tiver acesso ao capital só leva ao mercado a sua força de trabalho, se para tanto tiver liberdade.
Assim sendo, como se organizam os meios colectivos para irem ao mercado? Quem tem o poder de decidir utilizar o capital do colectivo para levar um produto ao mercado que concorra com outro produto que já está no mercado visando satisfazer a mesma necessidade? Quem decide que haja uma oferta excedentária à necessidade a satisfazer? Quem autoriza que se arrisque o capital colectivo em produções invendáveis ou a preços que não cobrem os custos próprios ou nessa mesma condição colocam as de um qualquer outro utilizador desse capital colectivo?

As perfeições do socialismo só o podem ser sem liberdades, e sendo a imperfeição o preço da liberdade, sempre o socialismo a recusa.
Daí concluir-se que será perfeito sem liberdades? Não, terá todas as imperfeições humanas exacerbadas em todos os prepotentes e em todos os subservientes que a falta de liberdade engendra.

E com isto voltamos ao que sempre se suspeita: apregoam um socialismo que não o é, para atingir um poder equivalente ao que só por ele alcançariam.

Anónimo disse...

"É "socialismo mais atento" e com mercados; não socialismo de 'mercados mais atentos"."

Ponto final parágrafo


Veja-se este exemplo paradigmático. De como uma frase é transformada subrepticiamente noutra coisa. E de como se tenta entretecer uma historieta de polichinelo a partir da adulteração do que se disse

O testemunho de uma língua de pau com que se tenta forçar e aldrabar as palavras ditas.

É feio. E desonesto

Anónimo disse...

"Mercados em regime socialista é um oximoro."

Tretas

Sei que pode ser incómodo para quem tenta aldrabar o que se disse.Pelo que se repete com a serenidade adequada a quem anda a vender gato por lebre:

Um socialismo com mercados e atento à diversidade de motivações humanas


Incomoda jose?

Incomoda. Tanto que a seguir à língua de pau se segue essa ode patética aí expressa em cima

Anónimo disse...

Deixemos para lá o pregoeiro dos mercados e mais o blablabla com que se enfeitam estes, tal qual um vendilhão atascado até ao tutano nos mercados uberalles.

Atentemos apenas ( e por agora) nesta pantomina grosseira de jogos de palavras ( estes tipos que se arvoram em donos destas ...) que escondem uma realidade dolorosa:

"quem não tiver acesso ao capital só leva ao mercado a sua força de trabalho, se para tanto tiver liberdade".

O que é isto? Uma idiotice pura e dura ou mais uma vez o substrato idiota género axioma da treta para se construir uma narrativa a condizer com a manipulação da coisa?

Anónimo disse...

A partir daqui ( e mais uma vez) a coisa descamba. Partindo dum axioma idiota, só afirmado por pesporrência ideológica ou por manipulação grosseira, constrói-se uma cadeia de quase silogismos vazios e ocos, em que o que sobressai é uma verdadeira ode ao deus mercado.

Uma perfeita conversa da treta.


Mas que continua :
"As perfeições do socialismo só o podem ser sem liberdades, e sendo a imperfeição o preço da liberdade, sempre o socialismo a recusa".

Parece que há perfeições no socialismo. Dito de outra forma. As imperfeições dos mercados são de tal monta que só resta dizer idiotices sobre as "perfeições do socialismo", para esconder a trampa que os mercados à solta encerram.

Parece assim que tais perfeições só o podem ser "sem liberdades". Donde o preço da liberdade é a imperfeição, logo para haver liberdade tem que haver imperfeição. Ou seja , outro modo de tentar impingir a mesma trampa já referida.

Já nem se atrevem a defender a superioridade dos seus modelos económicos. A trampa é tanta que agora se limitam a estes jogos de palavras tão pueris como incongruentes?

Um modo de esconder a "imperfeição" dos mercados que mandavam matar e morrer em África?
Que mandavam um tipo como o António Borges não pagar impostos?
Que mandavam o roubo descarado de salários e pensões?
Que executavam uma dança macabra de fuga para paraísos fiscais sob as ordens de um governante nomeado para o efeito e que era entusiasticamente defendido pelos mesmos que nos tentam impingir estas tretas?
Que impõem a concentração da riqueza em meia dúzia de mãos e a apropriação dos grandes meios de produção nas mãos de meia dúzia?
Que impõem guerras de saque e de rapina e que espalham a morte à custa dos mercados de armamento e de sangue?
Que condenam milhões e milhões à miséria, à degradação, à subsistência,para benefício de um punhado de porno-ricos, auto-endeusados etc e tal?

Anónimo disse...

E o disco continua:

"Daí concluir-se que será perfeito sem liberdades?"

Um autêntico vira que vira, a ver se passa. As "perfeições", que justificavam as não liberdades e adicionalmente as imperfeições da trampa dos mercados à solta, afinal não o são. Terão todas as imperfeições humanas e mais todo o blablabla aí em cima exposto.

Ou seja:

Começámos por uma espécie de axioma idiota e tonto. Passámos depois às perfeições, como justificativo para as imperfeições das liberdades. Para afinal concluir que as perfeições afinal não o são e blablabla.

Sem o querer, jose mostra que esta conversa é mesmo da treta. Uma espécie de monólogo duvidoso,em que as conclusões parcelares vão sendo destruídas pelo próprio discurso engendrado.É obra

Uma espécie de escrita no vazio e na vacuidade

Uma espécie de apropriação de palavras, como se estas fossem privilégio destes lugares-comuns, armados em argumentos lógicos. E aquelas permitissem todas as bacoradas sem sentido ou correlações espúrias, que põem em causa os padrões cognitivos de quem os utiliza.

Coroadas por um último parágrafo que nem vale a pena desmontar , tal a grosseria intelectual que espelha

Pena.

Por aqui passa a lábia tonta e o vácuo senil dos discursos "claros e lúcidos" de Salazar, tão admirados por quem aqui os espelha neste conjunto incongruente de tretas