Estou a ver a RTP3 e já é a terceira vez que os notíciários são abertos com declarações do secretário-geral do PCP. Nunca isto aconteceu na comunicação social.
Isto pode ser muito interessante. Sendo o Bloco de Esquerda e o PCP parceiros do governo socialista, cujo apoio parlamentar é imprescindível, o seu pensamento é necessariamente tido em conta. E por isso os jornalistas são levados a ouvi-los cada vez mais.
Por um lado, é razoável que isso aconteça: é lá que está muita da informação. Mas ao fazê-lo, acaba por tentar-se a usual estratégia de suscitar diferenças para criar um debate, uma polémica. Implicitamente, a tendência da comunicação social é a de tentar prever em que altura, em que foco de desacordo se abrirá a brecha entre esses partidos e o Partido Socialista que possa - finalmente! - levar a uma ruptura do acordo que será a grande notícia.
Ora, este maior tempo de antena dado aos dois partidos pode ser um pau de dois bicos para a direita e para o pensamento dominante na comunicação social.
Sim, é possível que se alimente aquela tensão entre Governo e BE e PCP. Mas ao mesmo tempo está a dar-se um espaço na comunicação social aos dois partidos mais à esquerda no panorama político português que nunca teve nas páginas dos jornais, nas emissões de rádio ou de televisão. Mesmo quando defendiam ideias essenciais para a melhoria da vida dos portugueses.
Será que a direita, dominante na comunicação social, vai - ao arrepio da sua intenção - alimentar a notoriedade do Bloco e do PCP?
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7 comentários:
Eu não vejo televisão, mas achei muito curioso quando, um amigo que não via há uns anos (parece que tinha estado por Angola e tudo) me disse que ouviu dizer que o Bloco de Esquerda tinha sido "financiado" pelo PSD.
Uma coisa foi certa, das várias pessoas que me foram sendo próximas, e do que me ia apercebendo, toda a gente parece que antipatizava com a Catarina Martins porque era muito agressiva. E qual não foi o meu espanto, ver na imprensa (net) todos os órgãos de comunicação (que são de direita) elogiarem cada vez mais o seu trabalho. Mais, elegeram-na como a grande líder e melhor nos debates (que não vi)!
Eu nunca tinha pensado nisto, mas de facto era brilhante. Ao dividir os votos do descontentamento popular do PS para o Bloco, iria conseguir-se o que se conseguiu, que foi a PaF ser a mais votadas nas eleições. Dividir para governar portanto.
Ninguém contava era com o que o Jerónimo fez...
É de facto um pau de dois bicos. Por um lado dá tempo de antena a estes Partidos, por outro lado obriga-os a explicitar, detalhar e quantificar as soluções que apresentam. Isto exige trabalho de sapa com conclusões que até podem não agradar ao seu eleitorado tradicional, mas tem um óbvio retorno a prazo. Agora cuidado, porque quando o PS fez este exercício nas últimas eleições, foi o bombo da festa da Direita. Por agora, só posso saudar, por exemplo, a preocupação de Jerónimo de Sousa com uma política de rigor no que diz respeito às contas públicas (e todos sabemos como o 'Centrão' é hipócrita no que diz respeito à definição de rigor), aliada claro à necessidade do alívio da dívida. Julgo que o SG do PCP percebe bem que um País pequeno como o nosso, se quiser recuperar a sua autonomia, não pode optar por um endividamento que requer taxas de crescimento de 3% 'ad eternum' e que o torna vulnerável aos especuladores e credores se se repetir uma crise como a de 2008, coisa que parece que outros ainda não enxergaram... Skidelsky diz que é necessário recuperar o Keynes original, aquele que defendia políticas contra-cíclicas, o que quer dizer austeridade em períodos de crescimento, pois...
ó pá, tá calado. deixós continuar.
Que bom que não ando a ver TV.
Xiu pá, não estragues! ;)
Essa teoria nasceu dentro do PS, eu já a tinha ouvido, e nasceu para justificar o injustificável, que foi o descalabro eleitoral mas paciência a culpa desse descalabro foi unicamente e somente do próprio PS.
Na minha opinião, todos os fautores das opiniões que me antecederam deveriam ver mais televisão (digo: debates televisivos)após publicadas as opiniões do BE e do PCP, independentemente dos nomes (João Galamba, Mortágua, e outros, para além do Jerónimo e da Catarina). Já repararam que os comentadores não teriam argumentos a rebater?
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