quarta-feira, 9 de novembro de 2016

O regresso das Nações


Um texto de Jacques Sapir que nos ajuda a reflectir sobre o que está a mudar:

Em geral, esta eleição baralha as cartas também para a União Europeia. Não é por acaso que o antigo Primeiro-Ministro italiano, Enrico Letta, diz que se trata do acontecimento mais importante depois da queda do muro de Berlim. As elites europeístas perderam um apoio decisivo na presidência americana, e isso sente-se tanto nas reacções de Juncker e Tusk, como nas de Angela Merkel ou François Hollande. Pelo contrário, as personalidades políticas que contestam este europeísmo, de Nigel Farage a Beppe Grillo, passando por Marine Le Pen, rejubilam com esta vitória de Donald Trump. Evidentemente, vai-se tentar entoar o famoso hino à Europa federal e procurar-se-á reavivar as chamas quase extintas da integração europeia.

Porém, as divisões entre os Estados da UE não vão desaparecer por magia. Os interesses destes Estados vão permanecer como estão, opostos a qualquer integração. Vai mesmo ser preciso, mais tarde ou mais cedo, reconhecer as implicações disto e voltar à política das Nações o que, aliás, não exclui a cooperação e a amizade entre essas mesmas Nações. Se recusarem isto, os dirigentes europeístas assumem o risco de agravar a raiva que também cresce na União Europeia. Os atropelos à democracia foram demasiado numerosos e demasiado sistemáticos. Estes dirigentes correm o risco de conhecer, à sua escala e nas suas condições, a sorte de Hillary Clinton.

Mas é pouco provável que compreendam que mudámos de época, decerto não por ter ocorrido esta eleição presidencial que é apenas mais um elemento da mudança, mas sobretudo porque vivemos hoje, e desde há dez anos, o grande regresso das Nações. Não há nada mais dramático do que ver as elites, sejam elas políticas ou culturais, agarrarem-se a uma visão do mundo que a realidade ultrapassou e desmentiu. Durante algum tempo, podemos viver numa bolha. Mas, num dado momento, esta bolha rebenta e vai ser preciso pagar caro o preço desse mundo de ilusões que foi construído.

5 comentários:

Anónimo disse...

A globalização que os capitalistas ainda estão a tentar criar teve mais um grande entrave.

Se algum dia nos vamos ver apenas como um povo, esse dia não está para breve, impingir uma realidade fictícia que apenas serve as elites nunca poderia acabar bem...
A UE está a demonstrar isso mesmo, países lançados para o empobrecimento, a frustração e ódios a crescer por todo o lado.
Aqueles que nos impingem esta realidade degradante têm que ser travados antes que algo de muito mau aconteça!

Anónimo disse...

Três bons posts aqui no LdB sobre as eleições americanas.

Para ler,reler e pensar. Não é pedir muito

Anónimo disse...

Um comentário bem idiota aí pelas 18 e 14. Idiota pelo tom pesporrento escondido por detrás. Mas idiota também pela profunda ignorância dos factos históricos. E idiota também por este ilidir do lucro desmedido de quem empresta e das condições em que o faz.

O mais sinistro é que por trás de tal personagem está alguém que defendia o saque colonial como forma de garantir "doações" perpétuas aos colonialistas. Mas que agora está convertido num animado e engajado defensor dos agiotas e dos credores. "Esquecendo", mas sobretudo querendo que quem o lê esqueça, os mecanismos de sujeição a que as nações ficaram e ficam amarradas e as causas pelas quais chegámos até aqui.

Não é por nada que o antigo defensor da Pátria, do Império, da Autoridade e dos Donos disto Tudo esteja agora convertido num embaixador para todo o serviço do eixo do centro da Europa. À míngua de apresentar resultados concretos e palpáveis desta Europa pós-democrática esconde-se atrás de papões como forma de esconder os factos.

De como um patrioteiro se converteu num encarniçado defensor dos interesses germânicos não é difícil de entender. É sobretudo e sempre a defesa do grande Capital que une ao longo da vida o percurso deste tipo de personagens

pvnam disse...

TRUMP - uma vitória da liberdade de expressão contra aqueles que já se consideram os Donos Disto Tudo (DDT's) - a alta finança (capital global).
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O homem foi tratado pior que um criminoso: por todo o lado choveram comentadores políticos acusadores (marionetas ao serviço da alta finança - capital global)... e o homem não teve direito a um comentador de defesa!
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NOTA A NÃO ESQUECER: aqueles que já se consideram os Donos Disto Tudo (DDT's) - a alta finança (capital global) -... estão apostados em dividir/dissolver as Nações... terraplanar as Identidades... para assim melhor estabelecerem a Nova Ordem Mundial: uma nova ordem a seguir ao caos – uma ordem mercenária (um Neofeudalismo).

Afonso disse...

Engraçado como agora já aparecem artigos a meter o dedo na ferida(até há dois atrás era quase só escarnecer um dos candidatos e "santificar" o outro,principalmente no Público que hoje já trás alguns artigos a tentar explicar a escolha dos americanos) http://www.cmjornal.pt/opiniao/colunistas/francisco-jose-viegas/detalhe/20161110_0052_blog?ref=opiniao_outras