segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Negociações em directo

Desculpem o atraso, mas vinha partilhar aqui as minhas dúvidas em relação ao jornalismo. E isto a propósito da manchete do Expresso, deste sábado.


Expliquem-me, por favor, qual é a notícia de um texto cujo título é “Administração em risco de cair”. Por quê escolher “em risco de cair” e não “poderá ficar”? E que o lead da notícia seja: "A administração da CGD está em risco de cair, caso o Tribunal Constitucional delibere a entrega obrigatória de declarações de rendimentos e património de administradores, sabe o Expresso"

Esta formulação de o jornal "saber" é muito usada - eu já a usei. Utiliza-se muito quando os jornalistas estiveram em contacto com uma fonte altamente colocada, mas que pediu o anonimato. E daí um título - que eu próprio já usei também - de algo que não se sabe que vai acontecer, mas que é tão provável que ocorra, como o seu contrário...

Lendo o texto, entende-se muito bem que a fonte daquele texto pode ser duas: o próprio António Domingues, que passou um recado ao Expresso, em que a figura do presidente da República é usada como camufllagem noticiosa (algo que é completado pelo facto de a notícia em baixo – sobre os 700 mil euros que Domingues terá perdido em futuros – parecer a versão explicativa dele; ou é o próprio presidente da República, dando conhecimento ao Expresso do que, eventualmente, se passara na cabeça de António Domingues. Ou os dois.

Em qualquer das duas, não parece um grande serviço ao jornalismo. É uma manchete que contribui para que se torne realidade, porque se trata - no fundo - de uma ajuda do Expresso a uma das partes envolvidas na negociação em curso.

Mais a mais, quando o problema de fundo que se coloca neste imbróglio todo é o que vai acontecer ao acordo de capitalização da CGD. Ou seja, até que ponto é que a Comissão Europeia – com o PSD a posicionar-se à boleia - conseguirá impor uma abertura do capital do banco público, quando o Governo declarou que isso nunca iria acontecer.

É, aliás, interessante verificar que a coluna de opinião do João Vieira Pereira no suplemento de Economia é sobre o quanto é importante preservar a CGD como banco público, e que toda esta questão está a ofuscar aquilo que é urgente: uma visão para esse banco.

17 comentários:

Anónimo disse...

Pior, estes
http://temposmodernos.blogs.sapo.pt/leixa-prem-informativo-456796

Jaime Santos disse...

O Governo conseguiu praticamente tudo o que queria de Bruxelas. A CGD permanece integralmente no domínio público e o capital injetado não é considerado ajuda pública, o que obrigaria a uma reestruturação bem mais severa. A condição é de que a nova administração será proveniente do setor privado, e não constituída por políticos na reforma que se fartaram no passado de meter água. Parece-me uma exigência pequena e que ainda por cima nos livra de novos émulos de Armando Vara na CGD. O oportunismo do PSD, a trapalhada de Mário Centeno e os princípios sem política da Esquerda Parlamentar podem colocar tudo isto a perder... Engolir um sapinho é bem pior do que engolir um dinossauro pré-histórico, a saber, a privatização parcial da CGD...

Carlos Sério disse...



Hoje temos na generalidade uma comunicação social alinhada com os valores da direita neoliberal, parcial e mistificadora e cada vez mais irritada com os sucessos do governo de António Costa. Defensora dos poderosos interesses financeiros e económicos dos seus donos.
Quanto à questão da CGD creio que o mais importante é conhecer qual a estratégia futura da cgd.

Exige-se desde logo de um banco público que ele tenha procedimentos de algum modo diferenciados de um banco privado. Isto é, que ele tenha uma lógica pública, uma lógica social, entendendo-se por isso que a sua estratégia de decisões vise não o máximo lucro, que é sempre o objectivo primeiro da banca privada, mas que seja um actor activo na economia oferecendo apoio sobretudo às pequenas e médias empresas, pois são estas que maiores dificuldades de crédito sentem por parte da banca privada, e por outro lado, saiba captar os depósitos particulares através de uma constante e agressiva campanha de obtenção de depósitos oferecendo juros mais altos.
Deste modo, não apenas regulará o nosso sistema financeiro na prática dos juros de depósitos de particulares como igualmente regulará a prática do crédito oferecido às pequenas e médias empresas, dando assim um contributo activo e saudável ao desenvolvimento económico do país.

Não é isto que tem acontecido ao longo dos últimos anos com os vários e sucessivos gestores da CGD. A lógica que tem procedido a estes gestores tem sido em tudo idêntica à da gestão dos bancos privados.
E neste sentido, até aqui, nas perspectivas dos cidadãos, ter a CGD um estatuto público ou privado, nenhuma diferença fazia.
Dir-se-ia que, sendo pública, tem a agravante de havendo prejuízos os cidadãos serão chamados a pagar, só que, com a banca privada tem acontecido o mesmo, também ninguém nos livra do pagamento dos seus prejuízos quando acontecem, como sucedeu com o BPN, BPP e o BES.

Tendo uma participação activa de regulação do sistema financeiro nacional e agindo activamente na dinamização do desenvolvimento económico, como eu entendo ser a lógica de um banco público, os seus gestores não podem ter decisões semelhantes às da banca privada. Não se espera de um banco público que ele dê o máximo lucro ao seu accionista, como se procura na banca privada, mas que ele seja um interventor muito positivo na economia e no sistema financeiro. E assim, os prémios de uma futura boa gestão na CGD, não poderão basear-se em função dos lucros obtidos. Espera-se da gestão da CGD que o banco se torne saudável e que se obtenha lucros, mas não os máximos lucros e muito menos a qualquer preço.

Estará a nova gestão da CGD, escolhida pelo governo, envolvida nestes pressupostos ou é mais uma gestão com uma lógica em tudo semelhante às anteriores?



Anónimo disse...

Concordo na generalidade com Carlos Sério excepto quando diz que "temos na generalidade uma comunicação social alinhada com os valores da direita neoliberal, parcial e mistificadora e cada vez mais irritada".

Seria possível que indicasse a tal comunicação social que fura esse "na generalidade"? Gostava de a poder frequentar, se puder ser.

Anónimo disse...

Substancialmente de acordo com Carlos Sério. Já Jaime Santos parece não compreender que a escolha de “antónios domingues” para a chefia do banco público não tem nada a ver com a orientação, pública e social, que se exige de um banco do Estado. Salários principescos, prémios exorbitantes, mordomias, estatutos de exceção, acumulação de fontes de rendimento, o que é que o serviço público tem a ver com parasitas destes?

Um tipo que mal chega à Caixa das primeiras coisas que faz é pôr a assessoria jurídica do banco a trabalhar para si, com o incrível parecer de que está isento de apresentar a declaração de rendimentos e património no Tribunal Constitucional! (A propósito, quem foi o lambe-cus que se prestou ao frete de elaborar o parecer?)

Não tenho acesso ao Expresso em jornal, onde segundo o post consta a notícia. António Domingues terá perdido 700 mil euros em futuros. Em futuros? Não se percebe se se queixa disso ou não. O que se percebe é que este homem vem com um espiritozinho – de estatuto, de lógica de rentabilização, de organização, de orientação da atividade bancária de um (mau) banco privado – que era tudo o que a Caixa e o país não precisava.

Anónimo disse...

Princípios sem princípio da esquerda parlamentar...?

Qualquer dia voltamos a ter o elogio de "tecnocratas" estilo Cavaco Silva.

Entretanto o essencial sobre a CGD tem sido já por aqui dito, incluindo-se este texto de JRA ou o comentário de Carlos Sério
Quanto à gestão da Caixa, João Rodrigues num post aí atrás também já colocou os pontos nos is.
É (re-)lê-lo

Jose disse...

O que diz o Expresso não atrasa nem adianta ao caso.
A questão única é saber:
- Uma empresa privada em que o capital é detido por um único acionista pode existir sem que o acionista seja o Estado?
- Na circunstância de esse acionista ser o Estado, a empresa é necessariamente empresa pública?

Se o Estado reclama estatuto comparável ao de acionista privado, pode facilmente induzir-se que a CGD é uma empresa privada detida a 100% pelo Estado.
Admirem-se se foi esse o filme vendido em Bruxelas e aos gestores!

Já a possibilidade de uma empresa pública não ter gestores públicos é pura criatividade geringonçosa indefensável.


Anónimo disse...

Já agora, continuando, o papel dos jornais parece haver mais: http://temposmodernos.blogs.sapo.pt/os-supremos-criterios-editoriais-457586

Anónimo disse...

Que se vão embora. Estes gajos com o que fizeram possuem a mesma credibilidade do Donald Trump. Prefiro qualquer gestor com limite salarial, mesmo que seja só um esforçado no cargo do que estas mentes brilhantes que não querem cumprir as regras elementares da transparência pública. São gestores públicos que querem introduzir más práticas da banca privada (toda de pantanas) ao banco público. Sonham em ser os lobos de Wall Street da CGD. Vão embora, rapidamente!!!!!

Jose disse...

A Sério?
A CGD a pagar mais juros e a correr mais riscos, e a não desamparar o território e a ...servir toda a panóplia de lemas esquedóides?

Seria mais um sucesso a acrescentar aos sucessos da geringonça. Garantido!

Anónimo disse...

Isso mesmo, @ 17:29. Quanto mais cedo se puserem a andar, melhor fica a CGD. E era isto o homem providencial dos socialistas. Estamos memsmo entregues aos bichos.

Anónimo disse...

O que nasce torto, tarde ou nunca se endireita.

Anónimo disse...

Deixemos para lá a opinião de perito dum aí em cima que faz trocadilhos mistificadores em torno do que é publico e do que é privado e dos accionistas e do accionista e do filme vendido a Bruxelas e doutras tretas em dó menor.

Para além do filme mais uma vez mostrar a subserviência do dito cujo face a Bruxelas, nada mais há a retirar destes disparates em jeito de contorcionista.

Infelizmente há.

Esta frase:
"Já a possibilidade de uma empresa pública não ter gestores públicos é pura criatividade geringonçosa indefensável"

A geringonça foi o termo utilizado por um ex-miúdo malcriado, frustrado com os calções que usava em pequeno. A dita geringonça tentava definir a solução democrática de um Governo do PS apoiado pela restante esquerda.

Ora a "criatividade gerinçonçosa" apontada aí em cima não existe.Nem o PCP nem o BE nem o próprio PS defendem a coisa definida pelo perito da coisa.

Aldrabice pura ou pura manipulação? A ver se passa por entre os berros do "lá vamos cantando e rindo"?

Anónimo disse...

Toda a panóplia de "lemas" "esquedóides"? Pois claro. Isso mesmo. Com a chancela dum especialista em "lupanares"?

Eis um tema curioso a juntar ao que nasceu torto e ainda está em estado de viuvez. Quanto mais cedo se puserem a andar melhor. Mas são os candidatos à direcção dum banco público , que servem outros interesses que não os públicos.

O mais do resto é a ranhosice habitual de quem anda a tentar recuperar a governança do bando neoliberal

Anónimo disse...

"A polémica que envolve a actual composição do conselho de administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD) esconde uma realidade: os lugares na gestão do banco público serviram para distribuir lugares de acordo com prioridades que nada têm a ver com os interesses da CGD.
Recuámos a 1989, à época da privatização da banca, da criação da União Económica e Monetária e das maiorias absolutas do PSD, com Cavaco Silva como primeiro ministro. Analisámos os dez mandatos que cobrem o período entre 1989 e 2015 e os números são claros: a passagem de ex-governantes, militantes, dirigentes e gente próxima do PSD, do PS e, a partir de 2004, do CDS tem sido regra na gestão da Caixa.

Mas uma análise caso a caso mostra outra realidade: a promiscuidade alastra-se ao regulador – o Banco de Portugal – e à banca privada. O que têm em comum Vieira Monteiro, Mira Amaral, Carlos Santos Ferreira, Tomás Correia e Jorge Tomé? Todos eles foram presidir a bancos privados depois de saíram da Caixa. Na verdade, os três primeiros ainda estão à frente do Santander Totta, do BIC, e do BCP, respectivamente.

Os conselhos de administração da Caixa Geral de Depósitos foram, ao longo dos últimos anos, território ocupado por gente próxima do poder político e económico, que muitas vezes se confundem. Na verdade, a actual composição dos órgãos sociais da Caixa não mostram qualquer ruptura com este passado, pelo contrário. Paulo Mota Pinto, ex-deputado e dirigente do PSD, preside à Assembleia Geral. Rui Vilar, o primeiro presidente do período que abordamos, é vice-presidente do conselho de administração. O presidente, António Domingues, e metade da comissão executiva vieram directamente do BPI para o banco público".

http://www.abrilabril.pt/nacional/caixa-grande-porta-giratoria

Jose disse...

A administração da CGD tem neste momento uma única preocupação: quantas mais armadilhas lhe vai armar o geringonçoso Costa?

Anónimo disse...

Herr Jose

Estamos a espera das desculpas pela aldrabice manipuladora da criatividade geringonçosa.

Daí que não parta já para o seu serviço cívico da treta sem antes prestar contas do seu serviço cívico prévio. Embora seja compreensivel esse seu bolsar perpétuo pelos banqueiros

Parece mal. E fede