quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Economia e pobreza, política e emancipação


Alfredo Bruto da Costa (1938 - 2016)

Morreu na passada sexta-feira Alfredo Bruto da Costa, referência incontornável dos estudos sobre a pobreza em Portugal e exemplo cívico de disponibilidade e de compromisso permanente com as causas sociais. Bruto da Costa foi ministro dos Assuntos Sociais de Maria de Lurdes Pintassilgo, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e presidente do Conselho Económico e Social. Mais recentemente, presidiu à Comissão Nacional Justiça e Paz e integrou, até janeiro deste ano, o Conselho de Estado.

Nos domínios da intervenção social e do combate à pobreza, Bruto da Costa destacou-se pela firmeza das suas convicções e pelo seu humanismo e inconformismo. Avesso à cultura do assistencialismo, dispensava o julgamento moralista e a superficialidade preconceituosa na avaliação das situações sociais, vincando que as manifestações de pobreza e exclusão têm as suas raízes mergulhadas na desigual distribuição da riqueza e em questões de poder. E por isso defendia a necessidade de políticas públicas robustas e a atuação do Estado como pilares essenciais na efetivação de direitos e salvaguarda da dignidade, inerentes a processos de verdadeira inclusão, orientados para a emancipação de indivíduos, famílias e comunidades.

Ao arrepio de toda a retórica empreendedora na ação social, que responsabiliza de forma sub-reptícia os pobres pela sua própria condição, Alfredo Bruto da Costa defendeu insistentemente a ideia de que não bastava «dar a cana», sendo igualmente necessário «dar o peixe», sob pena de que alguém esteja «com tanta fome que não pode sequer levantar-se para chegar ao rio para pescar». Podendo ainda acrescentar-se, perante os que apostam no esmagamento do trabalho, das condições de reprodução social e da procura, que «dar a cana» não basta, sendo igualmente necessária a existência de «rios para pescar». Nos embates ideológicos em curso, sobre a intervenção do Estado e a natureza das políticas de proteção social e de combate à exclusão, o testemunho de Alfredo Bruto da Costa permanecerá como exemplo e referência para todos nós.

9 comentários:

Anónimo disse...

Foi dos poucos portugueses que me fizeram parar para o ouvir e para o ler.
Era quase estranho aperceber-se da sua presença numa sociedade onde reina a hipocrisia. As suas intervenções pesavam como chumbo na consciência da audiência.
Enfim, cumpriu-se mais um ciclo da vida.
Alegremo-nos por Ele ter existido! De Adelino Silva

Anónimo disse...

Completamente de acordo com esta homenagem de Nuno Serra e de Adelino Silva.

Um dia ouvi há muitos anos um debate sobre a pobreza em que participavam, com mais alguém que já esqueci, Bruto da Costa e César das Neves.
O brilhantismo e o rigor do primeiro contrastavam com a superficialidade em estilo bulldozer do segundo. O primeiro ia às causas, expunha os seus argumentos com a solidez de alguém com um pensamento estruturado, solidário e profundamente humanista. O segundo, interrompendo-o frequente, atabalhoada e malcriadamente dava a noção que acima de tudo procurava interromper a clareza expositiva de Bruto da Costa para impor um discurso assente na caridadezinha e na mais penosa invocação da doutrina dos "bons" católicos. Mas ao mesmo tempo com uma agressividade para os excluídos da vida, com afirmações do tipo do "não há almoços grátis" , culpando exclusivamente as pessoas pela situação social em que que viviam. O aspecto dum moralista a pregar à condenação eterna quem não seguisse as sacrossantas regras do mercado misturado com um discurso de inquisidor a ameaçar de excomunhão quem não seguisse a sua doutrina religiosa fundamentalista e hipócrita.

O contraste com Bruto da Costa era abissal. Quem moderava o debate, frequentemente interrompido pela agressividade do padreca frustrado, não soube estar à altura da riqueza intelectual, rigorosa e solidária de quem é aqui homenageado

Anónimo disse...

Quando o Macedo traz os gráficos do perigoso crescimento da dívida pública, o Ricardo podia e devia ter posto o Macedo num canto

Greenspan: "There is nothing to prevent the government from creating as ... https://youtu.be/DNCZHAQnfGU

The Slick Game Republicans Play with Your Money http://www.thefiscaltimes.com/Columns/2015/12/04/Slick-Game-Republicans-Play-Your-Money

Breaks and broken https://rwer.wordpress.com/2016/04/19/breaks-and-broken/

Who owns the public debt? https://rwer.wordpress.com/2015/07/18/who-owns-the-public-debt/

Crime, starvation and incarceration in America (2 charts) https://rwer.wordpress.com/2016/11/07/crime-starvation-and-incarceration-in-america-2-charts/

How the American military economy promotes bipartisan support for large defense budgets http://blogs.lse.ac.uk/usappblog/2016/06/06/how-the-american-military-economy-promotes-bipartisan-support-for-large-defense-budgets/

Não é o crescimento da dívida pública que é o problema mas os seus beneficiários.

Jose disse...

“A Boa Nova aos pobres era a sua inquietação constante”, referiu D. Manuel Clemente, acrescentando que a sua vida confirma a possibilidade de acontecer em cada tempo o que em Cristo "começou a acontecer”.

“Nos vários contactos que foi tendo com ele, nas várias instâncias eclesiais, o que sempre me surpreendeu, também quando o lia ou o ouvia, é que nunca saía daqui: o Espírito de Deus está sobre mim porque Ele me ungiu e me enviou a anunciar a Boa Nova aos pobres”, disse o cardeal-patriarca de Lisboa.

E a Jonet que é por estes lados tão mal tratada!

Anónimo disse...

Talvez fosse melhor herr jose ler de novo o texto. E em vez de emprenhar, ou melhor de tentar emprenhar-nos com as palavras do cardeal ( é um assunto da fé do cardeal) deveria ter ao menos o pudor de não tentar fazer esta propaganda encapotada à sua jonet de ocasião.

Uma questão de higiene pública. E de coragem

Anónimo disse...

Esta tentativa de emporcalhar o debate com a dona Jonet não passa incólume. Segue-se uma história para provocar azia num apologista da caridadezinha hipócrita, da teoria do pingo e da criação de riqueza para ser sempre açambarcada pelos da sua classe

Num Prós e Contras, Fátima Campos Ferreira tentava convencer o professor que havia boas iniciativas da sociedade civil para fazer frente à pobreza, como o Banco Alimentar Contra a Fome.

Bruto da Costa respondeu-lhe que não era assim que se acabava com a pobreza. Ela contrapôs que o empresariado criava riqueza e só criando riqueza era possível redistribuir.

Ele respondeu-lhe que ouvia essa conversa há 40 anos e que nunca mais se começava a redistribuir, para acabar com a pobreza.

Uma bofetada de luva branca e indirecta na face lustrosa duma hipócrita colaboracionista do projecto austeritário neoliberal. E a servir para outras faces do mesmo género

Jose disse...

Por estas bandas sempre se exalta quem diga mal do capitalismo que se conhece.

Mas gostava que dessem a conhecer é quem diz bem do socialismo que se conhece.

Anónimo disse...

Fantástico!!! Herr José tenta dar-nos a barrela com discursos cardinalícios, para, seguidamente, nos precipitar nos enxurros de cloaca das louvaminhas à Supico Pinto pós-moderna.
Indo ao assunto cardinalício, esquece-se o beatíssimo comentadeiro do facto de que o desaparecimento da pobreza é a última coisa que a instituição católica deseja neste vale de lágrimas: os "pobrezinhos" são o alfa e o ómega da sua caridadezinha assistencialista e a continua persistência de deserdados da vida é a prova provada de que a verdadeira bem-aventurança reside não aqui (no mundo terreno), mas sim no Reino dos Céus. Enquanto a bom do Vaticano, com Francisco ou sem Francisco, prega, não poucas vezes, as virtudes pedagogicamente cristãs da pobreza, ele jamais abrirá mão das suas imensas riquezas e património. A pobreza "redentora" e "santificadora" é ótima para os outros; a riqueza pornográfica dos sucessores de Pedro é um instrumento da santa obra do Senhor... A ser verdade o adágio do Profeta galileu, existirão no Céu mais camelos do que nele existirão ministros da Igreja.
Quanto ao infeliz falecimento de Bruto da Costa, podemos afirmar que foi mais um SENHOR que nos deixou, um ser humano de uma verticalidade e de um comprometimento com os seus humanos irmãos que são lições de vida cívica a seguir por todos os que sentem o país e o mundo como uma casa comum de gente digna por igual.

Anónimo disse...

Herr jose bem tenta.

Depois da tentativa de emporcalhar o debate com a caridadezinha hipócrita e néscia vem pela calada tentar atirar a bola para outro lado.

A bola será sempre jogada em todos os campos, incluindo no "falem-me do bem falem-me do bem falem-me do bem"

Mas esta forma cobarde de fazer serviço cívico não pode passar incólume.

Sorry herr jose. Fica para a próxima.