domingo, 26 de janeiro de 2014

É só mais um reaccionário?

Não sei se um historiador tem mais obrigações do que qualquer outro intelectual, e, de resto, todos os indivíduos são, de uma forma ou de outra, intelectuais, mas sei que Paulo Pinto tem razão quando assinala o “significado social, profundamente elitista, diria mesmo aristocrático” das declarações de Rui Ramos sobre a evolução científica do país.

O horror de classe a instituições mais inclusivas, sejam de ciência ou de outra forma de capacitação individual e colectiva qualquer, deste consistente cultor de Burke e reabilitador de D. Miguel e de Salazar exemplifica a mentalidade reaccionária, que se funde com o imaginário neoliberal, em acção no nosso país, isto para aludir a um livro de história crítica de toda uma tradição intelectual que comecei a ler esta semana e onde, não por acaso, já encontrei uns excertos que se lhe aplicam na perfeição:
“O conservadorismo é a tradução teórica da animosidade em relação à capacidade de acção das classes subordinadas (…) A capacidade de acção é prerrogativa de uma elite (…) Historicamente, o conservador tendeu a favorecer a liberdade para as ordens superiores e o constrangimento para as inferiores (…) O que o conservador vê, e não gosta, na igualdade não é a ameaça à liberdade, mas sim a sua extensão, porque nessa extensão ele vê a perda da sua liberdade.”

5 comentários:

Luís Lavoura disse...

O horror de classe

Mas sabe o João Rodrigues de que classe é Rui Ramos? Quem lhe diz que ele não é filho de pais pobres ou remediados?
Eu não sei de que classe ele é, e ainda ninguém me esclareceu. Mas, a avaliar pelo apelido, não deve propriamente fazer parte da velha aristocracia.

Anónimo disse...

Rui Ramos mesmo que não seja parte da aristocracia, é daquele género de pessoa que fantasia em fazer parte dela!
Ou seja, não deixa de ser um reacionário, apenas é mais um reacionário que não está no topo da cadeia alimentar, este género de pessoa até se esforça em agradar as elites mas a sua mente fantasiosa tolda-lhe a percepção do real. A realidade é que ele nunca fará parte da elite/ aristocracia, é apenas uma ferramenta/ idota útil ao serviço dessa mesma elite...

off-topic

Não sei se os Ladrões de Bicicletas estão a par das notícias mais recentes sobre a Islandia:

Deixem os bancos falir é o mantra enquanto 2% de desenprego é o novo objectivo!

http://www.bloomberg.com/news/2014-01-27/let-banks-fail-becomes-iceland-mantra-as-2-joblessness-in-sight.html

E agora comparem com Portugal, e já agora com o resto das economias mais avançadas...

Unknown disse...

Ó lavoura, se veio de classes protegidas o exemplo é perfeito. Se vem de classes desfavorecidas, é ainda pior do que aparenta, sendo um bom exemplo a personagem do sameul l Jackson no filme Django.

Anónimo disse...

Ramos é protofascista. e não aristocrata.

Aristocracia é o governo dos melhores, ele quer apenas o seu dele governo - um oligarca elistista.

R.B. NorTør disse...

O comentário do Luís parece indiciar que para ele o horror de classe só é possível entre classes. Ou seja, apenas o membro de uma classe pode ter horror de outra.

Só que isso não interessa nada. O que interessa discutir é se não há uma profunda justiça em se defender tudo para uns, nada para os outros e ai de quem pense em mudar de classe. O que ele pensa sobre isso, apenas podemos inferir do seu silêncio.