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Manuel Caldeira Cabral, Desinvestimento na ciência: uma prioridade do actual Governo
«Nuno Crato incentiva a mediocridade. O título da entrevista do presidente da FCT, que o ministro da Educação tutela, é toda uma tese de doutoramento. Diz ele: "Queremos que a ciência esteja cada vez menos dependente do Orçamento do Estado." Cá está o liberalismo de pacotilha: tudo o que é Estado é horrível, tudo o que é privado é o nirvana. Não importa ao dr. Seabra que os grandes avanços científicos que abriram caminho a coisas tão prosaicas como a internet, o GPS, a nanotecnologia - isto é, o iPhone, o iPad, medicamentos espantosos e outras maravilhas da economia privada - tenham na sua origem investigação paga e dirigida por dinheiro público. (...) Silicon Valley e os míticos empreendedores de garagem existem, sim, mas em regra beneficiam do esforço incremental que foi (é) desenvolvido por universidades e laboratórios financiados pelos impostos.»
André Macedo, Sem Estado não havia Apple
«Talvez convenha chamar à atenção para um facto singelo: os "cérebros" não aparecem por arte mágica, são resultado do investimento continuado no sistema de ensino, em particular através da aposta nas universidades. Se temos hoje "cérebros" é porque tivemos uma política científica coerente, alavancada pelos fundos comunitários, ao longa da, note-se, década perdida. (...) Se mais provas fossem necessárias, o massacre das bolsas de investigação mostra como Nuno Crato é um ministro perigoso. Movido por um espírito revolucionário, desmantela o que existe, que tem defeitos, é claro, para em seu lugar nos deixar um enorme vazio. (...) Daqui a uns anos continuará a sangria de jovens forçados a emigrar mas, ao contrário do que hoje acontece, Portugal voltará a exportar mão-de-obra pouco qualificada, disponível para aceitar empregos de baixos salários. Não mais se falará de fuga de cérebros.»
Pedro Adão e Silva, O fim dos cérebros
«Fui ver o programa deste Governo e detectei algumas imprecisões às quais modestamente proponho uma correcção, a bem da coerência que tal documento impõe: (...) onde se lê "Graças às políticas de investimento de sucessivos governos, a ciência em Portugal representa uma das raras áreas de progresso sustentado no nosso país, tendo vindo a dar provas inequívocas de competitividade internacional" deverá ler-se "A ciência, à semelhança de outras áreas de progresso do nosso país é despesista e tem de ser recalibrada, apesar de ter vindo a dar provas inequívocas de competitividade internacional". (...) Onde se lê "Instituir mecanismos que dêem voz a toda a comunidade científica nacional" apagar, foi um erro. (...) Julgo que assim se entende melhor a execução da política de ciência deste Governo.»
Gonçalo Calado, Proposta de errata ao programa do Governo
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