Temos insistido, por exemplo com a metáfora da ida ao pote, que uma das principais e mais perversas orientações das políticas públicas neoliberais é a transformação dos serviços públicos em outras tantas oportunidades para negócios – da saúde à educação, das prisões aos centros de emprego: “O Governo quer avançar com a colaboração entre os centros de emprego e as empresas privadas de recursos humanos na gestão e colocação de desempregados não subsidiados.”
Obviamente, esta tendência predatória adensa a rede entre a política e o grande capital, essencial no capitalismo realmente existente, o que obriga a sair do romance do mercado para a realidade do poder e das suas redes, tanto mais fortes quanto mais fracos são os freios e contrapesos sindicais ou de controlo social através da propriedade e gestão públicas de sectores essenciais. Dois exemplos desta saída do romance para a realidade são o trabalho sobre os mais poderosos do Negócios e Os Donos de Portugal: têm agora uma infografia e uma visualização interactiva que vale a pena ver.
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2 comentários:
A infografia e a visualização interactiva são muito interessantes e estão muito bem feitas (eu gosto particularmente da visualização interactiva).
Mas a sua análise, e o seu post, sugerem-me várias questões:
- É patente que existe uma efectiva uma "promiscuidade" entre políticos e o meio empresarial, mas o facto de muitos destes sectores (e empresas) poderem ser controlados pelo Estado não significa que seriam os mesmos políticos a controlá-los?
- Mesmo com um Estado empresarial pequeno (na sua perspectiva) não tem sido patente também a elevada rotatividade de gestores limitada a um número restrito de agentes políticos? (veja, por exemplo, o que sucedeu nas Águas de Coimbra)
- Alguns sectores mencionados dizem respeito à distribuição alimentar, construção civil, ... Que sectores são afinal estratégicos e deviam estar nas mãos do Estado? Todos?
Em resumo, a existência de muitos sectores empresariais directamente controlados pelo Estado levaria efectivamente a um maior controlo pelos cidadãos ou aprofundaria ainda mais o poder dos mesmos (políticos/gestores)?
Voltando ao exemplo concreto das Águas de Coimbra.
É um sector estratégico.
É gerido pelo Estado.
Com os resultados das últimas eleições deixou de ser gerido pelo presidente da distrital do PSD e passou a ser gerido pelo presidente da distrital do PS (era interessante analisar também o que se passou com outros membros da direcção, assessores, ... - talvez uma boa infografia ajudasse a perceber por onde transitaram todos dentro do Estado).
Alguns representantes na Assembleia Municipal levantaram a questão (a meu ver, tarde e a más horas). Sem qualquer consequência prática.
Pergunto-lhe então: enquanto subsistirem estes exemplos concretos (que decerto se replicarão por todo o Estado) que sentido faz reclamar mais sectores/empresas controlados pelo Estado? Que diferença faz o controlo Estatal no que diz respeito à diminuição da promiscuidade políticos/meio empresarial ou à criação/manutenção de "castas"?
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