sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Os amanhãs que cantam

Em Novembro do ano passado, o ministro da recessão e do desemprego, Álvaro Santos Pereira, profetizava que 2012 iria, «certamente (...), marcar o fim da crise». Dois meses mais tarde, caberia a Vítor Gaspar anunciar que o país se estava a aproximar de «um ponto de viragem». E, no início do ano, seria o próprio Passos Coelho a garantir que «a recuperação económica de Portugal começaria na segunda metade de 2012», sendo corroborado por Cavaco Silva que - mais cauteloso com datas - terá contudo encontrado também sinais disso mesmo (possivelmente nas entranhas de um matinal jaquinzinho). Mais recentemente, em pleno aquashow («meter água», em português técnico), o primeiro-ministro volta a decretar o fim da crise, postergando-o contudo para 2013.

O próprio governo, porém, é hoje forçado a assumir o que já há muito se sabe: Portugal não vai cumprir a meta do défice acordada com a troika para 2012. O desemprego atingiu o valor histórico de 15,4% em Junho, as receitas fiscais caem a pique cada mês que passa, as falências sucedem-se e a economia extingue-se no estado comatoso em que foi mergulhada. Nada que faça estremecer, porém, as delirantes convicções de António Borges: «o programa [de ajustamento] está a correr bem. Digam o que disserem, o programa está a correr melhor do que se pensava. (...) Por isso não precisamos nem de mais tempo, nem de mais dinheiro. (...). Bastará portanto, deduz-se, reforçar a dose de veneno que tem devastado a economia e empobrecido o país. Não importa, para Borges a recuperação está à vista: «para o ano, no fim deste ano, em 2014... não sabemos». Há-de acontecer, ponto.

Mas não se zanguem com António Borges. Ele está apenas a tratar da vidinha e dos interesses que o rodeiam. Não se perde uma oportunidade destas para ir ao pote e abocanhar serviços públicos e bens colectivos. É por isso que o «aquashow» tem que continuar. À custa da economia e de todos nós, evidentemente.

1 comentário:

Anónimo disse...

O que vale é que estas afirmações foram proferidas na Universidade do Verão do PSD...e o valor intrinseco delas está patente na capacidade que Borges tem para anunciar a retoma da economia..."no fim deste ano...no principio do próximo...durante 2013...não sabemos." Esta é a verdadeira essência destes doutos senhores. Eles no fundo não sabem mas também isso não lhes interessa nem incomoda pois a sua verdadeira missão não está em resolver os problemas económicos do País como é óbvio em toda a sua actuação. Quando na mesma conferência faz alarde sobre os gastos do estado nos diferentes aspectos da economia como factor estagnante da mesma, não se ouviu nem sequer se questionou porque é que o estado tem que ocorrer a salvar a banca com dinheiro que é de todos, perturbando assim o mercado livre ao condicionar os factores desse mesmo mercado. Fez mau negócio tem que aguentar com as consequências. Se tem risco sistémico é porque o estado não intervem como regulador- bancos com depósitos ou seja poupanças de quem trabalha não pode especular com este dinheiro no grande casino financeiro que a ganância de alguns criou para proveito próprio. O mesmo se passa com as empresas, o dinheiro das mais valias conseguidas se for utilizado no sector especulativo deve ser taxado de maneira diferente se este for utilizado para a modernização do sector produtivo. Como na Universidade estes senhores estudaram isto tudo e sabem de que está em jogo, produzem depois as afirmações que melhor defendem o senhor que lhe paga a renda!