“Nem todos os detalhes são claros, mas o plano faz pouco para ajudar a Grécia e muito para ajudar os bancos.” Quem o diz é a The Economist, num primeiro balanço das últimas engenharias que estão a ser elaboradas pelos grandes bancos e pelos seus representantes políticos no centro europeu para tentar mitigar e adiar o inevitável: os “investidores” recebem 30% do capital investido nas obrigações gregas que chegam à maturidade nos próximos anos, graças aos empréstimos europeus, e comprometem-se a reinvestir voluntariamente 70% em novas obrigações com prazos dilatados e com juros generosos; o Estado grego, por sua vez, coloca 30% deste reinvestimento num “veículo financeiro especial” que compra obrigações com notação máxima (AAA) que servirão como “seguro” para os investidores em caso de incumprimento. É mais ou menos isto.
O negócio é bom para os bancos, diz a The Economist, porque lhes permite desde já embolsar algum dinheiro, evitar perdas imediatas de grande dimensão, que podem bem ser da ordem dos 50%, e receber juros atractivos. Para a Grécia, pelo contrário, o plano é pouco atractivo porque “não faz nada para reduzir o fardo da dívida e pode complicar uma eventual reestruturação” a sério, embora as agências de notação e a Comissão discutam agora se um plano deste tipo configura ou não um “incumprimento selectivo”. As palavras são importantes também em economia política.
Seja como for, continuamos no domínio da real ajuda cooperativa, mais ou menos sofisticada dadas as circunstâncias políticas e económicas, aos bancos, mascarando a crise sistémica com centro nos bancos, em que Yanis Varoufakis tem insistido, e da fictícia “ajuda” à Grécia através de empréstimos usurários, de austeridade punitiva e de formas de controlo político de tipo neo-colonial. Um plano neoliberal, um plano definido pelos grandes interesses financeiros, que, tal como os planos que desenharam o euro ou os mercados financeiros liberalizados, vai acabar mal.
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