
Portugal e a Grécia, por seu lado, são membros de uma espécie de federação, disfuncional e incompleta, assente numa separação letal entre política orçamental e política monetária, colocados na dependência de instituições centrais que parecem só existir para favorecer a pilhagem financeira e não para realizar, entre outras operações de política económica que deveriam estar institucionalizadas, as transferências orçamentais entre “regiões” que partilham a mesma moeda. Abdicámos dos atributos centrais da soberania democrática sem os recuperar à escala europeia. Este é o nosso problema europeu e a questão é saber se o conseguimos resolver no quadro do euro. Como estamos é que não pode ser.
Entretanto, no campo da dívida pública, a crise nos EUA é resultado de um sistema político disfuncional, também dominado por ideologias aberrantes, ilustrando o perigo de se aceitar uma regra, um tecto, artificial, que as crises agudas se encarregam sempre de furar, para variáveis, como a dívida, que dependem sobretudo do andamento da economia, mas sem esquecer, claro, as consequências fiscais negativas da captura do Estado pelos mais ricos...
7 comentários:
Ficar na situação em que estamos, numa Zona Euro cujos Estados não foram, nem são capazes, de manter a sua economia entre as apertadas balizas dos critérios de convergência, não é viável, nem desejável. (Acabaremos tragados pelos tubarões financeiros).
Ou avançamos para um federalismo castrador do projecto nacional e abandonamos, de vez, o domínio sobre a capacidade de alterar o nosso destino enquanto nação, ou recuamos e saímos da Zona Euro, mantendo salvaguardada uma grande parte da nossa soberania, mas com custos económicos e sociais muito elevados.
Ou haverá um outro caminho, ainda não perscrutável, para além destes?
De qualquer forma, aqui é que não podemos ficar!
"ideologias aberrantes" é um pleonasmo, todas as ideologias são aberrantes. A realidade não se submete às fantasias ideológicas.
Quanto à Europa, a Europa é o local onde se inventam formas de vida. A vida moderna foi inventada por aqui (os demais copiam-na), é por isso natural que seja na Europa onde primeiro se abandone os fundamentos da modernidade, como a validade do mercado, a validade do trabalho, a validade da ciência, e a validade da democracia. As validades de uma idade são as invalidades da idade seguinte.
As evoluções assentam em revoluções, o mercado está a dar as suas revoluções finais, para que se evolua dele.
Um investidor é um cidadão como outro qualquer, não deve por isso ter mais poder do que os demais. Se um investidor actua contra o interesse público deve ser enquadrado e confiscado todo o seu arsenal financeiro. Cabe ao estado manter a ausência de poderes entre cidadãos, tanto os bélicos como os financeiros. Um arsenal financeiro é um perigo para a ordem pública maior que um arsenal bélico.
Os arsenais financeiros devem ser controlados e banidos por regras de civismo obrigatórias a todos, e nunca por regras de mercado. O mercado é apenas um jogo (de trocas), e os mercadores (investidores e afins) são apenas pessoas. Não há nada de transcendente nos mercados e nos mercadores. As regras de tolerância à delinquência mudam-se, os mercadores e o mercado desaparecem sempre que isso seja necessário.
O civismo deve ser obrigatório e imposto a todos, e o civismo exige a eliminação das ameaças dos mercados e dos mercadores. Os fundos financeiros são arsenais à deriva, que dão poder efectivo a sonsos e afins delinquentes, devem desaparecer tanto os sonsos delinquentes como os seus arsenais financeiros. O controlo e destruição de arsenais financeiros é essencial à paz mercantil. A paz mercantil é igual à paz bélica, é a ausência de mercado (livre e ou planificado) para que haja paz económica.
Não é a Europa que está mal, é a modernidade que está mal. A Europa está apenas a tomar consciência disso. Não são os Europeus que estão a mais na equação, é o mercado (e respectiva delinquência mercantil) que estão a mais na realidade Europeia.
www.idadehodierna.blogspot.com
Muito bom artigo .
É necessário explicar a inviabilidade deste EURO.
Ao mesmo tempo é preciso encontrar soluções dentro do país que passam pela redução do deficit corrente, sem explodir com o desemprego ou a emigração forçada.
Sem soberania começaria desde logo por não haver "bancos centrais", não é?
A ideia, com estes, é constituir uma zona de segurança "acima" dos bancos "normais", a qual tem a particularidade nada despicienda de estar apoiada no Príncipe, na própria soberania, como garantia em ultima ratio do crédito, fundamento da própria ordem social...
O reverso disso é suposto ser, costuma ser, tem de ser o banco central emprestar dinheiro ao Príncipe sempre que este precisa...
Ora bem, na tal de Europa isso não só não acontece como não pode acontecer por disposição constitucional mesmo, lembram-se?
Que diabos é então esta engrenagem toda? O que é a essência do BCE?
Simples. É uma forma de abdicarmos da soberania, saindo da democracia (claro, o que só por si já dá muito jeito) e mesmo (para gáudio de muitos, sim) da própria modernidade.
É uma forma, em suma, de voltarmos a uma espécie de feudalismo pós-moderno, ou de servidão por dívidas...
É essa a miséria para a qual a adesão ao mumbo-jumbo da ideologia europeísta (porque é uma ideologia, sim, tal como é uma ideologia a própria ideia do fim das ideologias, do procedimento "não-ideológico", etc.) nos atirou.
Voilà! Vejam o Max Keiser e o Michael Hudson aqui, sff:
http://www.youtube.com/watch?v=sU4Nvv5yqVg
Aprende-se muito mais com eles do que a maior parte dos "sábios" económicos da treta...
Caríssimo João Rodrigues,
Fiz uma hiperligação deste blogue no meu último “post”, relativo aos meus blogues predilectos e aos recentemente descobertos, intitulado “Selecção 2011 – blogosfera e qualidade”.
Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt ( Crónicas do Professor Ferrão )
"Obama declarou, na semana passada, que os EUA não são a Grécia ou Portugal".
Noutros termos: "vocês julgam que nós somos o quê, pretos, não?"
Mais palavras para quê?
E não serão as guerras que fazem ainda furar esse tecto??
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