| Receita | | | | Despesa | | | |
País\Ano | 2007 | 2008 | 2009 | 2010 | 2007 | 2008 | 2009 | 2010 |
Roménia | 34 | 32,7 | 32,2 | 32,5 | 36,6 | 38,5 | 38,5 | 38,9 |
Bulgária | 41,6 | 41,4 | 40,8 | 40,9 | 41,5 | 37,4 | 39,5 | 39,3 |
Eslováquia | 32,7 | 32,1 | 32,2 | 32,1 | 34,4 | 34,9 | 38,3 | 39,4 |
Lituânia | 33,9 | 33,9 | 34,8 | 36 | 34,9 | 37,2 | 39,5 | 42,7 |
Malta | 40,4 | 40,7 | 41,1 | 41,2 | 42,6 | 45,3 | 44,4 | 44,8 |
Chipre | 46,4 | 45,6 | 44,1 | 44,1 | 42,9 | 44 | 44,4 | 45 |
Grécia | 40 | 39,9 | 40,8 | 40 | 43,7 | 44,9 | 45,3 | 45,2 |
Luxemburgo | 41 | 43,6 | 44 | 42,9 | 37,2 | 40,7 | 44,2 | 45,7 |
Polónia | 40 | 39,6 | 40,2 | 40,3 | 42,1 | 43,1 | 46,1 | 46,8 |
Espanha | 41 | 36,8 | 36,4 | 36,9 | 38,8 | 40,5 | 45,2 | 47,1 |
Estónia | 38,2 | 36,5 | 38,2 | 38,4 | 35,5 | 40,9 | 45 | 47,3 |
República Checa | 41,6 | 40,7 | 40,7 | 41,1 | 42,6 | 42,4 | 45,9 | 47,6 |
Eslovénia | 42,9 | 41,6 | 41,7 | 41,6 | 42,4 | 43,6 | 47,7 | 48,6 |
Portugal | 43,1 | 44,2 | 42,6 | 42,4 | 45,7 | 45,9 | 48,9 | 48,7 |
Alemanha | 43,9 | 43,7 | 43,5 | 42,3 | 44,2 | 43,9 | 48,2 | 49 |
Irlanda | 35,7 | 33,7 | 33,7 | 33,9 | 35,7 | 41 | 45,8 | 49,1 |
Letónia | 37,6 | 36 | 34,1 | 34,7 | 35,9 | 39,5 | 46,8 | 49,8 |
Holanda | 45,6 | 46,8 | 46,1 | 45,6 | 45,3 | 45,4 | 48,3 | 50,2 |
Área do Euro | 45,5 | 44,8 | 44,7 | 44,4 | 46,1 | 46,6 | 50,1 | 51 |
Itália | 46,6 | 46,4 | 46,5 | 46,5 | 47,9 | 48,8 | 51,2 | 51,1 |
União Europeia | 45,1 | 44,5 | 44,3 | 44,1 | 45,7 | 46,8 | 50,1 | 51,1 |
Hungria | 44,9 | 45,5 | 46,1 | 46,4 | 49,7 | 49,9 | 50,8 | 52 |
Áustria | 47,9 | 47,6 | 47 | 47,3 | 48,5 | 48,6 | 51,6 | 52,1 |
Reino Unido | 42,6 | 41,8 | 41,4 | 41,6 | 44 | 47,7 | 50,5 | 52,4 |
Bélgica | 48,1 | 48,4 | 48,5 | 48,2 | 48,3 | 49,8 | 52,9 | 54,3 |
Finlândia | 52,6 | 52,3 | 52 | 51,3 | 47,3 | 48,3 | 52,8 | 54,3 |
França | 49,7 | 49,6 | 49,4 | 49,9 | 52,3 | 52,7 | 55,6 | 56,4 |
Dinamarca | 55,4 | 54,8 | 52,8 | 53,4 | 50,9 | 51,8 | 55 | 57 |
Suécia | 56,4 | 55,1 | 53 | 52,7 | 52,5 | 53,1 | 56,6 | 57,3 |
No post anterior, chamei a atenção para o facto de a obsessão da Direita não ser realmente com o défice, mas sim com as políticas públicas e a despesa, vistas como a raíz de todos os males da nossa sociedade. Os dados acima são da Comissão Europeia e representam a receita e despesa públicas em função do PIB, entre 2007 e 2010. Ordenei-os em função da despesa em 2010, por ordem crescente, para melhor ilustrar o raciocínio dos nossos liberais.
Lá em cima, estão os países poupadinhos, da qualidade de vida, com mais direitos sociais e melhores índices económicos: Roménia, Bulgária, Eslováquia, Lituânia, Malta, etc. Cá em baixo é onde se sofre. Os países gastadores, que só conhecem o atraso, as dificuldades, a miséria social: Suécia, Dinamarca, França, Finlândia, Bélgica, etc.
Há qualquer coisa que não bate certo, não é? Sempre ouvi coisas boas da Suécia... Se um economista neo-clássico fizesse uma das suas correlações entre o nível da despesa e alguns indicadores económicos e sociais, qual é que acha o leitor que seria o resultado? Infelizmente, o autor destas linhas aprendeu que correlações não são explicações e não acha que a solução seja desatar a gastar à vontade que seguramente ficaremos como os nórdicos.
Mas espero que estes dados sirvam pelo menos para tirar a ignorância do caminho do debate e mostrar duas coisas, mesmo aos taradinhos das regressões: 1. a haver uma relação entre despesa, desenvolvimento e bem-estar, ela não é a que nos andam a dizer e 2. o debate necessário tem de ser muito mais um debate sobre a qualidade e utilidade da despesa do que sobre a quantidade. Nesse debate, fazem-se escolhas, todas elas políticas. Uma coisa é certa: tanto em receita, como em despesa, Portugal está bem abaixo da média da UE e da Zona Euro.
Mas há uma escolha que é anterior a essas. Qual é a sociedade em que queremos viver? E onde é que encontramos naquela tabela as realidade mais parecidas. Essa escolha talvez nos ajude a perceber por que caminho queremos seguir.
11 comentários:
O problema, Caro Gusmão, é outro: é a dívida.
O problema é que a dívida não pode crescer ilimitadamente.
Ou pode?
Se v. sabe como desatar este nó talvez o convidem para ministro das finanças.
A dívida é um problema, caro Rui Fonseca, que o aumento da receita também resolve. Mas é, de facto, um problema. Tem lido os posts? É que eu já escrevi no II, e cito, "a dívida não pode crescer indefinidamente"... Parecido com o que diz, não?
Aquilo que é impossível concluir a partir destes dados é se os países são mais desenvolvidos porque têm mais despesa, ou se têm mais despesa porque são mais desenvolvidos.
Por muito preciosismo que seja, se for a segunda hipótese a verdadeira, as "teses neoliberais" de - despesa = + desenvolvimento (ainda) não podem ser desmentidas. E muito menos poderemos afirmar que se gastarmos o que a Suécia gasta, vamos ter o desenvolvimento que eles têm.
Se agora relacionar a taxa de crescimento da despesa pública com a taxa de crescimento do PIB, e se comparar as duas com o endividamento externo, talvez possamos ver alguma coisa no meio do nevoeiro. Assim, não. É que o aumento do endividamento externo contribui para o PIB, com o inconveniente de a dívida ter de ser paga, com juros, um dia, o que significa que se o investimento não for reprodutivo ... Depois, o raciocínio segundo o qual os países nórdicos estão mais adiantados económica e socialmente por terem um rácio alto despesa pública/PIB é, para dizer o mínimo, um raciocínio simplista. Com boas razões se pode dizer que não é por causa de o rácio ser alto: é apesar desse facto. Afinal de contas, os países nórdicos ganharam algum adiantamento antes de terem altíssimas taxas de despesa pública. Depois, com bons sistemas de ensino, com ética de trabalho e de empreendedorismo, com espírito comunitário e respeito pela propriedade pública - numa palavra, com uma cultura diferente da nossa - puderam aprofundar e manter os seus sistemas sociais, que aliás agora têm vindo a adaptar à força das mudanças demográficas, à realidade da competição globalizada e aos ares do tempo.
"a dívida não pode crescer indefinidamente".
E, nas circunstâncias actuais, até onde pode ir o aumento da receita?
Para pagar o aumento dos juros? E o resto?
Concordo com algumas das opiniões já aqui expressadas: aumentar a despesa está longe de ser causa única, essencial ou até mesmo causa, para ter crescimento.
E não se deve gastar acima das possibilidades e investir em projectos duvidosos (e temos ainda alguns que nem duvidosos são: existe a certeza que não compensam à partida).
Tal como empresas que operam em mercados maduros têm mais dificuldade em crescer que startups em mercados novos, também países desenvolvidos terão maior dificuldade em atingir elevadas taxas de crescimento do que países em desenvolvimento (claro que também depende muito de que tipo de países em desenvolvimento estamos a falar).
Cumprimentos.
Por favor
Corrijam-se se estiver errado.
Quando a mim, só vejo uma maneira de fazer baixar a divida (que é aqui que parece que está o problema segundo a opinião geral): Importar menos!
Para manter-mos o padrão de vida que queremos e ao mesmo tempo baixar a divida, temos que produzir mais, especialmente aquilo que andamos a consumir.
Mas como produzir mais se desde 1985 de vêm dissolvendo o nosso sistema produtivo?
Como explicar ao Dr Cavaco que desmantelar as pescas e a agricultura (e todos os sistemas de produção ligados a eles) foi o começo do fim?
Relativamente a 2010 estamos a falar de estimativas, mas isso não desmerece da análise, claro.
AP
"facto de a obsessão da Direita não ser realmente com o défice, mas sim com as políticas públicas e a despesa, vistas como a raíz de todos os males da nossa sociedade."
Acho que é aqui que está a raiz da divergência, e concordo com o JGG. Podemos tratar do défice e da divida de várias formas. Penso que a mais adequada é através do crescimento económico.
Se uma grande dívida prejudica a economia portuguesa por causa do aumento da taxa de juro da dívida pública, não é menos verdade que medidas restritivas que reforçam o ciclo negativo em que estamos instalados também contribuem para aumentar o desemprego, falências, e outras coisas mais...A direita responde a isto com descidas de impostos para as PME. E eu tenho as minhas sérias dúvidas que resulte.
Por outro lado, a despesa pública, claro que dentro de níveis controlados, não tem de ser nociva, e só é nociva até agora porque umas agências claramente dependentes de outros poderes económicos nos andam a dizer que temos de nos preocupar com isso.
Qualquer economista tem de concordar que tecnicamente, as medidas são equivalentes, não conhecendo eu qualquer dado que diga que uma das medidas é mais eficaz que outra.
Por isso a frase que citei no princípio do comentário...trata-se de uma opção política...apenas...
Ora muito provavelmente está aí a grande verdade: a obsessão da Direita não será com o défice, mas com a despesa pública.
A ser assim, é difícil concentrarmos a discussão no que vem depois e que é crucial: 1 prioridades na despesa 2 qualidade dos serviços públicos (desde que não se torne na “caça ao funcionário público” - que caça só selvagem e quando houver sobrepopulação)
Boa noite,
O meu comentário a este post vai assentar num descendente da teoria económica chamado Marketing.
Alguns autores utilizam um conceito chamado "Oferta global de valor". Este conceito consiste na análise de que a decisão de um consumidor em comprar um determinado produto não assenta apenas em propriedades tácitas como o preço ou a qualidade mas num conjunto alargado de factores como, por exemplo, a notoriedade da marca, o serviço pós-venda, a atractividade da embalagem, etc..
Ou seja, a focalização numa ou duas variáveis é, claro está, falível.
A questão é a seguinte: qual a variável que mais melhora a vida das pessoas? Investimento. Qual o investimento mais sustentável e de retorno mais inquestionável? O produtivo.. Então vamo-nos focar nesse. Então qual a proxy mais eficaz para apurar a atractividade de uma economia a este "néctar divino"? O IDE..
A verdade é que o investimento em Portugal tem caído dia após dia, e essa é a fonte da nossa baixa qualidade de vida. Não se geram mais e melhores empregos.
São os serviços do estado essenciais para a nossa qualidade de vida? são! mas... para que as empresas estejam dispostas a pagar uma alta carga fiscal para alimentar um estado alargado temos de ter uma oferta global que o atraia por outras vias, pois os impostos baixam o rendimento líquido, ora vamos analisar:
Educação: Temos uma população pouco qualificada. Os poucos que são qualificados são na sua maioria em áreas que dizem respeito ao estado ou a construção. Os que até estão virados para o mercado é para a gestão ou funções administrativas. Portugal tem uma das mais baixas taxas de engenheiros tecnológicos da Europa. Ou seja, aqui não temos vantagem competitiva.
Salários: Apesar de quem os recebe achar que são baixos, quem os paga não o acha. Isto deve-se a enorme discrepância entre os salários líquidos e o salário bruto + TSU. Do ponto de vista do empregador, com todos os subsídios, o salário mínimo mensal é de quase 750€ (isto num país sem qualificações relevantes para as empresas). Esta diferença aumenta exponencialmente à medida que os salários aumentam. Quem se ri? O estado…
Justiça: não é preciso dizer grande coisa.
Posição geográfica: Muito mal aproveitada. As infra-estruturas foram feitas para dentro e para pessoas, mercadorias são esquecidas.
Concluindo, os países que podem cobrar muitos impostos 1) têm outras vantagens competitivas e 2) gastam-nos com eficiência e o retorno é notório. Portanto, não retiro qualquer verificação útil deste post.
Enviar um comentário