quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Para além da histeria liberal

«[Q]uando os liberais se perturbam por o modelo de trocas internacionais estar a ser “beliscado” por ajudas de Estado ou algumas tarifas alfandegárias, estão a esquecer que a construção de um mercado internacional se faz a partir de territórios, onde o jogo social e político é intenso. É aí que há povo, conflitos, consensos, deliberações. Assim como é aí que se geram novas soluções e inovações sociais úteis. Esses territórios são Estados-nação, regiões ou espaços supra-nacionais, como a União Europeia. Não admira, por isso, que, sendo todos os mercados construções políticas, se regresse à sede da política quando há que refazer arranjos» (José Reis).

«O que justifica todo este alarme dos nossos ultra-liberais? A explicação só pode estar na falência do modelo internacional de (medíocre) crescimento económico dos últimos trinta anos. Perante a urgência de se pensarem alternativas mais justas, sustentáveis e prósperas, os defensores da ordem neoliberal entraram em pânico e procuram, a todo o custo, salvar os dedos do modelo, agora que os anéis já se foram. Esforço inglório…Uma das causas estruturais da crise que atravessamos está nos formidáveis desequilíbrios externos que diferentes países, com os EUA à cabeça, foram acumulando ao longo dos últimos anos. Qualquer medida que não seja meramente paliativa no actual contexto tem reverter estas tendências. Precisaremos, pois, de mais protecção, além de um novo sistema financeiro internacional, com taxas de câmbio ajustáveis, para o conseguir» (Nuno Teles).

«Praticamente todos os actuais países ricos, de uma forma ou de outra, recorreram a diferentes formas de proteccionismo e intervencionismo para desenvolver as suas economias - e só aderiram aos princípios liberais (os que o fizeram) depois de a sua supremacia industrial estar assegurada. Os períodos de maior crescimento económico a nível nacional e internacional estão sistematicamente associados a períodos em que as políticas públicas de apoio ao desenvolvimento foram mais intensas» (Ricardo Paes Mamede).

14 comentários:

rack disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
rack disse...

o problema é quando o roubo é de e do Estado !!!

CS disse...

Eu atrevi-me a provocar a histeria liberal com um texto de análise sobre o comércio justo:
http://ovalordasideias.blogspot.com/2009/02/comercio-livre-comercio-justo-e.html
Mas como sempre eles fugiram ao debate. Deviam ler o Roubini de hoje.

Unknown disse...

apesar de honestamente não partilharmos o mesmo ponto de vista, em varios topicos que li, como estudante de economia quero parabeniza-lo pelo blog
*aperto de mão

Unknown disse...

ops...parabeniza-loS

Anónimo disse...

"A explicação só pode estar na falência do modelo internacional de (medíocre) crescimento económico dos últimos trinta anos."

Conhecem alguma alternativa que tenha apresentado melhores resultados?

José M. Sousa disse...

«Conhecem alguma alternativa que tenha apresentado melhores resultados?»

Ler "Bad Samaritans";

Miguel Fabiana disse...

Caro Anónimo, por falar em resultados e em "melhores resultados": o que está à vista de todos, não lhe chega ?!? ou ainda precisa de cavar um buraco ainda maior com uma pá neo-clássica até o buraco se tornar de tal forma fundo que quem o está a cavar, já não saia de dentro do mesmo??? até quando estes ultra-liberais vão insistir no erro e no auto-engano só porque se recusam a assumir os erros que a história (dos últimos 30 anos) não irá esquecer??? Como disse krugman : "And economists, who should be helping introduce some clarity, are on the whole making things murkier. I had thought that the lessons of the Depression would help guide us through this crisis; but it turns out that a large part of the profession knows nothing about those lessons, and is peddling fallacies exploded three generations ago as if they were profound new insights.
So yes, we can have another depression — because those who refuse to learn from history may be condemned to repeat it."

...ou como escreveu Roubini: "Economics is pretty much the only academic profession where being completely wrong and arrogantly so, does not affect one's credibility or reputation. In their own words, their "preferences" are truly "convex"".

O que é que ainda falta acontecer ?!?? Os modelos são uma tentativa de representar e explicar a Realidade ou a realidade é uma coisa que só existe se existirem os Modelos?

Anónimo disse...

"O que é que ainda falta acontecer ?!??

Falta chegar ao 'sucesso' das experiências socialistas.

Miguel Fabiana disse...

Está a falar precisamente do quê? é que na UCP eu ouvi um baCocco a dizer que as teses de Keynes eram "Teorias Soviéticas" e eu dava-lhe uma prenda se conseguisse descobrir de quem é este texto: "Mas é preciso perceber que muitos que hoje invocam Keynes não sabem nada sobre o que o teórico inglês disse. Pelo contrário, usam o nome dele como mero meio para promover o intervencionsimo e planeamento. Nesse sentido, o que hoje se ouve de pseudo-keynesianos é, de facto, uma tentação totalitária escondida. Por isso, nesse caso e apenas nesse caso, a aplicação do adjectivo soviético é adequada"

Miguel Fabiana disse...

nota de rodapé: A expressão "reductio ad Hitlerum" foi cunhada pelo filósofo político Leo Strauss, em 1950 e sem pretenciosismos da minha parte, proponho a criação da expressão "Reductio ad Sovietum" ou "Reductio ad Socialismum" para os mais esclerosados dos ultra-liberais.

Um Pouco de História: Lei de Godwin, cunhado por Mike Godwin em 1990, o qual postula que as analogias envolvendo Hitler e os nazis tornam-se cada vez mais prováveis de serem utilizadas quanto maior o tempo de "discussão".

Talvez agora se perceba esta variante sobre "Socialismos", "Socialistas" e ..."Keynesianos" - para este tipo de lógica sugiro o título de "Reductio ad Sovietum".

L. Rodrigues disse...

E já agora, o anónimo poderia analisar o periodo imediatamente anterior aos ultimos 30 anos, retrocedendo até ao principio dos anos 50 para encontrar o maior crescimento e distribuição de riqueza per capita da história das sociedades industrializadas.

Não no modelo soviético, mas no modelo ocidental, pré-neo-liberal.

CS disse...

Quando é que os ortodoxos percebem que a economia e geopolítica deixaram de se puder pensar em separado?
http://ovalordasideias.blogspot.com/2009/02/obama-e-putin-distancia-na-cimeira-de.html

Miguel Fabiana disse...

Carlos, julgo que logo após o Milton Friedman ter passado pelo Chile e pelo Brasil...por volta dessa altura!