«Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam que em 2008 havia 339 mil trabalhadores com duplo emprego em Portugal, o que representa um acréscimo de 5% em relação ao ano anterior e o valor mais elevado jamais registado no país» (esquerda). O sobrendividamento e a compressão de salários à partida muito baixos garantem o alastramento destas estratégias de sobrevivência. Trabalhar cada vez mais para manter um nível de vida baixo ou para «gerir» a sua deterioração. Viver no fio da navalha e estar exposto a escolhas trágicas permanentes. É sempre assim em países demasiado desiguais e onde é grande o peso dos trabalhadores pobres.
Diz-se que os valores da família estão em crise. Pois é. A sociedade de mercado, mesmo em crise, odeia tempos mortos, ou tem formas desumanas de os gerar, e tende a não parar à porta de casa. De algumas casas. A ética do cuidado, defendida por José Manuel Pureza, «um católico tresmalhado» com um excelente blogue, pode ser ameaçada. Pureza tem oportunamente contestado as estranhas prioridades políticas da hierarquia da Igreja Católica. A defesa da família passa pela denúncia dos processos socioeconómicos que a ameaçam. O novo código do trabalho aí está a dar poder aos patrões para baralhar ainda mais horários e rotinas.
Desgraçadamente, os bispos parecem estar mais preocupados em bloquear a remoção das discriminações legais que perpetuam outros mecanismos evitáveis de geração de opressão e de infelicidade. A luta pela possibilidade do casamento por parte de pessoas do mesmo sexo é, entre outras coisas, uma luta em defesa da família, de todas as famílias. Esta defesa fica então para os que nutrem, retomando os termos de Nancy Fraser, os valores do reconhecimento e da redistribuição. Trata-se também aqui de criar as condições para que a ética do cuidado possa florescer.
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