quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Afinal, o que é utópico e o que é realista?

“Enquanto que a economia laissez-faire foi o produto da acção deliberada do Estado, as restrições subsequentes ao laissez-faire iniciaram-se de forma espontânea. O laissez-faire foi planeado; o planeamento não. (…) [A] ideia de um mercado auto-regulável era utópica e o seu progresso foi obstruído pela autoprotecção realista da sociedade”. Estas palavras foram escritas por Karl Polanyi em A Grande Transformação, um livro que é hoje considerado um clássico da economia política crítica*. Um livro que mantém uma notável actualidade e que nos fornece pistas para compreender a actual conjuntura de crise sistémica e de transformação institucional. O resto do meu artigo mensal no Jornal de Negócios pode ser lido aqui.

A última edição de A Grande Transformação contém um elogioso prefácio da autoria do Prémio Nobel da Economia Joseph Stiglitz e uma excelente introdução de Fred Block, uma das referências da sociologia económica e, na minha opinião, um dos melhores comentadores de Polanyi. Infelizmente, não existe nenhuma tradução disponível no nosso país. É urgente colmatar esta gritante falha. Quem traduz?


Descobri recentemente que um importante e representativo artigo de Polanyi - «A nossa obsoleta mentalidade mercantil» - foi traduzido para português em 1978 e está disponível aqui. O jornal Público editou, há já algum tempo, um conjunto de curtos ensaios em colaboração com as Edições João Sá da Costa. «A ilusão da Economia» de Karl Polanyi, dois capítulos de uma obra publicada postumamente – The Livelihood of Man – foi aí publicado com uma tradução primorosa de Pedro Tamen. O conceito de embeddedness, um dos muitos que Polanyi legou às várias ciências sociais, foi traduzido por incrustração. Convém começar a fixar termos na nossa língua. Na Economia e na Gestão, por exemplo, há muitas expressões que estão por traduzir.

Já agora, aproveito para informar que irei apresentar uma comunicação sobre Polanyi e Hayek no CES. A sessão está aberta a todos os interessados. Estes dois autores prestam-se a uma comparação a propósito das dinâmicas dos mercados. Estranhamente parece-me que este exercício está, no essencial, por fazer. O ponto de partida é uma leitura de dois livros que saíram em 1944 e que desde aí deram que falar e que escrever e vão continuar a dar. São as virtudes dos clássicos. O Caminho para a Servidão foi recentemente reeditado em Portugal. A comunicação intitula-se Onde pára o mercado? Movimento e contramovimento em Karl Polanyi e Friedrich Hayek. Um capítulo de uma tese de doutoramento em curso. Volto para ela.

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