terça-feira, 30 de setembro de 2008
Visão da crise financeira
«Duas perspectivas das lições a tirar da crise financeira em que se vive há mais de um ano». «A visão da esquerda» é escrita por mim. «A visão da direita» por Paulo Pinto Mascarenhas. No Jornal de Negócios de hoje. Também no campo económico, a história e o debate não acabaram.
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4 comentários:
Caro João Rodrigues,
só para lhe dar os parabéns pelo extraordinário artigo.
cumprimentos,
joao galamba
Obrigado João Galamba.
Um abraço,
João Rodrigues
Paulo Pinto Mascarenhas escreve:
"Confiar nas promessas do Estado será penhorar a vida dos nossos filhos."
Acabemos com o estado então e entreguemo-nos às promessas das crises cíclicas do capital.
"Só nas economias socialistas é que não há ciclos, porque a recessão é permanente."
Devia saber que em qualquer tipo de economia existem ciclos. De qualquer forma, a falácia no argumento demonstrado nesta frase é circularmente contundente.
"Os decisores políticos têm de contar sempre com as crises e, por isso, devem actuar com a racionalidade da formiga em tempos de crescimento económico e incentivar mais a poupança do que o crédito. Para não acabarmos como a cigarra quando chega o Inverno, tal como acontece na actual crise financeira, o Inverno do descontentamento ocidental."
Hmmmm ... Esta analogia é-me particularmente desconcertante. Ou por sermos reduzidos a nada mais do que insectos com uma, quase que inevitável, cruz numa sociedade que aparenta ser previsível, ou pelo sr Mascarenhas não se conseguir entender sobre o real peso do estado no controlo da economia e dos mercados.
"As "nacionalizações" de que se fala poderiam ser evitadas, mas aconteceram em grande medida por incompetência dos agentes de regulação. As soluções estáveis e duradouras continuam a encontrar-se no mercado – e não no Estado."
Sr. Mascarenhas, tomando a sua analogia da formiguinha, tenha em mente que, a dita formiguinha, vive numa sociedade comunitária que se presa de ser muito socialista: Todos os membros da sociedade das formigas trabalham nem na indecisão do mercado, nem no armazenamento e apropriamento privado da comida por todas recolhida. Elas, isso sim, acreditam que um sistema baseado no bem-comum, regido por um estrito código de conduta social e económico, as leva a ter melhores possibilidades de sobrevivência.
Por outro lado, a cigarra - como, por exemplo, os especuladores nos mercados financeiros - actua solitáriamente dentro de um conjunto de interesses que representam uma fracção da sociedade. Como na bolsa e como uma empresa, a cigarra se calhar até morre passado um inverno, mas volta prontamente outra para a substituir. Terá passado, mesmo assim, pela dolorosa decisão de andar ao sabor do vento (mercados auto-regulados) e ter sofrido até à morte. Analogamente, na nossa realidade, será o desaparecimento de mais uns quantos milhares de postos de trabalhos, mais outros tantos de perca de casa por falta de pagamento, sem falar em famílias destruídas e consequente aumento da criminalidade por falta de rendimentos e vida na pobreza. Mas quem se interessa ?! Não é sr. Mascarenhas ?
"Falta saber o que irá acontecer aos cerca de 10 mil trabalhadores da empresa falida, mas o mais certo é que as vítimas sejam os principais responsáveis pela má gestão e consequente desaparecimento do Lehman. Ou seja, os "capitalistas" que dão mau nome ao capitalismo."
Sim Sr. Mascarenhas, é o mais certo ... ou não. Mesmo assim , eh, que se lixem ! Ninguém vai dar pela falta deles.
Nota-se que direita não é propriamente sensível às dificuldades reais das pessoas. Junte-se a isto, o facto de já parecer haver "culpados" nesta situação. Isto é, se calhar ...
Bem, e ainda no apontar do dedo, falando em tirar conclusões apressadas Sr. Mascarenhas ...
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