segunda-feira, 28 de maio de 2007

Vitória dos trabalhadores europeus! (II)



O Hugo Mendes responde a este meu post, mostrando preocupação com o que aconteceu com os trabalhadores letões. Não sou indiferente à sua sorte, mas continuo a afirmar que sim, foi uma vitória dos trabalhadores europeus, letões incluídos.

Posso não me ter explicado bem, mas o que sucedeu foi simplesmente a exigência dos sindicatos suecos de abranger os trabalhadores letões (a trabalhar na Suécia) nos seus acordos colectivos de trabalho. Parece-me, por isso, chocante que se defenda que os trabalhadores letões podiam ganhar menos do que os seus congéneres suecos, com quem trabalhavam lado a lado, só por serem... letões!

O Hugo diz ser um defensor do modelo sueco e eu sinceramente acredito. Contudo, penso que se esquece como foi este modelo construído, além de aderir acriticamente ao modelo neoclássico do mercado de trabalho, já bem criticados neste blogue. Foi através da luta social nacional e internacional(ista), muitas vezes trágica, e não por aceitarem "provisoriamente salários bem mais baixos do que os seus congéneres", que os trabalhadores s alcançaram o actual modelo social europeu. Beneficiamos hoje das lutas e conquistas que os trabalhadores tiveram fora das nossas fronteiras e fora do nosso tempo. Não é por acaso que o dia do trabalhador é comemorado em memória dos que morreram (nos E.U.A.) pelas actuais oito horas de trabalho.


É engraçado que o Hugo invoque o hipotético caso de se tratarem de trabalhadores portugueses em vez de letões. Curiosamente, trabalhadores portugueses viveram exactamente a mesma situação em França na France Telecom, onde trabalhavam para uma empresa portuguesa (Visabeira) com contratos de trabalho portugueses. Aplicando o desonesto, mas ubíquo, exercício do insider/outsider, deveria considerar os emigrantes em França com contratos franceses como os privilegiados insiders, frente aos outsiders trabalhadores da Visabeira, certo? Dividir para reinar sempre foi uma boa estratégia.

4 comentários:

Hugo Mendes disse...

Olá Nuno,

Obrigado pela réplica. De qualquer forma, estás enganado quanto aos meus pressupostos teóricos e, parece-me, quanto à narrativa histórica da conquista dos direitos suecos. Prometo um post de tréplica.

abraço
Hugo

A. Cabral disse...

E' de notar que nos modelos da teoria economica K (capital) e L (trabalho) sao pares e companheiros. Mas assim que a tinta seca nos modelos e se comeca a falar de politica economica, o capital quer-se internacional e com os mesmos direitos no sua sede como na sua sucursal mas o trabalho tem oque ser diferenciado e e'-lhe negada igualdade. Afinal o liberalismo e' um ser de metades.

Hugo Mendes disse...

"Aplicando o desonesto, mas ubíquo, exercício do insider/outsider, deveria considerar os emigrantes em França com contratos franceses como os privilegiados insiders, frente aos outsiders trabalhadores da Visabeira, certo? Dividir para reinar sempre foi uma boa estratégia"

Nuno, desculpa, mas desonesto "porquê"?

A relação entre dos "insiders" e "outsiders" é uma questão de grau, não me parece muito difícil compreender a ideia.

E continuas sem responder ao exercício concreto que te propus: se a empresa portuguesa perdesse o contrato para a empresa sueca, como era? Aplaudias a vitória dos suecos, presumo. E ias-te queixar, para a manif de 30 de Maio, que o Governo portugues está a fazer aumentar o desemprego.

Como calculas, não está aqui nenhum nacionalismo em causa, mas apenas a coerência da estratégia, e, se quiseres, de honestidade. É que não podemos querer uma coisa e o seu contrário.

Samir Machel disse...

Muito bem, Nuno, avanca, estamos contigo!

:)

Abracos,

Samir