sexta-feira, 18 de maio de 2007

O desemprego como «natural»

(este vai ser um bocado economês)

Face à actual taxa de desemprego (ver postas abaixo) o Público de hoje tem uma pequena peça sobre a NAIRU (Non-Accelerating Inflation Rate of Unemployment) da economia portuguesa. No entanto, além de não ser devidamente explicado, é mal entendido pelo jornalista.

O conceito foi desenvolvido pelas correntes mais neoliberais da teoria económica como explicação para as altas taxas de inflação e desemprego que a economia mundial conheceu durante os anos setenta e oitenta. A ideia é simples: existe uma taxa de desemprego «natural» de cada economia nacional abaixo da qual a inflação dispararia. Tal taxa, como explica o artigo do Público, é calculada a partir do crescimento económico potencial, que corresponde ao pleno uso dos factores produtivos disponíveis combinados (trabalho e capital) de uma economia. Se o crescimento económico ultrapassasse o seu potencial, as empresas não conseguiriam responder ao aumento de procura com um aumento da produção, reagindo, em alternativa, com um aumento de preços gerador de inflação.

O objectivo político de tal teoria é duplo: por um lado, afirma-se a obscena ideia de uma taxa de desemprego desejável para cada economia, por outro lado, conduz ao óbvio abandono do objectivo do pleno-emprego. Assim, no caso português, segundo o Público, estaríamos condenados a uma taxa de desemprego acima dos sete por cento.



O conceito, desprovido de evidência empírica, teve de ser adaptado ao longo do tempo. Uma aceleração do crescimento económico real, mesmo acima do seu "potencial", conduz a um maior investimento (o aumento de riqueza gerado torna rentáveis novos projectos) e logo a uma maior capacidade produtiva. A prazo, o "crescimento potencial" recalculado vai ser maior e a pretensa NAIRU menor. Por outro lado, a existência transitória de um aumento de inflação não é necessariamente problemática - parece que até aos 10% não há consequências nefastas sobre o crescimento. Sobretudo pela primeira razão, abandonou-se então a ideia de um NAIRU fixo, adoptando-se a ideia de que este pode variar ao longo do tempo, o TVNAIRU, que é, aliás, o conceito utilizado no artigo do Público. No entanto, tal revisão destrói a ideia original: se a taxa de desemprego a partir da qual aumenta a inflação varia ao longo do tempo, dependendo do crescimento económico real, o problema deixa de existir.

5 comentários:

Samir Machel disse...

É a institucionalizacao do desemprego...

baldassare disse...

Gostava que me explicassem uma coisa:
Se existem professores desempregados, porque é que se aumentaram as horas de trabalho dos professores empregados? Melhor: porque é que se aumentou a idade da reforma?

É que o dinheiro que o estado não paga em reformas, vai pagá-lo em subsídios de desemprego para os professores desempregados... e tem uma escola de velhos! Como aluno, isto preocupa-me.

Não entendo. Muito provavelmente falta aqui alguma coisa no meu raciocínio. Gostava mesmo que me explicassem porque é que em situações de excesso de funcionários, se aumenta as horas semanais e a idade de reforma dos que estão empregados... A estratégia não devia ser a oposta?

Samir Machel disse...

O sistema nao está construído de forma a ser socialmente eficiente. Portanto, nao está interessado em dividir o trabalho por todos. Ainda para mais, o desemprego facilita piores salários e condicoes de trabalho, diminuindo a exigencia dos trabalhadores.

O Estado poupa com esta sitaucao porque nao paga subsidios de desemprego a muitos dos professores e quando paga serao por períodos relativamente curtos.

O aumento das horas semanais dos professores permite ao ME poupar em trabalohadores extraordinários, enquanto o aumento da idade permite aumentar contribuicoes para a Seguranca Social enquanto diminui as pensoes que estes irao eventualmente receber.



O estado muitas vezes nao paga

baldassare disse...

Isso é verdade, mas é imoral.
Não havendo emprego para todos, o que fazer? Hummm... deixa cá ver... aumentar as horas e a idade de reforma dos que já têm emprego... parece contraditório.
O estado não se pode reger numa prespectiva economissita, mas numa prespectiva social. O estado não pode ser ganancioso. Pior que capitalismo, só mesmo capitalismo de estado!

Ricardo G. Francisco disse...

Que interpretação...

O que é defendido é que existe um produto potencial em cada momento. A esse produto potencial está associado uma taxa de desemprego. E uma taxa de inflação. Estas taxas de desemprego e de inflação não dependem apenas do produto potencial no momento como do protuto nominal e de como se chegou a esse ponto.

Esse modelo dinâmico é complexo e fica registado o esforço para retirar uma conclusão simples e comestível para as "massas marxistas".

Não há defensores do desemprego como os defensores do planeamento central.