«No geral, a Bolsa portuguesa negoceia aos valores mais altos desde Abril de 2000». Isto quando o crescimento é anémico, o investimento privado na criação de capacidade produtiva adicional não descola e o desemprego bate todos os recordes.
Temos, neste contexto, de lembrar o aviso de John Maynard Keynes: «os especuladores são inofensivos se forem bolhas numa corrente empresarial incessante. Mas as coisas tornam-se preocupantes quando a empresa se transforma em bolhas num turbilhão de especulação. Quando o desenvolvimento do capital de um país se converte num subproduto das actividades de um casino, é provável que o trabalho esteja a ser mal feito» (Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, 1936).
quinta-feira, 24 de maio de 2007
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4 comentários:
Caro João,
Não me parece que o que se passa na Bolsa nacional seja exactamente uma bolha especulativa. O que se passa é que as empresas cotadas são uma amostra distorcida da nossa economia. O nosso principal índice é composto por empresas de sectores quasi-monopolistas, em que o risco e a exposição à concorrência são mínimos. Pegando numa expressão que utilizaste há umas postas atrás, o nosso mercado bolsista espelha com fidelidade os "traços rentistas do nosso capitalismo". É sobretudo isto que, a meu ver, está em causa: a falta de representatividade da Bolsa portuguesa relativamente à economia nacional.
Cumps!
Quando o ministro socialista(?) da economia apela, numa visita de Estado à China para que os empresários desse páis invistam em Portugal com o argumento de que temos os mais baixos salários da Europa... está tudo dito sobre aquilo que a burguesia portuguesa pode proporcionar ao país: a contínua e agravada exploração da classe trabalhadora.
A burguesia portuguesa, historicamente incapaz de modernizar o país, revela todo seu carácter parasitário nos lucros fabulosos que a Banca, a Bolsa de valores e o sector financeiro no seu conjunto apresentam: fazem-se fortunas sem se criar um posto de trabalho ou produzir um bem ou serviço.
No dia em que algum hipotético governo reformista cheio de boas intenções tente introduzir mecanismos de controlo e limitação à economia de casino instalada em Portugal, outra coisa não veremos senão a fuga em debandada de capitais para outras paragens menos perniciosas à fórmula D-D: capital gera capital.
Mas vivemos uma época de reformismo sem reformas. Dois anos depois do PS ter ganho as eleições com maioria absoluta aí estão os núemeros que não mentem:
a) O maior desemprego dos últimos 20 anos
b) A maior queda de poder de compra das classes laboriosas nos últimos 20 anos
c) Os maiores lucros jamais obtidos pelos agiotas da banca e da bolsa
Não se trata de má vontade, disparate, enganomou má sorte. na divisão mundial do trabalho, outra coisa não resta a Portugal senão ocupar um papel secundário e limítrofe.
Reformistas: ponham isto na vossa cabeça
Fantástico blog!. Sabe sempre bem passar por aqui.
Caro Rui,
Pretendia apenas destacar o contraste entre o dinamismo da bolsa de valores, alimentado como bem dizes pelos resultados das «empresas de sectores quasi-monopolistas», e a anemia do resto da economia. Provavelmente não se pode falar de bolha especulativa se compararmos os resultados das empresas com as suas cotações. Tens por isso razão.
Mas penso que se pode dizer que as estratégias de investimento destas empresas estão cada vez mais dependentes dos humores dos mercados financeiros e da sua pressão acrescida para a apresentação de resultados no curto prazo. A actividade empresarial torna-se vitima do principio da liquidez (bolha numa corrente de especulação) e do mito do D-D' de que fala o tirem as mãos. Uma discussão para continuar.
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