No seu último livro – The Road to Freedom: Economics and the Good Society –, Joseph Stiglitz, economista social-democrata de matriz neoclássica (“Prémio Nobel” de Economia), refere o grande Antonio Gramsci, mas omite a sua estatura marxista gigantesca.
domingo, 10 de agosto de 2025
Grande
No seu último livro – The Road to Freedom: Economics and the Good Society –, Joseph Stiglitz, economista social-democrata de matriz neoclássica (“Prémio Nobel” de Economia), refere o grande Antonio Gramsci, mas omite a sua estatura marxista gigantesca.
sábado, 9 de agosto de 2025
Contrariar a corrosão de caráter
sexta-feira, 8 de agosto de 2025
Várias bombas, várias medidas
quinta-feira, 7 de agosto de 2025
Guerra e paz em Portugal
Escrito em coautoria com Paulo Coimbra o artigo Guerra e paz em Portugal saiu no Le monde diplomatique de agosto e começa assim, com referências omitidas:
quarta-feira, 6 de agosto de 2025
Um jornal com memória
Todos os números da edição portuguesa do Le Monde Diplomatique, desde o primeiro, de abril de 1999, estão agora acessíveis no sítio Internet do jornal, em exclusivo para os assinantes. São mais de 26 anos, a que se acrescenta sempre o número do mês, com os artigos inéditos publicados online. São já mais de 300 edições completas, mais de 850 mapas e infografias detalhados, mais de 3200 autores de referência, mais de 5300 imagens e obras de arte, mais de 8800 artigos completos. Tudo acessível à leitura online, através de um motor de busca avançado, por temas, palavras-chave, datas, países, personalidades, entre outros. Tudo organizado cronologicamente, por temas e com ligações inteligentes entre eventos, regiões, autores e temas relacionados.
terça-feira, 5 de agosto de 2025
No coração do Douro
Já perdi a conta ao número de vezes que fiz o percurso ferroviário entre o Pinhão e o Pocinho. Não conheço percurso mais belo, parte da linha do Douro que o serviço público de televisão, sempre ameaçado, documentou com realismo, ou seja, com beleza. O serviço público ferroviário também está ameaçado. Tudo o que é decente está sob ameaça do liberalismo até dizer chega.
segunda-feira, 4 de agosto de 2025
Trabalhadores descartáveis como modelo de desenvolvimento
Nas últimas duas décadas, cada reforma laboral foi apresentada como um passo necessário para tornar a economia portuguesa mais dinâmica e atractiva para o investimento. Para sustentar essa ideia, refere-se muitas vezes um indicador da OCDE sobre a protecção do emprego, onde Portugal surge entre os países com maior grau de protecção.
Mas há coisas que nunca nos dizem sobre esse indicador. Primeiro, ele
refere-se apenas à protecção contra o despedimento individual sem justa causa;
se olharmos antes para a protecção do emprego em geral (que inclui, por
exemplo, os despedimentos colectivos), os valores de Portugal são semelhantes
aos de países como a República Checa, a Letónia ou a Holanda, que são
frequentemente apontados como economias muito competitivas. Segundo, uma coisa
é o que está na lei, outra é o que acontece de facto: a OCDE tem outro
indicador que mede a eficácia da aplicação prática dessas regras, onde Portugal
cai para um distante 16.º lugar. Por fim, os estudos disponíveis não mostram qualquer correlação robusta
entre o grau de protecção no emprego e o desempenho das economias.
É interessante vermos o que pensam sobre isto os investidores estrangeiros que ponderam investir em Portugal. A consultora EY faz essa pergunta todos os
anos no seu Attractiveness Survey (Inquérito à Atractividade). Sabem o que
os executivos responderam no inquérito mais recente, no que respeita à
protecção do emprego? Que, face a outros países concorrentes, “a facilidade de
contratação e despedimento no mercado de trabalho português” é uma das
vantagens do país, sugerindo que “a regulamentação laboral favorece a agilidade
e a adaptabilidade das empresas” (p.36). Não é bem esta história que contam os
partidos de direita, pois não?
Em resumo, o mercado de trabalho português é hoje muito mais flexível do
que alguns sugerem (seria estranho que não fosse, depois de tantas revisões
para o flexibilizar). E não é de todo evidente que as regras actuais
prejudiquem a competitividade da economia nacional.
Mas há duas coisas que sabemos. Primeiro, sempre que se reduz a protecção
dos trabalhadores, seja qual for o impacto económico, degradam-se as condições
de vida de pessoas concretas e, com frequência, transferem-se rendimentos de
quem tem menos para quem tem mais, tornando a sociedade ainda mais desigual.
Segundo, esta obsessão com a liberalização do mercado de trabalho envia um
sinal claro aos investidores sobre o tipo de economia que queremos desenvolver.
Se o objectivo é promover uma economia baseada na inovação, nas qualificações e na elevada produtividade, talvez estes não sejam os melhores incentivos. Um mercado de trabalho que privilegia a flexibilidade total e o despedimento fácil pode ser atractivo para algumas empresas no imediato. Para o conjunto do país, no médio e longo prazo, só favorece a especialização numa economia sem futuro.
O resto do meu texto pode ser lido no Público de hoje, em papel ou online.
O que vai para a guerra não vai para proteção social, salários e pensões
Parece-me importante levar a sério a afirmação de Mark Rutte, o atual secretário-geral da NATO, quando diz que nós, europeus, estamos confrontados com a necessidade de escolher entre proteção social, saúde pública e pensões, por um lado, e, por outro lado, essa opção.
Embora seja menos eficaz economicamente e moralmente repugnante, é verdade que este gasto adicional em armas pode funcionar como funcionam todos os estímulos em que o Estado coloca dinheiro na economia e a economia cresce.
Nesse sentido, esse crescimento pode, em teoria, ser usado para, na fase seguinte do ciclo económico, financiar esta despesa. Mas isto coloca-nos problemas muito complicados.
Por exemplo, seria assim se as regras da dívida e do défice para tudo o resto não permanecessem em vigor. Só que não é assim. Como permanecem - e apesar de algumas das despesas em armamento não contarem para o défice - isto de facto quer dizer que o que vai para a guerra não vai para proteção social, para salários e para pensões.
A Alemanha tem um modelo económico assente em exportações. A ideia de exportar indefinidamente é uma ideia absolutamente errada por várias razões.
As exportações, do ponto de vista mais essencial, são produção nacional. São o produto social do trabalho de quem o executa que não é consumido por quem produz esse trabalho.
Isto, na Alemanha, o que é que significa? Significa que as indústrias exportadoras acumulam lucros, mas que não se refletem nos salários, o que cria a primeira contradição interna.
Mas cria ainda outras contradições, como vemos agora no caso das tarifas de Trump: o que os Estados Unidos (EUA) estão a fazer, independentemente do carácter mais ou menos errático das decisões do Trump, é executar um plano que decorre da avaliação por parte de uma certa elite económica e política norte-americana, que diz que os déficits norte-americanos são outra face da moeda do superávite alemão. E o que as tarifas visam é precisamente impedir a continuação deste jogo.
E, portanto, agora a guerra serve à Alemanha nesse sentido; permite substituir parte das exportações da indústria automóvel por exportações e consumo interno de material de militar promovendo desta forma o reequilíbrio da sua balança corrente, ou seja, comprimindo os escandalosos superávites – que desrespeitam, aliás, o ordenamento económico da UE que proíbe superávites superiores a 6% do PIB e que a atual administração dos EUA denuncia como sendo comercialmente hostis e mercantilistas, usando-os como justificação para impor tarifas e vender armas.
Contudo, é importante salientar que, ao contrário do que se ouve e lê quase por todo o lado, a acusação à Alemanha de manter um comércio internacional injusto não é uma originalidade de Trump e remonta, pelo menos, à Administração Obama, que acusou reiteradamente aquele país de se esconder atrás de uma moeda para si subvalorizada, o euro, para exportar mais do que importa e, assim, obter vantagem indevida sobre os seus parceiros comerciais.
O excerto acima faz parte de uma entrevista que o jornal “A Voz do Operário” teve a generosidade de decidir fazer-me e que pode ser lida integralmente aqui. Agradeço ao Bruno Amaral de Carvalho e à Rita Morais o trabalho que tiveram.
domingo, 3 de agosto de 2025
Bens públicos a sério, liberdades a sério
A economia convencional fixou um conjunto de condições teóricas para que os mercados sejam considerados eficientes: da ausência de incerteza a agentes económicos omniscientes, passando pela ausência de interdependências sociais. A partir desta ficção, construiu uma tipologia de “falhas de mercado”, tão circunscritas quanto possível, que incumbiria ao Estado, qual caixa de ferramentas funcional, corrigir.
sábado, 2 de agosto de 2025
Haja esperança
sexta-feira, 1 de agosto de 2025
quinta-feira, 31 de julho de 2025
Notas a gosto
1. No triste museu do vidro da Marinha Grande só falam praticamente os patrões, alardeando “responsabilidade social” e tudo. Temos de sair dali, para rotunda do vidreiro, para ver a memória da heróica resistência operária, a do 18 de janeiro de 1934.
Agradar a patrões do século XIX
«O governo pretende alterar radicalmente a legislação laboral. E quer debater este terramoto durante as férias e a campanha autárquica. Diz que deseja “a dinamização da contratação coletiva, o combate à precariedade laboral e uma conciliação equilibrada entre a vida pessoal e a vida profissional”. Tudo ao contrário. A novilíngua é a maior arte deste governo. Toda a balança se desequilibra para o mesmo lado, com trabalhadores mais isolados, explorados e precários e sindicatos enfraquecidos. (...) Num país que assiste à fuga de trabalhadores para o exterior, por estarem fartos de salários baixos, ambientes tóxicos e ausência de qualquer horizonte de carreira, o programa desta ministra é mais uma desistência de futuro. A que chama, porque o recuo tem de parecer moderno, “Trabalho XXI”.».
Daniel Oliveira, Lei laboral: aproveitar a oportunidade para desequilibrar a balança (recomenda-se a leitura na íntegra, em «Ler Mais»).
quarta-feira, 30 de julho de 2025
Ao cuidado do autarca de Loures e da secretária de Estado da Habitação
«Na sua grande maioria são pessoas que estão a trabalhar. Algumas podem ter empregos mais precários, mas muitas têm contratos, e inclusivamente contratos sem termo. Portanto, até podem ter situações estáveis do ponto de vista profissional, mas têm rendimentos baixos, têm o salário mínimo ou pouco acima disso. E por isso não conseguem aceder a uma casa no mercado normal, no mercado formal de habitação, aos preços que estão a ser praticados.
Eu recordo-me, por exemplo, de um caso no bairro do Talude, precisamente, de uma jovem que trabalha 12 horas por dia, com apenas 8 folgas rotativas por mês, a cuidar de uma senhora idosa em Lisboa. Ganha cerca de 800 euros e, como é evidente, com 800 euros não consegue arrendar uma casa. Eu, aliás, hoje estive a fazer um exercício, que foi analisar, um a um, 200 anúncios de casas para arrendar, precisamente no concelho de Loures, e a casa mais barata que eu encontrei em Loures, que tinha 30m2, custava 750 euros. Ora, esta jovem, que trabalha 12 horas por dia - 12 horas por dia - ganha 800 e pouco, e portanto não tem solução possível.
No trabalho que fizemos agora, e publicámos há um mês, contactámos, uma a uma, as 18 autarquias da Área Metropolitana de Lisboa, perguntando precisamente quantos bairros é que tinham, com quantas famílias. Nós fizemos este mesmo exercício há 6 anos, em 2019. Na altura, o título desta notícia era "ainda há 13 bairros de lata na Grande Lisboa". E o "ainda" não era por acaso. Era porque na altura havia esta ideia, na população, que este era um problema que já estava resolvido ou que era residual. Porque tinha havido o PER, o Programa Especial de Realojamento nos anos 90, e portanto enraizou-se esta ideia, de que era um problema resolvido. Ora, nós voltámos a fazer 6 anos depois e o título é "já há 27 bairros de barracas na Grande Lisboa". E eu tenho a certeza de que se fizer este trabalho novamente, daqui a um ano, se calhar o título é "já há 40" ou "já há 50". Porque efetivamente, quem está na iminência de ir para a rua, vai construir um teto, por mais precário que esse teto seja».
Joana Pereira Bastos, Expresso da Meia-Noite (19 julho 2025)
Numa aproximação despudorada e irresponsável ao Chega, tanto Ricardo Leão (que tudo fez para associar as barracas a um golpe oportunista de gente que quer passar à frente nas listas de espera), como Patrícia Gonçalves Costa (que tentou associar a crise habitacional à imigração, ignorando olimpicamente as procuras especulativas que lhe deram origem), deviam prestar atenção a esta análise de Joana Pereira Bastos, jornalista do Expresso, que apurou mais informação útil de resposta às interrogações do Presidente, que os dois governantes juntos.
Hoje, em Lisboa, concentração promovida pelo Vida Justa, «contra a destruição de casas, os despejos e as mentiras». É em frente à Cultugest, a partir das 19h00.
terça-feira, 29 de julho de 2025
O pluralismo retirava força ao obscurantismo, não é?
De há um par de semanas a esta parte, no Observador, esmifram-se e desunham-se, no esforço titânico de quem tenta demonstrar que uma pedra é um pau, em defesa das alterações impostas pela AD à disciplina de Cidadania. Está sobretudo em causa a supressão de conteúdos sobre saúde reprodutiva e sexualidade, visando pôr cobro a um alegado «ruído», mas acabando numa cedência à agenda medieval da direita conservadora e da extrema-direita.
Mas o ponto agora nem é esse. É apenas o facto curioso de os artigos de opinião sobre a matéria, publicados no Observador, se posicionarem, ainda que sob ângulos distintos, na barricada da defesa do governo, deixando o campo oposto a descoberto, num clamoroso défice de contraditório e pluralismo, mais acentuado que o habitual. Basta fazer uma pesquisa rápida no google (por «observador cidadania»), para confirmar isto mesmo.
Nenhuma estranheza, dado que o Observador não é um «jornal» nem um projeto jornalístico, mas antes «um projeto político» de representação de «fortes interesses económicos no palco mediático e da ala mais à direita», como bem lembra Pacheco Pereira. O viés no tratamento questão da Cidadania é só mais um exemplo, revelador de fraqueza da razão e não de força. Também por isso mais valia, de facto, que o Observador «fizesse uma declaração de interesses política (...), em vez de se apresentar como um órgão de comunicação» que segue «as regras deontológicas do jornalismo». O que se perde em pluralismo ganhava-se, ao menos, em transparência.
Razões
Foi no final de julho de 2015, há exatamente dez anos, que voltei a apoiar os comunistas portugueses. A principal razão para tal apoio foi a constatação, ali para os idos de 2011, de que eles estavam certos e de que eu estava errado na mais importante questão de economia política nacional, a integração europeia.
segunda-feira, 28 de julho de 2025
Nuno Portas (1934-2025)
«O Nuno tinha trabalhado em profundidade as questões da habitação e da política de solos. A sua influência chegava mesmo a alguns governantes da última leva anterior ao 25 de abril. Basta reler, por exemplo, o decreto lei 576/70 sobre política de solos para encontrar medidas com a sua marca, como a fixação de limites aos valores dos terrenos para construção ou o estabelecimento de rendas máximas numa certa percentagem dos fogos licenciados. Medidas então tidas como necessárias no combate à especulação, que hoje são um tabu ideológico para o “comentariado” dominante».
Helena Roseta, O maior legado
Há cerca de um mês, num debate sobre a crise de habitação e o papel da sociedade civil, e sobretudo quando a conversa começou a deambular por toda a sala, as referências a Nuno Portas surgiram em crescendo. Ora lembrando um princípio norteador da ação ou uma frase poderosa do arquiteto, pertinente e atual para o que se estava a discutir, ora recordando um episódio concreto, por vezes com uma nota de fino humor e de surpresa, em tudo o que era fecundamente disruptivo e subversivo no seu pensamento e prática política.
Tornou-se ali evidente a marca forte que Nuno Portas deixou em tantas e tão diversas pessoas, de ex-alunos e estudiosos a membros de associações de moradores. E, claro, as referências remontavam, na maior parte dos casos, ao SAAL, «um processo orgânico e maleável» (como assinalou José António Bandeirinha) de resposta à situação de profunda carência habitacional, assumindo o envolvimento das «populações mal alojadas» no próprio processo, através da sua relação com as equipas técnicas pluridisciplinares.
Para lá deste diálogo entre moradores e técnicos (arquitetos, engenheiros, sociólogos, etc.), que traduzia o fomento de pontes entre conhecimentos e saberes distintos (colocados assim num mesmo plano de legitimidade), o SAAL, filho da revolução democrática de 25 de Abril de 1974, distinguiu-se ainda, entre outros aspetos inéditos, pela afirmação do «direito ao lugar» (ao arrepio da expulsão das pessoas para as periferias, que se tornaria regra nos processos de realojamento posteriores), e da «legislação em processo», que estabelecia a aprovação de diplomas em resultado da experiência e das práticas, e não o inverso.
Nuno Portas deixa-nos no momento em que o país atravessa uma crise de habitação profunda e complexa, cuja génese e natureza impedem comparações simplistas com crises anteriores, marcadas pela efetiva falta de casas. Mas a sua luta pelo direito à habitação - o maior legado do arquiteto, como bem sublinha Helena Roseta -, e a defesa de instrumentos de regulação, tornam-se hoje ainda mais pertinentes, constituindo uma condição incontornável para assegurar esse direito e desmercadorizar a habitação. Nuno Portas continuará assim, seguramente, entre nós.