No Plano para a Comunicação Social ontem apresentado não se deteta qualquer incómodo com um dos mais graves problemas do jornalismo que temos: o défice de pluralismo no debate, enviesado à direita, sobretudo nas televisões. Pelo contrário, é com total despudor que o governo pretende agravar e instituir este entorse, ao privar a RTP de receitas de publicidade, essenciais para assegurar a sua qualidade e sustentabilidade. Para que, uma vez asfixiado, e sujeito a condições desleais de concorrência, o serviço público de televisão comece a dar prejuízo e seja privatizado.
Nada que surpreenda, claro. Basta lembrar o papel crucial do coro monolítico em defesa da vinda da troika e da austeridade salvífica, na chegada da direita ao poder, em 2011. Com as consequências nefastas que se conhecem. Agora, trata-se de desviar receitas publicitárias do canal público para os canais privados, sem compensar a RTP pelas respetivas perdas, gratificando assim o seu maior alinhamento com o governo e a difusão, quase sem contraditório, das suas narrativas.
Dado que a ERC não faz o que supostamente deveria fazer, socorro-me dos dados mais recentes do MediaLab (ISCTE), que demonstram que a RTP é o canal com maior equilíbrio no espectro político em termos de comentário, contrastando assim com qualquer um dos canais privados existentes, onde os comentadores de direita representam, no mínimo, 50% do total. Em termos globais, o comentariado de direita nos canais privados representa 54% do total, sendo de apenas 28% o peso relativo dos comentadores conotados com a esquerda.
Nada disto impede o governo de afirmar, com total desplante, que o plano apresentado visa assegurar «o pluralismo, a liberdade de informar e a liberdade de expressão», exigindo à RTP que se diferencie «da oferta já existente», mas privando a estação de recursos necessários a essa diferenciação. Alegando que «todos os órgãos de comunicação social prestam um serviço público», para justificar o financiamento a privados pelo Estado, o Primeiro-Ministro está deliberadamente a aprofundar e instituir o défice de pluralismo no debate, contribuindo assim, por interesse próprio do seu governo, para uma democracia mais pobre e politicamente ainda mais condicionada.
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4 comentários:
A malha da MediaLab é larguíssima. Muitos dos que considera de Esquerda são da esquerda vacilante muitas das vezes concordante com a direita, tal como a maioria dos que são classificados como sem conexão que devem ser os politólogos (?) que ziguezageiam como se as suas opiniões fossem detergentas. Verdadeiramente de esquerda pouco ou quase nada resta entre os solicitados comentadores.
RTP sem publicidade, sim, como deveria sempre ter sido, mas apenas e só com um aumento massivo da contribuição audiovisual.
Porque diz que a ERC não faz o seu trabalho? E porque se apoia em um relatório com percentagens sobre frequências tão baixas? E quais os critérios de classificação? Sejamos sérios pra dar resposta a um plano que é grave e não nos perdamos em textos facilitistas.
Confere, demasiado larga. Creio que já dei os seguintes exemplos em comentário a outro postal deste blogue: O Medialab considera que são de esquerda comentadores como Joaquim Vieira, Clara Ferreira Alves ou Joana Amaral Dias.
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