segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Da série: Não há Alojamento Local a mais


«Em setembro de 2023, Nova Iorque começou a aplicar um regulamento que visa acabar com todos os Alojamentos Locais ilegais. A Airbnb apressou-se a reagir, declarando que a iniciativa do governo da cidade representava uma proibição "de facto" do AL na cidade. De sublinhar que, em 8 de outubro, existiam, em Nova Iorque 44,5 mil casas em Airbnb. Comparativamente, Lisboa, na mesma data tinha na plataforma de agregação airDNA 18 mil casas. (...) Estes números são, contudo, subavaliados, porque existem mais operadores, tais como a VRBO e a Booking.com, para além de muitos operadores de menor dimensão e de outros que não estão presentes em nenhuma destas redes. Mas é impossível fazer esta comparação sem ter em conta que Nova Iorque tem 8.804.190 habitantes e 44,5 mil casas em AL mas que Lisboa tem apenas 547.773 habitantes em 323.981 alojamentos e mais de 18 mil AL. Estes números significam que, para Nova Iorque a proporção de casas em AL é de 0,505% enquanto em Lisboa a proporção é de 3,29%. Ou seja: 6,52 vezes mais! (...) A 8 de Outubro existiam no Idealista 12 mil casas em arrendamento: imaginemos que este valor era reforçado com as 18 mil casas em AL na mesma data: que tipo de descida de preços poderíamos esperar de um aumento de 150% no número total de casas disponíveis para arrendamento?»

Excertos do recente artigo de Rui Pedro Martins no Público, «O conflito entre Alojamento Local e a necessidade urgente de habitação em Lisboa e Nova Iorque», a ler na íntegra. Para quem continua a achar que Lisboa não tem Alojamento Local (AL) a mais, ou que esta modalidade de oferta turística não contribui para a redução do acesso à habitação pelas famílias, a comparação com Nova Iorque é esclarecedora.

Quando se pondera o número de unidades de AL (cerca de 45 mil em Nova Iorque e 18 mil em Lisboa) pela população residente e o total de alojamentos nas duas cidades, o resultado é esmagador. Nova Iorque tem cerca de 5 unidades de Alojamento Local por cada mil habitantes e Lisboa 33 (cerca de 7 vezes mais). E na ponderação por mil alojamentos, Nova Iorque tem cerca de 12 unidades de AL e Lisboa 56 (cerca de 5 vezes mais).

Encontrando-se portanto, em termos comparativos, numa posição bem menos preocupante, mas percebendo o impacto que o AL tem na redução da oferta de habitações para fins residenciais, Nova Iorque não prescindiu de adotar mecanismos de regulação mais eficazes, em que, «para se poderem registar, os proprietários não podem colocar em AL uma casa completa». Ou seja, a oferta apenas pode ser criada na residência habitual dos proprietários, impedindo assim a sua transferência para o setor do turismo e a respetiva mudança de uso. Nada para que Carlos Moedas - o autarca que até participa em manifestações de agentes do setor - pareça estar disponível.

5 comentários:

Anónimo disse...

O al é um problema. No entanto não seria de insistir na construção de habitação gerida pelo estado como se vê por outras bandas?

Anónimo disse...

Até têm razão sobre o excesso de alojamento local em Lisboa. Já que haja vaso comunicante com o arrendamento, duvido muito. As casas ou vão ficar fechadas ou vão ser postas à venda. Ter inquilinos é que poucos vão querer.

A malta jovem do BE vai ter que interiorizar que Algés, Brandoa, Buraca e Fogueteiro também são Lisboa.

Anónimo disse...

Sobre o número de alojamentos locais, está a partir do princípio que a percentagem de AL ilegais em Nova Iorque e em Lisboa é semelhante, o que não tem sustentação nenhuma. Aliás não penso que a eliminação dos AL ilegais em Portugal tenha algum efeito significatvo.
Não pode somar simplesmente o número de alojamentos que surgem nas diversas plataformas porque muitos estão em mais que uma plataforma. Mesmo assim os números a que chegou não são tão impresionantes como isso. Ninguém lhe garante que os AL seriam postos no arrendamento tradicional, se isso fosse viável já estariam no arrendamento tradicional antes do aparecimento do AL, não se esqueça que o AL é um fenómeno muito mais recente do que a falta de casas para alugar.
Repare que posso usar o mesmo raciocínio com qualquer tipo de construção. Se o Estado, em vez de vender todos os edifícios que vai abandonando na cidade a cadeias hoteleiras e empreendimentos de luxo tivesse feito habitação para arrendar, tinha-se minimizado o problema, se houvesse um limite efetivamente cumprido ao nº de edifícios destinados a hoteleria e serviços dentro da cidade , tinha-se diminuído o problema, se houvesse algum tipo de travão aos fundos de investimento que fazem subir os preços, tinha-se ganho com isso.
A pergunta que se faz é porque é que a nova lei da habitação só é efetiva no ataque ao AL, esquecendo todos os outros, na minha opnião há duas razões:
A principal é que é mais fácil assediar pequenos proprietários do que grandes grupos financeiros,
A segunda porque se tornou moda. Tal como os taxistas foram vítimas de modas e preteridos em relação ao TVDE (quem pode negar que um smartphone é muito mais atraente que um fogareiro), o AL está na berlinda (nenhum AL consegue ter o glamur de um hotel de 5 estrelas).
Gostava de ver as contas de qual será a perda em negócio trazido pelo turismo para os habitantes de Lisboa devido ao desaparecimento do AL e, já agora, saber qual será o aumento de lucros que tal desaparecimento provocará à hotelaria tradicional (se não há almoços grátis, há sempre alguém que come à conta doutros).

Anónimo disse...

Quem analisa o problema com a seriedade que ele merece sabe bem que há milhares de anúncios fantasma no airbnb, pelo que o jornalista peca por não destacar os que estão activos dos que não estão. Aliás, uma só casa com 3 quartos pode dar origem a quatro registos, um para arrendar a casa toda e outro para arrendar cada quaryo, certo? Acresce que há 48 mil casas de fadas em Lisboa e o estado ainda dispõe de mais de 2 mi imóveis aos abandono no que , pasmem-se, anda a vender a grupos hoteleiros para fazerem centenas de aparhoteis em imóveis que eram públicos. Que tal um artigo honesto sobre os imóveis que a ESTAMO andou e ainda anda a vender para serem aparhoteis em zonas de contenção, transformando imóveis habitacionais em comércio?.

Anónimo disse...

Excelente, se forem postas à venda. E que se façam leis a impedir a posse de imóveis de habitação por empresas