domingo, 18 de setembro de 2022

Momento AIG da zona euro?

 

Se os preços da energia estão em alta e as empresas que a comercializam estão a realizar lucros de tal monta que justificam impostos extraordinários, porque razão as duas maiores empresas de energia da Alemanha estão em dificuldades financeiras tais que um governo ordoliberal se prepara para as nacionalizar?

A resposta é simples embora não imediatamente evidente. Muitos e poderosos interesses trabalham afincadamente para manter um véu de opacidade sobre a gigantesca operação de socialização de prejuízos privados que aí vem. 

A resposta: porque estas empresas vendem energia usando contratos com os compradores que fixam um preço no futuro (e por isso se fazem remunerar principesca e especulativamente) e se obrigaram a fornecer garantias (colateral) por forma a mostrar que serão capazes de honrar esse preço. É a obrigação de fornecer esse colateral que está a criar problemas insuperáveis de liquidez - e não de rendibilidade - a estas empresas. 

Por agora, o BCE recusa-se a fornecer estes montantes astronómicos de liquidez a estas empresas sujeitas a margin calls - o palavrão para o momento em que a obrigação de fornecer activos de garantia se materializa -, colocando em causa todo este esquema altamente financeirizado e especulativo; recusando-se, o BCE está a fazer o contrário do que a Reserva Federal Americana fez, depois de confrontada com o estrago - com precedentes apenas na crise de financeira de 1929 - provocado pela sua decisão de deixar falir a Lehman Brothers, quando a AIG, com milhões e milhões de Credit Default Swaps no seu balanço (um instrumento financeiro em tudo semelhante aos contratos em Futuros agora em causa, ou seja, contratos financeiros derivados, desligados da esfera real, cujo activo subjacente é o preço futuro da energia), enfrentou um problema semelhante de incapacidade de honrar as tais margin calls e fornecer o tal colateral.

Veremos o resultado. Não é preciso consultar a bola de cristal para saber que não vai ser bonito. Assim como assim, sem ou com apoio do BCE, com ou sem nacionalização, estas garantias acabarão a ser fornecidas por todos nós, aqueles que não tomaram parte nestes contratos, e pesarão nas contas públicas já oneradas pelo erro histórico de subir a taxa de juro e pelo abrandamento económico que se seguirá. Pagaremos com desequilíbrio das finanças públicas,  falências privadas, habitações hipotecadas tomadas pelos bancos, desemprego e fatias de rendimento progressivamente menores para quem trabalha.  

O conflito de classes agudizou-se e a classe trabalhadora está a perder. Até quando? 


2 comentários:

Anónimo disse...

Podem explicar melhor pf

Paulo Coimbra disse...

Caro anónimo (18:43)

Agradeço o seu interesse. Amanhã publicaremos um novo texto acerca deste assunto. Espero que contenha as explicações que solicita.

Abraço