quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Partir da comparação


Quem dera aos críticos esquerdistas dos comunistas portugueses, que andam por aí nas redes sociais, ter o mesmo conhecimento factual, sofisticação intelectual e sensatez política que este comunicado exibe em matéria de relações internacionais nas sombrias circunstâncias históricas em que vivemos: “O PCP apela à promoção de iniciativas de diálogo e à paz na Europa”.

Por favor, leiam sem preconceitos o comunicado e depois leiam o que se escreve por aí à esquerda, incluindo pelos que surpreendentemente defendem que existe um “défice da liderança do próprio Estado alemão” na UE e outros disparates europeístas muito difíceis de compreender à luz de um mínimo de memória da nossa história recente.

Sim, toda a política parte da comparação, num mundo onde as mãos, mais ou menos sujas, tudo fazem e desfazem. Os assuntos sobre os quais nada podemos fazer são aliás um bom teste aos hábitos políticos prevalecentes.

7 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado, João Rodrigues pelo seu texto lúcido.
Sendo ou não uma reparação histórica do que se passou em Maidan há oito anos, ainda vamos ter de esperar para ver e concluir acerca desta intervenção militar na Ucrânia que, até ao momento, está a conseguir obter o que quer - uma Ucrânia desmilitarizada e neutral, sem adesão à NATO.
Falta ainda a punição de uma certa extrema-direita que ainda continua a combater na zona de Mariopol. Há informação que o batalhão «Azov», o tal que combate com siglas da divisão «Galizei» da 2.ª guerra, tem a cidade cercada e está a usar parte da população como escudos humanos. Será manobra de desespero por saberem que o seu poder na Ucrânia está a acabar?
Nós, neste país, não vivermos a invasão e ocupação hitleriana e não presenciamos os massacres cometidos pela 14.ª divisão das «Waffen SS», na Ucrânia. Por isso, podemos banalizar esta intervenção, acusá-la de tudo o que não sabemos e até apontar o dedo ao PCP por supostamente estar ao lado de Putin. Esta é talvez a nossa dimensão mais patética, quando estes acontecimentos se precipitam - a de sermos pequenos ou tão somente pequeninos.

Anónimo disse...

PCP toma posição em relação ao regime Russo(o que até agora não tinha acontecido),afirmando ser um País capitalista dominado por interesses das suas elites e detentores dos grupos económicos,indo mais longe acusando Putim de tomar posições próprias da Rússia dos Czares.

Miguel disse...

«operações militares de grande envergadura da Rússia na Ucrânia»

Bom exercício de equilibrismo: consefguiram evitar as expressões "guerra de agressão na Europa" e "invasão da Ucrânia pela Rússia" que é do que se trata.

O contraste com, por exemplo, as palavras de ontem de Jean-Luc Mélenchon é gritante (e não é a favor dos comunistas portugueses).

Vergonhoso.

Carlos disse...

A Política Internacional no seu esplendor!
A política internacional é um imenso tabuleiro de xadrez, do tamanho do nosso planeta Terra, e cujo objectivo último é o domínio deste mesmo planeta. Cada país, inserido como está na hierarquia do Sistema-Mundo existente, procura estabilizar a sua zona de influência e, se possível, aumentá-la. Neste jogo não há bons nem maus: há sim diferentes potências, umas maiores e outras mais pequenas, cada uma com os seus interesses e objectivos estratégicos, e que fazem pela vida...
Outra questão que temos igualmente de ter em conta é que, neste tabuleiro, a soberania dos Estados é sempre uma soberania relativa. Relativa ao seu poder respectivo, relativa às relações multi ou bi-laterais em que entra, relativa à sua situação geo-estratégica na região onde se insere, e igualmente à inserção dessa região relativamente a outras regiões do mundo, e relativa a contextos variados e dinâmicos. Soberanias em termos absolutos não existem concretamente.
Desde a Perestróika e a Glasnost do Gorbatchev, e para quem se interessava por essas coisas na altura dos anos 80 e 90, foi evidente a degradação do poder russo, e o assumir dos EUA como potência hegemónica (na altura a China ainda não contava...). Em termos meramente estratégicos a Rússia foi reduzida ao seu reduto.
Acontece que com o fim do Pacto de Varsóvia, o mesmo não aconteceu com a OTAN, que passou a servir desde então interesses e objectivos que em muito ultrapassavam os seus desígnios originais de mera defesa do Atlântico Norte, o que é "natural" tendo em conta o poder hegemónico dos EUA e os seus objectivos universalistas.
Acontece, no entanto, que a Rússia tendo perdido grande parte da sua área de influência, conservou apesar disso, e dum modo quase intacto, o seu poderio militar e tecnológico, base material de qualquer poder que se preze. Para além disso, a Rússia tinha, e tem, uma elite política e militar que não se resigna a uma posição de subserviência e dependência em face de potências estrangeiras, no caso os EUA. Sempre foi assim na sua história, e continua a sê-lo no presente.
Por último, a Rússia foi-se sentindo cada vez mais acossada pelo Ocidente com o alargamento da UE e da OTAN à Europa do Leste. Nesse contexto, a Ucrânia funcionava, de certo modo, como uma zona tampão entre a Rússia e a Europa, neutral, uma espécie de zona de segurança para os russos.
Ora, e é importante perceber este problema, isso foi posto em causa com a aproximação da Ucrânia à OTAN, sendo que esta abriu as portas a uma futura integração neste organismo militar. Acresce que a Rússia já se tinha sentido humilhada com a divisão da Jugoslávia e a independência do Kosovo, e com a golpada com apoio ocidental que derrubou o presidente ucraniano, eleito democraticamente, em 2014.
Tendo em conta todo esse jogo complexo era de esperar que em algum momento a Rússia desse um murro na mesa. Acabou de dá-lo. A Rússia tem demasiado poder para poder ser encurralada. Isso é o B-Á-BÁ da política. E "esquecê-lo" leva-nos à guerra...

Anónimo disse...

Para o sr. Miguel, dizer que as operações militares russas em território ucraniano não é coisa pequena (isto é, que não possa ser ignorado) é um problema... aliás, no seu português chegano, de "bem": é vergonhoso.

Mas dizer que a rússia agride em "a europa", como se as operações de fogo militar da ucrânia tambérm não agredissem "a europa", é tudo muito certo; ou, no português de bem: é não vergonhoso.

isto é capaz de dizer tudo do nosso 'momento'. só que nós precisamos de mediar isto com recortes de tempo maiores.

vamos reflectir: sr. Miguel, por favor, conte pelas mãos as vezes a NATO agrediu na europa. As duas mãos chegar-lhe-ão? acho que vai precisar de fazer umas contas de cabeça... e tornar-se-á vergonhoso o suficiente?

Anónimo disse...

Estranho como alguns não comparem atos e palavras ao que se está a passar na Colômbia, onde se assiste a uma limpeza dos líderes sociais daquele país. Só este ano, foram abatidos 31 líderes. Uma das ex-senadoras, Piedad Córdoba, pelo seu ativismo, foi acusada de narcotráfico e pode sofrer extradição para os EUA.
Neste autêntico laboratório de bruxas que é a Colômbia não existe qualquer comparação e palavras. O país permanece mudo e calado.

TINA's Nemesis disse...

Porque ainda existes NATO?

https://tinasnemesis.blogspot.com/2022/02/dr.html

Os pró-guerra pela “democracia” e “direitos humanos” aduladores da NATO estão felicíssimos com o que se está a passar na Ucrânia, é mais uma oportunidade que eles têm para dizer “Veem, a NATO é essencial para a proteção do mundo livre!”.
E não somos nós tão livres, livres para ter partidos neoliberais pró-guerra ou partidos pró-guerra neoliberais a “governarem” as nossas vidas… As nossas “elites” são tão generosas connosco, nós não demonstramos apreço suficiente por elas, e como agradecimento devíamos pedir às nossas “elites” por mais austeridade e organizações pós-democráticas como a União Europeia e FMI! Nós verdadeiramente não merecemos tão divinas “elites”...
Nós temos que estar sempre do lado das nossas brilhantes “elites” contra a ameaça russa e chinesa!
Nós temos que ajudar as nossas “elites” a proteger a nosso modo de vida tão livre!!!
Nós nunca podemos questionar as nossas “elites”, as nossas amadas “elites” sabem sempre o que é o melhor para nós!

Ainda há gente que acredita que o que move os interesses da guerra ocidentais tem a ver alguma coisa com democracia e direitos humanos?
Se sim, como é possível ser-se tão estúpido?
Quantos mais exemplos precisam para perceber que a guerra é um embuste que não mais serve os interesses daqueles que lucram com ela?
Imaginem se nós, enquanto povo, finalmente aceitássemos que a guerra é uma farsa e que não estamos mais dispostos a suportar coisas como a NATO o que aconteceria a certas burocracias, certa indústria e “especialistas” que comentam nas TVs e jornais?

Guerra tem que continuar para todo o sempre, privilégios dependem dela.
Na mente dos pró-NATO nunca há paz, há sempre oportunidade para guerra e justificações absurdas para miséria humana que a sua adorada organização militarista produz.