Talvez assim, com testemunhos pungentes como o de Teresa São Miguel, se perceba melhor que a mais escrutinada de todas as prestações sociais (em média 3 ações de fiscalização por dia, entre 2015 e 2021) tem pouco ou nada que ver com a imagem que a direita, nomeadamente o Chega, mas também CDS e PSD, lhe tenta colar. O RSI abrange de facto situações sociais muito distintas, que não se esgotam nos casos - muito mais complexos e difíceis - de famílias desestruturadas e em que a pobreza se reproduz geracionalmente, com tudo o que isso implica.
Repetiremos, as vezes que for necessário, que o RSI responde às situações de maior pobreza. E que os seus beneficiários representam apenas 2% da população de um país com cerca de 2 milhões de pessoas em risco de pobreza (18%). Aliás, o RSI só abrange 11% deste universo de risco e apenas 1/3 do total de pessoas em privação material severa. Entre os beneficiários, 32% têm menos de 18 anos e 3,4% são idosos. Cerca de 11% trabalham e, ao contrário do retrato-robô traçado pela extrema-direita, apenas 3,8% pertencem à comunidade cigana. As verbas afetas ao RSI (cerca de 360M€ em 2018) representam 1,1% no total de despesa da Segurança Social (e 1,6% da despesa com prestações sociais). O valor médio mensal da prestação por família beneficiária rondava os 260€ no final de 2021.
O RSI é, na sua essência, um instrumento de inclusão que não se limita (nem se deve limitar) a «passar o cheque», antes requerendo um trabalho muito próximo de acompanhamento, orientado para a superação de obstáculos, problemas e dificuldades com as famílias (ao arrepio, portanto, de abordagens muitas vezes marcadas pelo paternalismo, caritativismo ou mesmo falta de empatia dos profissionais com as situações sociais em causa). E por isso do que menos precisa, quando as dificuldades de partida já são tantas, é da demagogia, da distorção e do oportunismo eleitoralista sem escrúpulos que a direita lhe dedica.
1 comentário:
Concorda-se com o artigo. Já não se compreende a não utilização de informação estatística oficial - que é um bem público?
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