quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Coisas óbvias


[U]ma cultura política em que a individualidade das pessoas não redunda em individualismo; em que a política é quase sempre quotidiana, porque não é exclusivamente tida como uma ciência ou uma arte maior, não se reduzindo ao parlamentarismo ou à conversa mediática. Uma cultura política que recomenda, em última instância, que, além dos programas e conteúdos ideológicos, prevaleça uma espécie de dever moral - que é também racional - de tomar partido pelo lado mais fraco de qualquer correlação de forças. 
28 de Janeiro 

A solução não passa pela demissão de Jerónimo de Sousa ou de Catarina Martins. É possível que Jerónimo de Sousa acabe, mais cedo do que tarde, por deixar de ser secretário-geral do PCP, ainda que certamente não o iremos ver abandonar a militância política a que quotidianamente se entrega faz décadas. É possível que o Bloco encontre outra coordenadora, embora neste país esteja para nascer à esquerda um líder que, praticamente por si só, tenha salvo um partido da extinção, como fez Catarina Martins na campanha eleitoral de 2015. Mas a esquerda não atalha a crítica à base de pedidos de demissão desta ou daquele indivíduo. 

As melhores coisas são óbvias, e também justas e fraternas, mas só depois de alguém nelas empaticamente ter pensado e de as ter escrito, nestes dois casos o historiador José Neves, com quem tenho aprendido muito sobre o passado, o presente e o futuro do comunismo em Portugal.

6 comentários:

Anónimo disse...

Agências de rating aplaudem maioria absoluta do PS.

Anónimo disse...

Parece estar mesmo lançado no Público um concurso para ver qual é o intelectual de esquerda que consegue imaginar o título mais insultuoso para comunistas e bloquistas: seja um apelo à demissão, evocando Delgado sobre Salazar, por Boaventura de Sousa Santos, seja o título da famosa polémica de Álvaro Cunhal com o esquerdismo, por Domingos Lopes. Alternativas, zero.
Com amigos destes...

Anónimo disse...

É preciso começar JÁ a discutir isto à esquerda, discutir a sério mas com calma - assumindo as semelhanças e as diferenças, óbvias ou não -, ainda sem eleições à vista (*):

https://www.dn.pt/opiniao/o-pcp-e-bloco-deviam-unir-se-14550723.html

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(*) Em 2024 haverá novas eleições para o Parlamento Europeu; em 2025 teremos novas eleições autárquicas; em 2026 será a vez das novas eleições presidenciais (em Janeiro ou Fevereiro) e
das novas eleições legislativas (em Setembro ou Outubro).


A. Correia

Jaime Santos disse...

Se a Esquerda quer manter rostos e estratégias, é lá com ela. Mas fazê-lo significa repetir aquilo que levou à derrota brutal de Domingo, esperando um resultado diferente.

Se aquilo a que almejam é uma vitória moral, é capaz de resultar. Va bene...

Anónimo disse...

Não concordo com a mensagem enviada por A. Correia. Esta mais parece uma mensagem transmitida pelo Rui Tavares da «Livre», ou seja, demonstrar trabalho, como se este não existisse.

Trabalho faz-se, como também luta e esforço. Não é preciso ter calma para isso; é apenas necessária determinação e constância, algo que existe no PCP e em todos aqueles que se reveem nesta força política.

Tanto «Livre» e «BE» precisam deste tipo de «stress» ou propósito para estar na política.
Propriamente luta ou esforço não trazem. Veja-se o caso de Isabel Pires do «BE» e aquilo que foi a sua atitude política ou sentido oportunista na votação contra a taxa de precariedade.
Quanto ao «Livre» e ao seu oportunista ou charlatão que agora está no lugar de Joacine Katar Moreira, muita água ou tinta há de correr até chegarmos à conclusão que ele mais não é do que aquilo que sempre foi, tanto nas suas votações do Parlamento Europeu, como aquilo que semanalmente escreveu ou escreve no jornal do capital (subserviente de Washington) «Público».

Anónimo disse...

"PCP e Bloco deviam unir-se?". A pergunta é feita por Pedro Tadeu no seu recente artigo do DN (*), logo após as eleições legislativas do passado dia 30 de Janeiro - em que o grupo parlamentar do PCP ficou reduzido a seis deputados e o do BE reduzido a cinco - e a mais de quatro anos e meio das próximas eleições legislativas.

Considera Pedro Tadeu que "PCP e Bloco teriam melhores hipóteses de preparar o seu futuro político, as lutas que aí vêm e a viragem da situação se começassem, seriamente, a TRABALHAR EM CONJUNTO [sublinhado meu] nas áreas onde têm uma visão semelhante para o país". Acrescenta que "deviam aprender a viver pacificamente e, até, a cultivar as muitas diferenças que têm" e que "lá mais para a frente essa convivência pacífica talvez devesse acabar, mas entretanto tinham-se salvo ambos da decadência e diminuído o impacto no país da ascensão da nova direita - a prioridade das prioridades".

Contudo, Pedro Tadeu não acredita que aquilo que considera desejável seja efectivamente possível. Termina assim o artigo: "Não vai acontecer. O rancor vindo do passado histórico e a desconfiança na lealdade recíproca parecem-me obstáculos intransponíveis".


A. Correia

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(*) https://www.dn.pt/opiniao/o-pcp-e-bloco-deviam-unir-se-14550723.html